terça-feira, 2 de outubro de 2012

Livro sobre turismo, pretexto para verberar política governamental

           Mais de uma centena de convidados encheram a galeria de arte do Casino Estoril, no passado 27 de Setembro, Dia Mundial do Turismo, para participar na cerimónia de apresentação do livro de Licínio Cunha, Turismo em Portugal: Sucessos e Insucessos, publicado por Edições Universitárias Lusófonas, da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, em que o autor dirige a licenciatura em Turismo.
            Coube ao Prof. Silva Lopes – que foi, aliás, o prefaciador da obra – a apresentação formal do volume, que, como o título indica, historia, por décadas, o que foi mais de um século da actividade turística em Portugal, desde 1900 a 2009. Referiu-se Silva Lopes à actividade que o autor tem exercido neste domínio e sublinhou a acuidade da análise feita, tecendo oportunas considerações acerca do relevante papel que o turismo detém no desenvolvimento económico do País.
            Mário Assis Ferreira, administrador do Casino, usou da palavra não apenas para felicitar o autor e a sua iniciativa, mas também para mostrar como a política governamental em relação aos casinos não tinha consistência (focou, de modo especial, a proibição de fumar) e contribuía mui eficazmente para diminuir drasticamente as receitas do próprio Estado, receitas que, como repetidamente sublinhou, são, por força da lei, aplicáveis no incremento turístico.
            Manuel Damásio, administrador da Universidade Lusófona e que estava na mesa na sua qualidade de representante da editora do livro, referiu-se à personalidade do autor e aproveitou o ensejo para realçar o ensino de excelência que se procurava fazer na sua Universidade, numa perspectiva de aproximação estreita entre os países lusófonos.
            Licínio Cunha começou por explicar que era sua intenção fazer um livro diferente, mais pessoal, quiçá a relatar mais o que fora a sua experiência, mormente a nível governamental; mas, confessou, à medida que ia avançando na escrita, «o livro foi tomando conta de mim». «Não é, pois», asseverou, «um livro neutro nem acrítico e pode, por isso, suscitar saudável polémica». Relanceando o olhar sobre o que foi o sector do Turismo nos últimos tempos, não quis deixar de observar que haviam passado mais de 20 pessoas pelos cargos de Governo responsáveis por esse sector, o que necessariamente tornou bem mais difícil a governação e determinou deficiente traçar de estratégias válidas, porque os cargos eram ocupados durante pouco tempo e por quem pouco saberia do mester. «Perdem-se meios em experimentalismos de resultados duvidosos», afirmou, acrescentando: «Todos negam as obras uns dos outros. Há leis que se fazem, refazem e desfazem, sem que se vejam os seus resultados». E, ao comentar algum incremento turístico registado nos últimos tempos, sublinhou que essas correntes turísticas com destino ao nosso País não consagram o resultado de estratégias concertadas e bem pensadas; são, isso sim, a consequência das desgraças alheias, dos destinos que, por um motivo ou por outro, deixaram de ser momentaneamente apetecíveis.
            Com mais de 600 páginas, Turismo em Portugal: Sucessos e Insucessos constitui, pois, doravante, uma obra de referência, não apenas pela história que conta, mas sobretudo pela reflexão que pode e deve provocar.
            Recorde-se que Licínio Cunha foi Presidente da Junta de Turismo da Costa do Estoril e Secretário de Estado do Turismo (durante vários governos). A ele se deve, por exemplo, a realização do III Congresso Nacional de Turismo, na Póvoa de Varzim (03-07.12.1986), no ano em que se comemorava o Jubileu do Turismo Português, cujas actas foram publicadas pela Comissão Executiva do Ano do Jubileu do Turismo Português e pela Secretaria de Estado do Turismo: III Congresso Nacional de Turismo – Documentos, Porto, 1986. Publicou, entre outras obras da especialidade, Introdução ao Turismo, Lisboa: Editorial Verbo, 2001; Economia e Política do Turismo (McGraw-Hill de Portugal, Lisboa, Setembro de 1997, com nova versão em 2006, pela Editorial Verbo). Na década de 80, foi também um dos principais paladinos do ressurgimento do turismo termal no nosso País.

Publicado na edição de 1 de Outubro de 2012 do Cyberjornal: http://www.cyberjornal.net/index.php?option=com_content&task=view&id=17124&Itemid=67

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