quarta-feira, 31 de julho de 2013

Doidos e revolucionários - entendam-se!

            Torna-se extremamente difícil escrever sobre a peça em cena no Teatro Municipal Mirita Casimiro desde o passado dia 24 e até 13 de Agosto. Sinto-me, na verdade, ignorante, por desconhecer os meandros da arte teatral, da história do Teatro e de todas as ciências que lhes são afins, pois que de verdadeiras «ciências» se trata. Razão tem, por isso, Miguel Graça, o responsável pela versão e pela dramaturgia, quando, no final do seu texto de apresentação no «programa», proclama: «Mestre Avilez». Eu diria mais: «Doutor Carlos Avilez!», tamanha é a sabedoria bem patente na encenação deste portentoso espectáculo, um sonho que, alfim, o «Mestre» ousou concretizar, superando longas hesitações de anos.
            O meu voto, desde logo, é que se consiga proceder à gravação do espectáculo, uma vez que se trata da Prova de Aptidão Profissional dos alunos da Escola Profissional de Teatro e não é possível tê-lo em cena muito tempo.
            Importaria falar dos figurinos (sempre a mão hábil e já imprescindível de Fernando Alvarez, idealizador também da cenografia); do guarda-roupa; da música original de R. C. Peaslee; da ajustada iluminação; do cenário despidamente dramático. Impossível referir todos os pormenores significativos, que farão escola, não tenho dúvida. Era preciso, aliás, ver a peça bastantes vezes, com olhar sempre muito atento. Cinjo-me, pois, a alguns aspectos que se me afiguram relevantes.
 
«Acordem!»
            Em primeiro lugar, a perfeita actualidade de um texto escrito em 1964 – actualidade para o mundo e não apenas para o espaço político português. Dá que pensar, obriga a pensar e termina mesmo com um dos actores à boca de cena, dirigindo-se ao público nesse sentido, como que a proclamar: «Acordem!».
            Em segundo lugar, cativou-me o que eu chamaria de simbiose (vou escrever uma asneira, mas que os peritos me desculpem, porque reajo como público e não como especialista em Teatro, que o não sou, claramente), a simbiose entre a tradição do teatro clássico e o modelo da revista à portuguesa. Explico-me: a figura do arauto (eu vi a estreia e andou muito bem Jani Zhao) pode personificar o arauto das festas medievais, sim, mas também podemos ver nele o compère (passe o galicismo!), elo de ligação a guiar o espectador na compreensão melhor do que ali vai passar-se.
            Por outro lado, ainda nessa mesma linha de pensamento, há os quatro ‘palhaços’, que não são palhaços mas se vestem como tais e incarnam, a meu ver, o que, na tragédia grega, era o coro (aliás, amiúde se expressam em música), a comentar jocosamente o que se viu e a própria trama que a seus olhos se desenrola. Eles são palhaços e a escolha dessa roupagem não foi, seguramente, nada inocente, como facilmente se compreende: a incarnação concreta da frase «ridendo castigat mores», “é a rir que se castigam os costumes”. Como quem diria, em linguagem comum: «Vamos lá, cambada, rir desta gente toda, a ver se aprendem alguma coisa! É difícil, mas nada custa tentar!»…

«Ou vocês se portam bem…»
            Em terceiro lugar… Bem, aqui há que explicar minimamente o que o autor, o alemão Peter Weiss (1916-1982) engendrou, e não é simples, pois logo o título – embora a peça seja mais conhecida como Marat/Sade – se revela estranho: Perseguição e Assassinato de Jean-Paul Marat Representado pelo Grupo Teatral do Hospício de Charenton sob a Direção do Marquês de Sade.
            Temos, pois, uma peça de teatro que o Marquês de Sade escreveu acerca do revolucionário Marat, um dos ícones da Revolução Francesa, com vista a ser representada, em jeito de terapia de grupo, pelos loucos do hospício onde ele próprio estava internado. Marat foi assassinado a 13 de Julho de 1793, Sade escreveu a peça em 1808 e Peter Weiss em 1964, e nós assistimos a ela agora, e, ao que parece, tanto Sade como o próprio Peter Weiss (será ele?) também estão em cena ali, espectadores vigilantes, e não é raro que as falas dos actores excedam o que eles escreveram. Várias vezes a sequência é, pois, interrompida por um ou por outro, como quem diz: «Ou vocês se portam bem e seguem o texto ou a peça acaba já aqui!». Estratagema que resulta muito bem. É o actor a empolgar-se, a fugir expressamente da grilheta do guião, porque lhe apetece, raivoso, dar conta de uma realidade vivida, concreta, em transgressão. A admoestação, neste caso, serve para reforçar ainda mais a atrocidade do que se está a viver, com profundas implicações político-sociais e ideológicas. E o espantalho da guilhotina lá está sempre, qual pelourinho medieval. Os autores sentem que os actores acabam por lhes querer escapar – Pinóquio a ganhar vida saído das mãos de Gepeto… E não é que, de quando em vez, enclausurado como está, também o espectador sente ganas de gritar, de reagir aos palhaços que, subservientes e até cantando (como o tal coro das tragédias gregas), o vêm desafiar junto às grades?...
            É, sempre, um mar de gente em palco: um total de 90, disseram-me! A maioria, doidos, cheios de tiques (eles ou nós?...), a documentarem o corajoso e inaudito e louco (também ele!) trabalho de direcção de actores de Carlos Avilez, bem secundado, nessa questão das manifestações patológicas, por Cristina Rego e, na coreografia, por Natasha Tchitcherova. E, não sendo um musical nem uma opereta, recorre, porém, com frequência à música, a dar toque gracioso ao conjunto.
            Escusado será dizer que, para Prova de Aptidão Profissional, é desafio enorme para o encenador e para os muito jovens actores dos três elencos, assim sujeitos a um pisar de palco em ritmo quase alucinante, e despertos, desta forma, para o desempenho dos mais diversos papéis.
            Saímos do Mirita Casimiro com os gritos da Revolução a soarem bem estridentes nos tímpanos do nosso quotidiano louco!...

