No quadro do XI Congresso
Internacional de Reabilitação do Património
Arquitectónico e Edificado que
brilhantemente foi organizado na vila de Cascais e que lhe valeu, também por
isso, ter sido eleita para sede europeia do CICOP (Centro Internacional para a
Conservação do Património),
realizou-se na sexta-feira, 13, durante todo o dia, na sala da música do Museu Condes
de Castro Guimarães, o seminário «Património e Turismo Cultural, um binómio indissociável?
– Um tema de reflexão», coordenado pela Dra. Simonetta Luz Afonso.
Assistiram cerca de vinte congressistas – haja em vista que as sessões
eram simultâneas e se distribuíram por diversos locais.
Coube à coordenadora abrir a sessão, invocando três acontecimentos que, em seu entender, deixaram profundas marcas a mostrar que o investimento na Cultura
contribui eficazmente para melhorar a imagem do País e, consequentemente, se
deve assumir como indispensável e não menosprezável factor de crescimento económico:
a Europália, realizada na Bélgica, em 1991, com Portugal como país-tema; Lisboa,
Capital Europeia da Cultura (1994); e a Expo’98. Em todas elas, Simonetta Luz Afonso
teve intervenção importante, como se
sabe. Referiu, a título de exemplo, que data dessa década o interesse pela
arquitectura de museus e o despertar
da necessidade de haver preparações específicas dos agentes turísticos na área
cultural, dado que, ainda que não se deva pensar em construir um mundo para o
turismo, o certo é que 40% dos visitantes de Portugal vêm cá por motivos
culturais e hoje, em que pode trabalhar-se em qualquer parte do mundo e, por
outro lado, os turistas gostam é de sentir o viver da população local, a atenção
das entidades governamentais e dos operadores turísticos tem de ter em conta
essas vertentes.
António Lamas
– que preside à Sociedade Parques de Sintra, Monte da Lua, S. A., uma empresa
criada em 2000, de capitais exclusivamente públicos e que não recebe contribuições
do Orçamento do Estado – deu conta de como é gerir, equilibradamente, os
recursos ao seu dispor. Referiu que, se um turista pensa estar 3 dias em
Lisboa, reserva um para ir a Sintra; por isso, há que proporcionar-lhe aliciantes e isso se está a fazer, nomeadamente após
se terem reabilitado a Casa de Monserrate, o palacete da Condessa de Edla, vários
outros edifícios em ruínas e, de modo especial, o espaço envolvente: identificaram-se,
por exemplo, 53 000 espécies arbóreas!... Acentuou que um dos segredos
estava na atenção dada às pessoas, à
motivação incutida nos seus funcionários
e colaboradores, em que se incluem reclusos e jovens das CERCIs e, na central telefónica,
pessoal de mobilidade reduzida. Registe-se que todas as obras e, inclusive, as
escavações arqueológicas efectuadas estiveram abertas ao público, como motivo
de atracção.
Andreia Aires de Carvalho Galvão e
José António Ribeiro Mendes apresentaram a rota dos mosteiros portugueses património
da Humanidade: Jerónimos, Alcobaça, Batalha e Convento de Cristo. Andreia
Galvão falou muito depressa, apresentou generalidades e da sua intervenção ressalte-se a importância de se produzirem conteúdos
válidos para acompanhar essas visitas. Ribeiro Mendes, por ser da área das TIC
(Tecnologias de Informação e
Comunicação), hoje na moda, dissertou
sobre o papel da Internet, designadamente porque muito se faz através da
informática e, antes de partir para um destino, o turista é capaz de o visitar
virtualmente; daí, de novo, a relevância que há em fazer uma boa gestão dos conteúdos
a disponibilizar. Sublinhou que, de acordo com as estatísticas, disponíveis,
33% dos turistas se deslocam por terem consultado a Internet, 25% devido à
publicidade boca a boca, 14% para rever sítios já anteriormente visitados e apenas
17% por acção de agências de
viagens. No caso desta rede mosteiros, o slôgane poderia ser «mil anos de
sabedoria» a descobrir! Na verdade, o viver uma experiência constitui cada vez
mais um atractivo a fomentar.
