quinta-feira, 25 de maio de 2017

O prémio da Associação In Loco

             Cumpre congratularmo-nos com o prémio «Dryland Champions 2016» atribuído, pelo segundo ano consecutivo, pelas Nações Unidas, à Associação In Loco, criada, há 28 anos, em S. Brás de Alportel.
            Assim se galardoa o esforço feito, em conjunto com a população e outras entidades, no combate à desertificação, um dos problemas mais graves que todos estamos a sentir, não apenas no Algarve mas em todo o País e, por mais que os políticos, nas campanhas eleitorais, prometam mundos e fundos no sentido de o solucionar, quando eleitos, depressa as promessas são esquecidas. A In Loco, porém, sem grande alarde, lá vai fazendo o seu trabalho de sapa, com mui evidentes êxitos, inclusive aliciando para o seu âmbito as camadas mais jovens da população.
            Tem sido preocupação da In Loco a promoção de hortas urbanas em terrenos devolutos, onde se inicia a prática de uma agricultura ‘biológica’, ou seja, sem recurso a produtos químicos, que fazem crescer depressa, mas, no final, não logram sugar da terra os ingredientes que mais os deveriam enriquecer do ponto de vista alimentar.
            Outra das actividades que muito apraz registar é a organização de mercados locais, onde, felizmente, a população começa já a acorrer, porque compreende a diferença de sabor entre uma folha de alface das grandes superfícies e a que resulta de uma horticultura «sem químicos», à maneira tradicional.
            Assim, com o exemplo, se criam novos hábitos, se mudam mentalidades, se começa a olhar com outros olhos para esta nesga de terreno sedenta de produzir e que os proprietários deitaram ao abandono…
            Caminhava, outro dia, junto ao leito de uma ribeira. Uma senhora aí dos seus 60 anos ajeitava a terra junto aos loureiros, que lhe bordejavam o terreno, pelo aspecto, lavrado há já bastante tempo. Meti conversa:
            ‒ Preparando a sementeira, não, vizinha?
            ‒ Ná! Hoje já não se assemeia nada, senhor!
            No 1º de Maio, a caldeirada foi, como de costume, no barracão de uma horta. Havia umas alfaces, cebolo, alhos, um canteiro de coentros…
            ‒ Então e batatas, amigo Manel, está no tempo delas!
            ‒ Dão muito trabalho! Fica muito mais barato ir comprá-las à mercearia ali, sem estar com preocupação de regar, de pôr produto contra a moléstia… Deixei-me disso!
            A In Loco não deixa. E, por isso, está de parabéns!

                                                               José d’Encarnação

Publicado em Noticias de S. Braz [S. Brás de Alportel] nº 246, 20-05-2017, p. 11.

1 comentário:

  1. Erros nossos pecados antigos - voltemos à realidade, caro Zé Manel! Belo exemplo aqui deixado. abraço Edgar

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