Publicado em Cyberjornal, 31-07-2013 [com 61 imagens do espectáculo, das quais, com a devida vénia, aqui  se reproduzem três]:

segunda-feira, 29 de julho de 2013

O significado da villa romana de Freiria

             No âmbito de uma acção de sensibilização para o património, levada a efeito pelo movimento SERCASCAIS, foi visitada a villa romana de Freiria e aproveitou-se o ensejo para dar uma ideia do seu enquadramento histórico e da sua real importância como sítio arqueológico do concelho, alvo de uma série continuada de campanhas de escavação e que ora aguarda a concretização, no terreno, do Plano de Pormenor já superiormente aprovado, para que se recomecem os trabalhos, nomeadamente tendo em conta a sua valorização e musealização.
            Na qualidade de um dos arqueólogos responsável pelo sítio, não posso, pois, deixar de me congratular com a iniciativa e louvar o jornal O Correio da Linha pela circunstanciada reportagem que inseriu na sua edição de Junho (p. 18), sob o título «Caminhada noturna para ver milagres de Cascais», assinada por Igor Garcia Pires.
            Sem entrar em pormenores e sem discutir a ‘filosofia’ que presidiu à caminhada, que respeito, cumpre-me, porém, esclarecer algumas das passagens que mais directamente se prendem com a arqueologia (e agradeço a Paulo Pimenta a oportunidade de aqui publicar esses esclarecimentos):
            1. Titus Curiatius Rufinus não foi enterrado ali, que se saiba; ele foi, sim, o dedicante de um altar à divindade Triborunnis (junta-se a foto), o génio do local, a quem ele «pediu autorização» para se instalar. O altar é datável do século I da nossa era. Rufinus foi, pois, um personagem real, Rómulo e Remo são os fundadores lendários de Roma; dizer que Rufinus é descendente deles é o mesmo que afirmar que todos nós somos descendentes de… Afonso Henriques (muito embora este, ao contrário daqueles, tenha realmente existido)! Dizer que Rufino está «ligado à fundação do Império Romano» não é, pois, verosímil, pois se trata de mero colono particular, sem qualquer cargo, que, vindo mui provavelmente da Península Itálica, aqui assentou arraiais, por o sítio ser bom e abundante em água.
            2. Não há, em Outeiro de Polima, nenhum cemitério classificado como «monumento nacional»; há, sim, uma villa (isto é, casa de campo) tal como a de Freiria, ambas romanas e classificadas como imóveis de interesse público.
            3. Não há «alguns celeiros». A villa, residência que, em dado momento, foi, seguramente, de Titus Curiatius Rufinus, tem, de facto, um celeiro; não é único nem no Império Romano nem na Península Ibérica nem sequer no território português. Dizer que estes terrenos foram, durante 500 anos, o «celeiro de Roma» não é compreensível, por se tratar de uma zona minúscula, que poderia abastecer, sim, Olisipo, a Lisboa romana. Estava, além disso, demasiadamente afastada de Roma para ser o seu celeiro, quando o abundante trigo da Sicília bastava para alimentar os habitantes da Urbe.
            4. Esta zona não vai transformar-se ‘em alcatrão’. O Plano de Pormenor aprovado prevê, por exemplo, uma enorme zona verde, hortas comunitárias e cuidadoso ordenamento do território.
            5. Afirmar que foi aqui, na Conceição da Abóboda, que tudo começou, ou seja, que ali se está “no coração de Cascais” carece de alguma explicação complementar, na medida em que temos, por exemplo, em plena vila cascalense, uma gruta que foi necrópole em tempos pré-históricos, ou seja, muito antes de os Romanos se haverem instalado em Freiria. E há as grutas de Alapraia e a gruta de S. Pedro do Estoril, que datam de há cinco mil anos atrás.

