quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Tomaram posse os corpos sociais da Misericórdia de Cascais

            Numa cerimónia ritual, envolta na dignidade que o acto merecia, ocorreu, na passada quinta-feira, dia 4, a partir das 17 horas, na igreja da Misericórdia de Cascais, a cerimónia de posse dos corpos sociais para o triénio 2013-2015.
            Colaboraram dois grupos corais – um formado por funcionários da instituição e outro, a Tuna Sénior dos centros de dia – que foram sublinhando a solenidade do rito, no intervalo entre cada uma das suas partes. Assim aconteceu no início e no final, bem como após a saudação e leitura de uma passagem do Novo Testamento pelo Prior, Padre Nuno Coelho, e a tomada de posse dos membros da Assembleia Geral, um momento alto, esse, assinalado por uma sentida «Ave Maria» brilhantemente cantada a solo.
O actor Ricardo Carriço disse as obras de misericórdia, após o que tomaram posse, sucessivamente, os membros da Mesa Administrativa e do Conselho Fiscal da Santa Casa assim como do Conselho de Administração e do Conselho Fiscal da Fundação Portuguesa para o Estudo e Prevenção e Tratamento da Toxicodependência, organismo umbilicalmente ligado à Santa Casa.
Tanto o Senhor Presidente da Assembleia Geral, Juiz Conselheiro Armando Leandro, como o Senhor Presidente do Conselho Fiscal, Professor Doutor Alberto Ramalheira frisaram, nos seus discursos, a importância do acto e o seu enorme significado nas circunstâncias presentes em que o serviço social, a que a Santa Casa se dedica, assume papel relevante e imprescindível no seio da comunidade.

Prescindir do mais ter para o mais ser
Tomando a palavra, a Senhora Provedora, Dra. Isabel Miguens, começou por sublinhar que, existindo em Cascais esta Santa Casa desde 1551, «a matriz da sua acção tem sido sempre, e ainda hoje, a mesma: cumprir as obras de Misericórdia», com vista à formação de «uma sociedade mais humanizada e inclusiva, centrada no homem, ser único, e na sua magnífica dimensão familiar».
            Dedica-se, pois, a Misericórdia de Cascais a um trabalho específico, centrado no sector social, que terá de ser «uma opção de partilha sistemática com a sociedade e com os seus representantes», «um compromisso assente na confiança», «diariamente, um acto de humildade perante as graves situações que se nos deparam», «um trabalho profissional, rigoroso, temperado também com o afecto dos voluntários», «determinante no enlace entre gerações».
A actual crise económico-social, acentuou, «é também uma crise de valores, que nos obrigará a todos […] a uma introspecção a que certamente a nossa geração não esteve habituada»: «Prescindir do mais ter para o mais ser é um exercício a que ninguém se poderá negar».
E depois de se referir às novas circunstâncias que tornam ainda mais complexa a actividade que a Santa Casa se propõe desenvolver – o galopante aumento da pobreza, a abrupta diminuição dos chamados direitos sociais, o envelhecimento cada vez maior da população, o assustador crescente número de desempregados… – frisou bem que as organizações do sector social sem fins lucrativos devem ser «socialmente lucrativas, exemplares nas competências, enérgicas nas funções, para potenciarem capacidades».

Apoio diário a mais de 4000 famílias
            Traçou, de seguida, um panorama da actividade que a Santa Casa hoje desenvolve com os seus 620 trabalhadores, no apoio diário a mais de 4000 famílias: cerca de 2000 crianças e jovens, em 14 estabelecimentos; 48 crianças privadas de meio familiar ao seu cuidado num estabelecimento fora do concelho; 340 adultos deficientes e mais de mil idosos em lares, centros de dia e de convívio, e em apoio domiciliário. Ajudam-se famílias necessitadas de intervenção especial, nomeadamente através da articulação dos programas de Rendimento Social de Inserção, e desenvolve-se um trabalho especializado na área das dependências e na sua prevenção, através da Fundação Portuguesa para o Estudo, Prevenção e Tratamento da Toxicodependência.
            Por isso, as actividades comerciais a que a Misericórdia se entrega (refira-se a farmácia e a loja do Bom Apetite, em Alvide, dedicada à venda de refeições confeccionadas) têm como fim exclusivo proporcionar alguma ajuda à sustentabilidade desse trabalho social.
Isabel Miguens saudou, mais uma vez, as entidades presentes, na medida em que toda esta actividade tem, a seu ver, de resultar necessariamente de uma acção colectiva: «Sabemos bem que os nossos dossiês são os maiores da Segurança Social!», declarou, e fez uma referência especial «aos voluntários que partilham a vida da Instituição e, sobretudo, amenizam o dia-a-dia daqueles que servimos».
Concluiu, apontando as metas a atingir:
– Consolidar o trabalho em curso;
– Qualificar as áreas consideradas socialmente mais frágeis, através de um maior empenho na formação;
– Reforçar, através da Irmandade, o enlaçamento da comunidade do concelho com a Misericórdia e da Misericórdia com a comunidade;
– Pedir, pedir todos os dias o apoio dos voluntários;
– Apelar ao apoio do tecido empresarial, através de um reconhecimento mútuo e parcerias.
– Criar pequenas áreas de negócios, que garantam a sustentabilidade dos programas sociais.
– Trabalhar diariamente na motivação da sociedade para os problemas dos mais frágeis.
– Ser motor de mais e mais emprego.
– Ajudar o Estado a definir as suas funções e os seus limites.
E garantiu que «a Santa Casa da Misericórdia de Cascais continua disponível, como até hoje, para fazer parte da solução e da esperança, estando os seus órgãos sociais determinados a trabalhar muito para alcançar esse objectivo».
            Os oradores seguintes – Presidente da União das Misericórdias Portuguesas (Manuel Augusto Lopes de Lemos), o Secretário de Estado da Segurança Social (Dr. Marco Almeida Costa) e o Presidente da Câmara (Dr. Carlos Carreiras) – afinaram todos pelo mesmo diapasão positivo, da esperança, na promessa da maior colaboração. O Sr. Secretário de Estado, num vibrante discurso improvisado mas prenhe de significado, reconheceu quão difícil é trabalhar com o Presidente da União das Misericórdias, dado o seu elevado espírito crítico e a sua tenacidade, e comprometeu-se, por exemplo, a dar o mais rápido andamento à assinatura do protocolo referente à creche da Pampilheira. E o Sr. Presidente da Câmara deu a entender que rapidamente se resolveria também um problema candente e da maior preocupação para a Santa Casa, que é o processo referente ao Plano de Pormenor do local onde esteve a praça de touros.
            A igreja da Misericórdia foi pequena para conter a pequena multidão dos que desejaram associar-se ao acto, entre os quais registamos a presença da vice-presidente da Assembleia da República (Teresa Caeiro); da presidente do Instituto da Segurança Social (Mariana Ribeiro Ferreira); do deputado Dr. Ricardo Leite; de autarcas e antigos provedores; de Mário Assis Ferreira, ainda na sua qualidade de Presidente do Conselho de Administração da Estoril-Sol; de João Cordeiro, da Associação Nacional de Farmácias; de jornalistas da Comunicação Social local – para além de muitos trabalhadores da instituição.

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