De tarde, Manuel Sande e Castro
Salgado relatou a feliz experiência em curso no Bairro da Mouraria em Lisboa,
um programa de desenvolvimento comunitário
que está a dar excelentes frutos. Sob o mote «Há vida na Mouraria!», são quatro
os eixos em que o programa se
desenvolve: «revitalização do tecido económico local; melhoria da qualidade de
vida dos idosos; promoção do acesso
ao emprego, saúde e cidadania das populações vulneráveis, nomeadamente trabalhadoras
do sexo, toxicodependentes e sem-abrigo; e a promoção
do fado como factor identitário». Uma experiência notável!
Virgílio Gomes, docente de História
da Alimenta
ção na Universidade Nova
de Lisboa e interveniente em muitas experiências ligadas à Gastronomia (colaborou,
por exemplo, com a Dra. Simonetta na escolha das ementas típicas portuguesas
para o Pavilhão de Portugal na Expo), demorou-se na explana
ção do enorme papel que hoje a gastronomia tradicional
detém no quadro da promo
ção turística.
Demorou-se, mas não cansou, tão interessante foi o testemunho que nos trouxe. Preconizou
o maior rigor na apresenta
ção das
iguarias – sobretudo se se tiver em conta que a gastronomia é considerada património
imaterial (foi, por exemplo, classificada como património cultural a refei
ção gastronómica dos franceses e o México apresentou
uma candidatura em que o milho, o feijão e as pimentas eram os principais condimentos…
Criticou o facto de os restaurantes não darem a primazia, nas suas ementas, aos
vinhos locais e regionais. Falou da alheira, da canja (trazida do Oriente por Garcia
de Orta). Uma li
ção de grande
alcance. Aliás, o professor pode ser visitado em
http://www.virgiliogomes.com –
onde há também muito para aprender!
A Bruno Mota Martinho fora dado como
tema «O turismo e o património cultural edificado em contexto urbano e na
gestão das cidades». Perdeu-se, porém, num emaranhado de concepções teóricas, ilustradas
com diapositivos abstractos cujo significado (decerto) escapou a boa maioria
dos ouvintes; falou depressa, monocordicamente e, no fim, mesmo apoiando-nos no
extenso resumo da conferência que nos foi facultado, recheado de frases
bonitas, ficámos com a ideia de que o que preconizava era, fundamentalmente, «a
criação de corredores contínuos e
coerentes de oferta cultural e turística». Nesse aspecto, Belém poderá ser um
bom exemplo (digo eu); mas o conferencista quiçá não se tenha apercebido também
do ‘corredor’ em que se encontrava, na vila de Cascais, onde se criou, na
verdade, um núcleo cultural da maior relevância, a abranger a Cidadela, o Palácio
da Presidência da República, o Centro Cultural, a Casa de Santa Maria, o Museu
dos Faróis, a Casa das Histórias e o Museu do Mar, tendo no meio o amplo e bem agradável
Parque Marechal Carmona. E quanto ao património cultural edificado em contexto
urbano nada soou, que eu me tivesse apercebido.
A terminar, já quase em cima da hora
de fechar (e foi pena!), Miguel Fialho de Brito veio falar das «novas redes de promo
ção». Atrasados como estávamos, poderia ter deixado
a história do turismo, o diário da viagem a Portugal e a Espanha do senhor W. B
eckford (1787-1788); e só quase no fim nos trouxe
aquilo que nos interessava: como é que as redes de estudantes ERASMUS constituem
doravante um excelente meio de promover o País e a mobilidade. Temos 8000 estudantes
ERASMUS em Portugal, o que representa notável capital a não desperdiçar. O
portal
www.studyinportugal.net apresenta, em inglês, dez razões para estudar
em Portugal e o nosso País é aí apresentado como «a tua porta de entrada para o
Mundo»! Sobre isto gostaríamos de ter ouvido falar mais.
Simonetta Luz Afonso congratulou-se
com a jornada e a fidelidade dos participantes.
O Congresso redundou, de facto, num
enorme êxito, com largos ecos, sobretudo se tivermos em conta as múltiplas
facetas abordadas por conceituados especialistas de renome internacional. E não
é de somenos realçar que no cartão de identifica
ção
dos participantes estava incluída uma caneta que contém as actas; ou seja,
antes de o congresso se realizar já todas as contribuições estavam disponíveis!
Uma ideia genial, mais um motivo para dar os parabéns aos organizadores.
Cascais deu cartas, mais uma vez!
Publicado no Cyberjornal, edição
de 17-07-2012: