terça-feira, 1 de setembro de 2015

Comparações sempre odiosas

            Costuma dizer-se que as comparações são sempre odiosas, em todos os campos em que elas se apresentem.
            Na educação familiar: a comparação entre os irmãos feita pelos pais, sobretudo se na presença dos filhos em apreço e perante outras pessoas constitui erro em que amiúde se cai, por mais que se diga (e esta é uma comparação boa!) que filhos são como os dedos da mão: todos diferentes, independentemente de terem (dizem os pais…) a mesma educação.
            Na escola: aos professores se explica ser a emulação uma prática saudável. A usar, porém, com conta, peso e medida, para que, por exemplo, o urso da turma não venha a ser alvo de mui invejosa chacota.
            Na política. A cada passo a comparação vem à baila e, agora, em tempo de campanha eleitoral, quem há aí que resista a comparar? E quem, por outro lado, não chega, alfim, à excelente conclusão de que… não há comparação possível, porque é tudo igual?!...
            Agosto e Setembro são, porém, os meses ideais para comparações odiosas e inoportunas. Estás à mesa, a saborear apetitosa salada serrana, orégãos quanto bastem, folhinha de hortelã, tomatinho bem temperado e carnudo, o pimentinho usado a preceito… E o companheiro de mesa: «Ali na Galiza é que vocês haviam de ver! Aquilo é que são saladas! E os pimentos de Padrón?». E o senhor desdobra-se na descrição pormenorizada, de água a crescer-lhe na boca… Ora bolas! – digo eu. – Já esta salada serrana não me está a saber bem. Importas-te de te calar?
            Lindo, este passeio pelas portas de Ródão. As garças nas margens, a vigilante colónia de grifos alcandorada nos penhascos altaneiros, ali mesmo onde o rio Tejo se estreita e nós louvamos a Deus pela beleza proporcionada… «Ah! Mas vocês haviam de ver! O passeio no Delta do Danúbio com almocinho de peixe a bordo! Aquilo é que é maravilhoso! Aves de todos os jeitos e feitios! Um outro mundo!...». Ora bolas, amigo! Importas-te de admirar os grifos?

                                                             José d’Encarnação

Publicado no quinzenário Renascimento (Mangualde), nº 668, 01-09-2015, p. 12.

O  rio Tejo nas Portas de Ródão

Instantâneo de passeio pelo delta do rio Danúbio
 

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