sábado, 29 de setembro de 2012

Andarilhanças 55

Saber Geografia
            Pasmo quando, ao falar com um(a) operador(a) de centrais telefónicas de empresas implantadas a nível nacional, me perguntam, por exemplo, Cascais em que distrito fica? Ou me sugerem, como mais perto, a loja que está nas avenidas novas em Lisboa, quando sou capaz de ter uma num dos centros comerciais que pululam por este concelho…
            Compreende-se: a menina ou o menino estão, mui provavelmente, nos arredores do Porto, não têm acesso, no seu computador, a mapas hoje tão facilmente consultáveis…
            Em nota enviada à imprensa pela Divisão de Comunicação e Relações Publicas, a 6 de Julho, p. p., informou-se que o Senhor Presidente iria estar presente na inauguração da Unidade de Cuidados Continuados Maria José Nogueira Pinto. Para a localizar, seguindo certamente informação veiculada pelos serviços da Misericórdia de Lisboa, que pouco saberão de Cascais, escreveu-se que o empreendimento estava «na Aldeia do Juzo de S. Gabriel, na Rua Chesol, em Alcabideche»!...
            Era difícil cometer mais asneiras em frase tão curta!
A Unidade – que, por sinal, ao que consta, foi inaugurada mas não funciona – está localizada em plena freguesia de Cascais, onde foi a Standard Eléctrica, ou seja, no Mato Romão (como o Povo conhece a zona) ou em S. Gabriel (como foi chamado depois da instalação da fábrica, em homenagem, quiçá, ao arcanjo das comunicações…). A entrada faz-se pela Rua Chesol, já no Bairro da Chesol, que pertence à Aldeia de Juso.

«Já encontraste o teu amor?»
            14 de Setembro, sexta-feira, 12.15 horas. Carruagem quase vazia. A senhora inicia o telefonema logo após o comboio partir:
            – Então, já encontraste o teu amor?
            Assim. A matar!
           Ouvia-se perfeitamente a conversa toda. Claro, a do lado de cá. A do lado de lá imaginava-se. Drama sentimental de todo o tamanho. «Tu é que andas atrás dele!». Depois desta frase fiquei baralhado: pensara tratar-se de amor não correspondido por parte de um homem e, se calhar, era: ela teria sido trocada por um ele? Deste lado, frases de despeito, de incitamento a uma resolução que tardava, apesar das muitas juras de amor. Antes de Parede, já a conversa acabara. Abruptamente. Um drama mesmo!

«Serviços prestados»?
            Fui um dos que sofreram na bolsa com a ordem governamental de caçarem multas a todo o custo, nos 50 metros antes dos semáforos na subida de Cascais para o Monte. Cidadão comum não percebe porque há-de haver ali aquela limitação de velocidade, a não ser para, de vez em quando, se armar caça à multa.
Passou-me recibo o senhor agente. Recibo de «pagamento serviços prestados»! «Serviços prestados» uma ova! Multa é o que foi! A mim não me prestou serviço nenhum, a não ser o de me multar e esse ‘serviço’ bem o dispensava eu! Mas… se me prestou serviço, também vai descontar para a Segurança Social?

Direcção centro
            Ainda que mal pergunte: por que razão, em Cascais, na Rotunda Dr. Canas da Mota, se sugere a direcção do centro da vila pela Avenida Infante D. Henrique, quando seria mais directo descer a Joaquim Ereira? Ou poderiam indicar-se as duas alternativas, não?

Jornais em Cascais
Ao rever a minha colecção de números 1 é que me dei conta da quantidade de títulos de jornais em Cascais, nas últimas décadas.
O primeiro Jornal de Cascais, por exemplo, nasceu a 29 de Setembro de 1929 e foi seu director o Dr. Alberto Madureira; manteve-se em publicação até 1939. O 2º nasceu quase 40 anos depois, a 11 de Setembro de 1969, quando o seu proprietário, o Dr. Evaristo Farelo, teve um conflito com Rui Mendes, então director do jornal A Nossa Terra. Nuno Vasco, jornalista que também começou no A Nossa Terra, acompanhou-o e quando Evaristo Farelo, por não ter garantido a publicação durante um ano, perdeu legalmente o título, Nuno Vasco chamou-o a si bastante mais tarde: o seu primeiro número saiu com data de 1 a 15 de Dezembro de 1981. Esse foi, por conseguinte, o 3º Jornal de Cascais, que teve vida efémera. Tem, pois, entre mãos, amigo leitor, o 4º Jornal de Cascais!

