terça-feira, 3 de julho de 2012

Descarrilou o rápido do Algarve!

Diz-se que o tempo é fautor de História (com maiúscula), porque só com o tempo se obtém o distanciamento necessário para melhor se ajuizar de causas e consequências. Por isso se hesita, por vezes, em fazer história dos nossos dias, sob pretexto de que ela… não existe!
Tenho procurado apoiar a poesia dita «popular» como significativo património cultural imaterial, a que, felizmente, ora se está a dar a importância que merece, pois aí ingenuamente se reflectem atitudes perante a realidade nossa contemporânea. Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia já o compreenderam e não serão poucas as que contam no currículo a edição dos seus poetas.
Permita-se-me, pois, que, na sequência do que escrevi na passada edição acerca do que terá sido o sentir português continental acerca da permanência de soldados para os Açores no decurso da II Guerra Mundial, eu evoque um outro episódio da minha infância.
Tinha eu nove aninhos e recordo como se fosse hoje: à entrada do mercado saloio de Cascais, uma senhora cantava um fado sobre o grande descarrilamento que ocorrera, na semana anterior, a 13 de Setembro de 1954, no rápido do Algarve.
Hoje, estudos feitos, vejo nela a continuadora dos jograis d’outrora; contudo, haverá alguém que tenha esses versos? Jornal algum da época os terá transcrito? E, com efeito, em versos quiçá de pé quebrado, aí se mostrava o pesar de todo um Povo perante o inesperado desastre que enlutara o País.
Há, evidentemente, alguns artigos já sobre o acidente. Vejam-se, por exemplo: a notícia «O descarrilamento do "Rápido" do Algarve», Gazeta dos Caminhos de Ferro, 67, 1 de Novembro de 1954, p. 305 e 309; e a evocação feita por Rogério Guinote Mota: «A tragédia do “Rápido” do Algarve», O Foguete (Revista da Associação de Amigos do Museu Nacional Ferroviário), 10, 3º Trimestre de 2004, p. 24-27. Contudo, esses versos dolentemente cantados expressaram, sem dúvida, um sentimento que os relatos ponderados e concretos nunca conseguirão transmitir!

                       Publicado no quinzenário Renascimento [Mangualde], nº 596, 01-07-2012, p. 4.

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