segunda-feira, 5 de novembro de 2018

A força de um «bem-haja!»

             Ia a escrever «obrigado!», mas desisti. Por dois motivos: primeiro, «bem haja!» é mais português, bem do nosso interior beirão, genuíno, o voto de que, em reconhecimento de um gesto, auguramos que, doravante, o nosso amigo esteja bem tudo de bom lhe aconteça; depois, porque deram, hoje, em considerar «obrigado» um adjectivo e, por isso, mulher tem de agradecer «obrigada!», como se agradecer fosse… obrigação! Não é ‘obrigação’, é delicadeza, é… atitude de cidadania, como hoje se proclama!
            Já me atrevi a escrever sobre este tema, em crónica de 16 de Julho de 2009, no Jornal da Costa do Sol; contudo, senti a necessidade de o abordar de novo, perante o desabafo de um amigo:
            – Imagina! Passaram uma esponja sobre mais de cinquenta anos da revista! Esqueceram fulano e sicrano e beltrano, que, gratuitamente, durante anos e anos, a mantiveram de pé e lhe deram credibilidade a nível nacional. Assim, de um momento para o outro, atiraram todo o passado às malvas e… também quem lhe agarrou o leme nem sequer viveu esses anos, nada sabe deles!...
            E não seria este desabafo o suficiente para me decidir no tema, se não fora ter recebido antes um outro:
            – Já viu? Fui eu quem, contra tudo e contra todos, ousei iniciar a revista, que hoje tem pergaminhos e reconhecimento internacional. Mudei de instituição e que vejo? A revista sai, com novo director, e… nem uma palavra sobre quem a criara!...
            Admiro, pois, os jornais que, como o nosso, ostentam na ficha técnica de cada número o «Arquivo de honra», onde figura logo à cabeça, como FUNDADOR, o nome do Dr. José Henriques Pereira Júnior. Outro jornal em que escrevo, o Costa do Sol Jornal, com apenas seis anos de vida, também não esqueceu o seu fundador, já falecido, cujo nome também figura, em lugar de relevo, na ficha técnica. Já do Expresso nada se diz, ainda que certamente seja difícil esquecer que foi Francisco Pinto Balsemão, hoje administrador da empresa, que o fez nascer em 1973. Do Diário de Notícias perde-se na noite dos tempos o nome de Eduardo Coelho, que o fundou em 1864; também se não menciona o de Vicente Jorge da Silva, primeiro director do Público, que teve em 5 de Março de 1990 a sua 1ª edição…
            Começa com «Demos graças ao Senhor nosso Deus» o cânone da missa católica; escreveu Merlin Carothers Puissance de la Louange, onde tece rasgados encómios ao extraordinário poder que tem o reconhecimento. Um poder que sentimos no dia-a-dia, mesmo que apenas patente na doce expressão dum olhar ou na força de mui singelo aperto de mão.

                                                           José d’Encarnação

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 741, 01-11-2018, p. 12.

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