O novo empreendimento trará reconciliação?
            Prosseguem, a ritmo lento, as obras de demolição do vetusto Hotel Atlântico, no Monte Estoril, cujas paredes ressumam histórias e tradição. Já vi maqueta do novo projecto que, a exemplo, das Três Parcas que lhe ficam a poente, vai ter nome pomposo: «Atlântico Estoril Residence», ora toma! Não fica no Estoril mas é como se ficasse. Garantem vozes autorizadas do Município que está prevista «a possível inclusão de uma rotunda em frente ao edifício», «com o objectivo de fazer fluir o trânsito da Marginal e facilitar as entradas e saídas para a nova unidade e também para o Monte Estoril». Não gosto muito do «possível», mas… será desta vez que os técnicos camarários optam pela reconciliação? É que, senhores, há muito que de Cascais se não pode ir até ao Monte, de carro, pela marginal! Uma vingançazinha para que o Monte não suplantasse Cascais?!... Mas isso foi polémica de casinos, meninos, já lá vai um século! Que temos nós a ver com isso agora? Vá lá, sejam coerentes!

Publicado em Jornal de Cascais, nº 322, 26.09.2012, p. 6.

 

 

 

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Convite em cortiça

            Numa altura em que, corações sangrando, almas esventradas perante o cenário a fumegar e a cinza a atapetar o chão e a alevantar-se triste soprada pela aragem… o convite do Senhor Presidente da Câmara para a Feira da Serra deste ano chegou, de novo, exemplarmente feito em cortiça.
            De um lado, encostas afora, o eco do choro pelos sobreirais queimados, perdidos para sempre – como se diz que o são as almas penadas no Além; do outro, um grito não menos lancinante, escrito com sangue mas com esperança: vamos renascer das cinzas e a tradicional Feira da Serra será mui excelente pretexto para tal!
            Parece profética a escolha do tema: o chapéu! Chapéu para aconchegar a cabeça, para a alindar e mostrar a personalidade de quem o usa... E brincou-se com o concurso de chapéus, tendo bem no íntimo a certeza de que um haveria, universal e irremediavelmente recusado: aquele, sinistro, negro, safado, que bem quadrava na cabeça de quem esteve na raiz do crime. Essa cabeça, ficou desde logo claro, dificilmente se encontraria. E o relatório elaborado por comissão de peritos (!) tudo contou (garantem…) tintim por tintim: como começou, como se combateu, como não se combateu, quantos homens, quantas viaturas, quantas casas, quantos hectares… Sim: quantos, quantos… No fumo intenso, porém, desapareceu a mão traiçoeira, o gesto sacrílego, o remorso inexistente…
            Todavia, houve um convite em cortiça que ficou: convite para a Feira e, sobretudo, convite para «Renascer das Cinzas»! Tem de ser!

[Publicado em Notícias de S. Braz (S. Brás de Alportel), nº 190, 20 de Setembro de 2012, p. 15].

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Saudades de Luiz Goes

            Partiu o Luiz, no passado dia 18. Já de algumas largas semanas a esta parte que esperávamos o desenlace, pois que dificilmente resistiria à infame turquês da doença que o aprisionara.
E deixou-nos uma enorme saudade. Não apenas da sua voz potente, que proclamava como ninguém «É preciso acreditar!», que convocava o «irmão» para cantar, para dar as mãos, para lutar… Saudades da Pessoa (sim, com letra maiúscula) que sempre soube ser, amigo do seu amigo, companheiro indefectível, solidário, disponível.
Não mais o verei saltar da cadeira do restaurante aqui do bairro onde, de vez em quando, vinha almoçar. De braços abertos, avançava ao meu encontro para um forte abraço fraterno e jovial: «Como vais, rapaz? Que prazer ver-te!». Fomentava a Amizade, cimentava-a.
Nasceu em Coimbra (1933), em Coimbra se formou em Medicina Dentária (profissão que sempre exerceu), mas desde cedo demandou Lisboa e era um dos mais ilustres munícipes de Cascais. Aliás, atribuiu-lhe a Câmara Municipal a Medalha de Mérito Cultural; o TEC tem, no seu mural do Mirita Casimiro, a placa rósea com a sua assinatura, ali afixada por ocasião da comemoração dos seus 70 anos (5 de Janeiro de 2003), porque – tal Carlos Carranca, a cujo grupo pertencia –  o Luiz sempre fez a ponte entre Cascais e Coimbra, entre os antigos estudantes da Lusa Atenas que, como ele, se instalaram na capital e arredores. Carlos Carranca publicara, de resto, em 1998, uma biografia sua: Luiz Goes de Ontem e de Hoje.
Enquanto recordamos o Amigo, o Poeta, o Cantor, o Homem, não podemos, porém, deixar de verberar os tempos que estamos a viver. Morreu em Mafra o Luiz. Longe, pois, de todos os ambientes por onde fora semeando o seu génio. E porquê? Porque só em Mafra, depois de muito procurar, houve uma cama disponível para o receber! Mal vai, na verdade, o nosso Serviço Nacional de Saúde; mal vão as casas de cuidados continuados que se inauguram e não abrem ou, se abrem, têm preços incomportáveis para o bolso do cidadão normal.
Diligenciava-se para que a Luiz Goes fosse outorgada uma tença ou algo de semelhante, por parte da Secretaria de Estado da Cultura, atendendo aos brilhantes serviços prestados à Cultura Portuguesa (recorde-se que foi condecorado com o grau de Grande Oficial de Ordem do Infante Dom Henrique, teve a Medalha de Ouro da Cidade de Coimbra e foi galardoado, em 2005, com o Prémio Amália Rodrigues). Nada foi possível. E Luiz Goes não resistiu, à sombra do convento…
Houve missa de corpo presente, hoje, dia 19, em Coimbra, na Igreja de Santa Cruz que tantas vezes cantou e que tão prenhe está da tradição coimbrã. Repousarão os seus restos mortais no jazigo da família de Manuel Portugal, enquanto se espera que seja aceite a proposta de virem a repousar no Panteão Nacional de Santa Cruz.
Luiz, uma coisa tu bem sabes: não te esqueceremos! Descansa em paz, Amigo e Lutador!

Publicado na edição de 20 de Setembro de 2012 do Cyberjornal:

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Exposição de escultura dinamiza Cidadela

            Por iniciativa de uma das lojas sediadas no espaço comercial da Cidadela de Cascais, a Work.Ink, inaugurou-se no passado dia 13 uma exposição de peças escultóricas em pedra (mármore e basalto) e bronze, da autoria de Mathias Contzen, mostra que ali estará patente até 18 de Novembro.
Natural da Alemanha (1964), Mathias Contzen cursou Arquitectura na Academia de Belas Artes de Trier (1987), e está radicado em Cascais há 15 anos. O seu trabalho “Duas Bailarinas Seduzindo o Rei" foi galardoado, em 2002, com o prestigiado Prémio City Desk, outorgado pela Fundação D. Luís I, em colaboração com a City Desk.
Subordinada ao tema «My Pocket Universe», como se o artista quisesse pôr no bolso o Universo, dando largas à sua imaginação e convidando-nos a passear não apenas pela antiga praça de armas da Cidadela mas também por um dos corredores da nova pousada e, até, no cimo da escadaria que dá acesso ao caminho de ronda, a exposição integra 25 peças, de excelente confecção e mui agradáveis de se ver, perfeitamente enquadradas, aliás, na serenidade acolhedora da moldura arquitectónica envolvente.
            Bem simpático convívio num final de tarde como voltaram a ser os finais de tarde do bonançoso Setembro cascalense e não nos admiraria se el-rei abrisse sorrateiramente uma das janelas do seu palácio fronteiro para espreitar o que se passava!... Por volta das 19 horas, o conhecido saxofonista de jaze Mark Cain deliciou-nos com algumas das muitas músicas do seu repertório, que bem se adequava, portanto, ao evento que estávamos a viver.
O espaço da Cidadela revelou-se, pois, mais uma vez, extraordinariamente sugestivo para realizações deste tipo e bem será que os cascalenses depressa se reconciliem com um conjunto monumental que estavam habituados a ver como interdito.



Parabéns a Mathias Contzen! Felicidades para a Work.Ink.

Publicado no Cyberjornal, edição de 16-09-2012:

«Em que estás a pensar?»

            Certamente quem inventou o facebook, reflectiu muito antes de inserir no mural de cada um dos seus adeptos, logo à partida, quando a ele se acede, a pergunta «Em que estás a pensar?». Acredito que sim; duvido, porém, que essa questão nos tenha provocado já a reflexão que ela merece.
            De facto, no dia-a-dia, quando vemos alguém pensativo e lhe fazemos essa pergunta, o mais normal é recebermos como resposta: «Nada! Não estava a pensar em nada!». E das duas uma: ou estava a pensar em algo que não quer revelar; ou, de facto, nem consciente estava daquilo em que estava a pensar! E esse é um dos aspectos mais interessantes em que importa reflectir: somos senhores dos nossos pensamentos? Comandamos nós, a todo o momento ou com muita frequência, a nossa mente? O mais normal é respondermos que não – e se a pergunta do facebook contribuir para que, doravante, dominemos mais o nosso pensar será obviamente um bom serviço prestado.
            Não basta pensar: é preciso dominar o nosso pensamento e encaminhá-lo para aspectos positivos! Escreveu Emmet Fox (Le Sermon sur la Montagne, Paris, 1974, p. 78): «Nós escrevemos a história futura da nossa vida com os nossos pensamentos de hoje». E, por isso, sugere, mais adiante (p. 88): «Pensemos bem e tarde ou cedo tudo vai correr pelo melhor».
            Escusado será dizer quão importante é adestrarmo-nos nessa técnica quotidiana de «plantar orquídeas no jardim do pensamento», como sugere Joseph Murphy (La Prière Guérit, 10ª edição francesa, 1984, p. 102), em vez de nos demorarmos em ideias tenebrosas, do género de «Eu não sou capaz», «Tudo me corre mal», «Isto é uma desgraça pegada»… Se pensarmos sempre que não somos capazes, nunca seremos capazes mesmo!...
            O pensamento é, de resto, o único «sítio» onde só nós podemos entrar, ninguém mais! E podemos moldá-lo à nossa maneira, de uma forma sempre positiva. «Um eminente mestre oriental de Filosofia, andando pelas ruas de Londres, ao entardecer, viu um pedaço de corda e imaginou que era uma serpente; ficou transido de medo! Quando se apercebeu do engano, a imagem da corda provocou nele uma resposta emocional completamente diferente» – é ainda Joseph Murphy que o conta (p. 85).

Publicado no quinzenário Renascimento (Mangualde), nº 600, 15-09-2012. p. 4.

Noite e dia, sequência irreversível…

             Assim o Poeta: senta-se no seu colo, todos os sentidos bem despertos e… deixa-se inebriar de sons, da luz e da sombra, das gentes que seus dias cruzam.
            De dia, os olhos abertos; de noite, o reino do sonho a perlar de maravilhas a realidade mortífera.
            O Dia – A Noite – O Dia (Fólio Exemplar, Lisboa, Junho de 2012, ISBN: 978-989-8382-06-1), de António Salvado: 20 páginas, 24 instantâneos – pinceladas tersas de um quotidiano vivido.
            A noite, «insondável estreita porta aberta / que mal ultrapassada logo encerra» (p. 15) – e há espaços entre as palavras, para nós pararmos em reflexão. A Terra, este «singular planeta onde a morrer se nasce, onde a nascer se morre» (p. 16) – e é verdade! Noite para pensar no que sou: «o recôndito agraz húmus d’o tudo / que é o nada de um elo a que estou preso» (p. 17). Noite que se apresenta com «descanso merecido após horas e horas de dureza» e que poderia ser vista, afinal, como «a fonte da qual água corria / e a esp’rança se vestia de tom verde».
            Ultrapassa as quatro dezenas a obra poética do Dr. António Salvado, albicastrense dos quatro costados.
            O Dia – A Noite – O Dia constitui pausada meditação – a fim de, na mesinha de cabeceira, servir de embalo fecundo para a macieza da noite.

Publicado no semanário Gazeta do Interior [Castelo Branco], nº 1239, 12-09-2012. p. 14.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Andarilhanças 54

Santos Manuel
            Deixou-nos a 29 de Julho. Para mim, será sempre a figura do eterno D. Quixote, de Yves Jamiaque, que tão bem incarnou em 1967. No palco e na vida real.
            Que descanse em paz!

«Flagrantes da vida real»
Vai entre aspas, porque é título consagrado nas Selecções do Reader’s Digest. Sempre me deliciaram. Estes não lhes chegam aos calcanhares; mas não é pecado imitar, tantos são os casos do dia-a-dia que nos tocam. Por exemplo:
Dois adolescentes, piscina do Tamariz.
            3 metros e 10. Meu pai consegue saltar e bater com os pés no fundo!
            Pai-herói. Oxalá assim se mantenha vida afora

Buzinadelas
            Cascais, 10 horas de 4-8-2012. Na passadeira da Marginal frente à estação dos correios, a senhora com grandes dificuldades de locomoção, resultantes, quiçá, de um AVC sofrido, ainda estava a meio quando o sinal vermelho caiu. Os dois condutores da frente não arrancaram enquanto a senhora não atingiu o passeio; um dos condutores da 2ª fila não perdeu, porém, a oportunidade de… buzinar! Assim, vai ter de certeza um AVC mais dia menos dia.

Fiartil
            Jantar na Fiartil a 17 de Agosto. Noite de fado com Ana Laíns, que cativou, em sugestivo cenário lusófono. Bastante público, Apesar de não se ter visto publicidade por aí, ficando-se com a ideia de que, afinal, só Festas do Mar e festival no hipódromo é que carecem de promoção (inclusive no rodapé dos e-mails camarários, imagine-se!... E as Festas do Mar mesmo bastantes dias depois de terem acabado!...), a Fiartil vale por si, mesmo que as instâncias oficiais a tratem como parente pobre.
            Tenho pena, obviamente, que já não seja do nosso artesanato. Mantiveram-se as louças do Redondo e S. Pedro do Corval, mas sem oleiros; os tapetes de Arraiolos, mas sem tecelãs. O resto, quase tudo, «artesanato» urbano. Outras mentalidades imperam, para quem o País é a Grande Lisboa e… ponto final!

Ar condicionado… condicionado!
            22 de Agosto de 2012, 17.45 h. Comboio de Cais-do-Sodré para Cascais. Três passageiras queixam-se ao revisor (que passou por alturas de Carcavelos). Não havia leque que abrandasse a caloraça que se sentia na carruagem. O revisor respondeu evasivamente, dando a entender que o ar condicionado estava avariado nessa carruagem. Uma das senhoras garantia: «Pois é, isto agora é dia sim, dia sim, sempre avariado». Alguém sugeriu ao lado ser essa a ordem superior: «Ar condicionado carruagem sim, carruagem não». «Pois é», retorquiu a passageira», «para poupança, tá visto! Nas nós é que pagamos o passe!».

Águas de Cascais
            Se se liga para as roturas, caso não haja uma rotura em acção que logo nos é explicada, é muito raro que alguém atenda antes de a chamada cair. Se se liga para o geral, dão-nos musiquinhas de xilofone e, de minuto a minuto, chega uma voz «A sua chamada encontra-se em fila de espera, se pretende aguardar, seleccione a tecla 1». Claro que vem logo também a hipótese de enviar mensagem por correio electrónico, etc... Na quinta-feira, 23 de Agosto, no começo da noite, estive um quarto de hora para ser atendido; mas… fui!

Ibiza, Miami
            10.45 h, 24-08-2012. Na piscina, os preliminares para o estender-se na espreguiçadeira para o acariciar quentinho do Sol. E dizia o senhor (vi depois que se dirigia a uma senhora, pois estava a ouvi-lo de baixo, enquanto nadava):
            – Tinha uma que comprei em Ibiza. Esta comprei-a em Miami… Material muito bom, muito bom.
            Ao sair da água, ainda tentei descobrir que preciosidade seria que Portugal não tinha. Não consegui.


 Publicado em Jornal de Cascais, nº 321, 12.09.2012, p. 6.