Publicado em O Correio da Linha [Oeiras] nº 292, 25-07-2013. p. 3.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Na prateleira - 4

            É já quase lugar-comum atribuir a um general romano a frase: «Há, nos confins da Ibéria, um povo que nem se governa nem deixa governar-se!». Referia-se, ao que parece, aos Lusitanos, dos quais reza a tradição, que não a História, directamente descende o Povo Português.
            Acho a afirmação deveras injusta. Primeiro, porque, no dia-a-dia, o que mais vemos é quem, mui diligentemente, saiba governar-se – e bem! Isso torna-se mais notório na classe vulgarmente dita «política»; mas poder-se-iam aduzir exemplos mil, a todos os níveis, de como a máxima a todos por igual se poderia aplicar. E, em segundo lugar, é bem refinada mentira, pois essa observação se ajusta a muitos povos que não apenas aos da Ibéria! E recordo, desde logo, aquela velhinha trémula, sentada e mísera, na passagem para a «grande superfície», a suscitar comiseração imensa e que já terá sido vista, elegantemente vestida e desempoeirada, a passear-se noutras paragens. Não se governa a senhora, aparentemente oriunda da Europa Central?
            A questão prende-se mais com a obediência a regras – a que somos renitentes por natureza, ainda não se fez a lei e já estudámos as 1001 maneiras de a ludibriar, quando não é o próprio texto da lei susceptível de 1001 interpretações, a fim de… se estar sempre na mó de cima, ora bem! Veja-se o caso daquele sobre a impossibilidade de alguém voltar a candidatar-se a mandato camarário, após ter exercido o cargo três mandatos seguidos. A confusão que anda por aí e não há meio (nem vontade, diga-se!...) de clarificar o pretendido…
            Perdi-me, confesso, nestas considerações, porque apenas queria exemplificar tudo isso com um caso bem comezinho, de mui difícil compreensão mas verdadeiro: a Praceta Padre Marçal da Silveira (no Bairro da Pampilheira, em Cascais), onde está a loja da Cozinha com Alma e uma creche/infantário, tem ampla placa central relvada. Num dos postes de iluminação há um distribuidor de saquinhos para recolha de dejectos caninos, como aliás, outros dois há na Rua Mário Clarel anexa. Então não é que essa verdejante placa está sempre ornamentada com os ditos? Sete, oito, nove… Diariamente! Não, não são cãezinhos vadios os que lá vão, são mesmo aqueles que os senhores donos e donas levam pela trela a passear. E não é um consolo vê-los aproveitarem-se da relvinha fresca e sadia? Os saquinhos estão ali bem à vista; os senhores donos e donas têm olhos na cara e mesmo jovens que são alguns já sofrem (coitados!) de bicos-de-papagaio: doem-me tanto as costas! E, depois, já viu? Apanhar o dejecto? Que nojo!

Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 7, 17-07-2013, p. 6.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Vizinhos e não condóminos

             Está aí a campanha eleitoral e cada candidato procura mostrar o que é sua intenção fazer com que seja melhor a vida dos munícipes.
            No quadro desse bem comum e desse bem-estar que todas as candidaturas se propõem conseguir, creio não estar longe da verdade se afirmar que desejam todos ser cada vez mais vizinhos e cada vez menos condóminos.
            A palavra ‘vizinho’ deriva do vocábulo latino ‘vicinus’, que era o habitante do ‘vicus’, «a aldeia». E aldeia é assim um lugar pequeno, onde toda a gente se conhece e, na necessidade, se entreajuda: um naco de pão, uma malga de sopa, uns euros para o medicamento urgente, a boleia para ir ao médico… Há proximidade, comunidade, na certeza de que assim melhor se logrará viver.
            O vocábulo ‘condómino’, ao invés, afirma-se como criação dos nossos dias, embora possa filiar-se também no latim: con + dominus. Dominus é o senhor, o dono, o que possui algo de seu; detém, pois, uma conotação visceralmente económica. Do ‘ter’ em vez do ‘ser’. E condominus, por conseguinte, apresenta-se como «senhor em conjunto», detentor dos mesmos interesses – económicos, claro!
            Daí o apelo: vamos ser cada vez mais vizinhos e cada vez menos condóminos, certo?
            S. Brás pode dar, também neste domínio, um testemunho exemplar!

[Publicado em Notícias de S. Braz (S. Brás de Alportel), nº 200, 20 de Julho de 2013, p. 21].

 

quarta-feira, 17 de julho de 2013

As nossas doenças

          Muito que fazer têm hoje psicólogos, psiquiatras, médicos em geral e sacerdotes para lograrem manter a serenidade da população perante os desencontros quotidianos: faz-se, hoje, peremptoriamente uma afirmação e amanhã, com o mesmo à-vontade, proclama-se precisamente o contrário, como se nada tivesse acontecido!
      Ó tempo que eu já acabei isso! – dizia-me amigo meu. E «isso» era ouvir os noticiários e ligar importância aos ‘políticos’. E acrescentava:
      – Eh moce: várias vezes me deu uma sulipampa e fui de urgência… Agora, o que me lembro é da lengalenga de meu pai que rezava mais ou menos assim, para explicar que, apesar das aparências, nada muda: «Sarraguça, faca velha, no debrum do alguidar; ou a cabra é muito velha ou a faca não quer cortar!». Como o luzencu: pisca e foge, foge e pisca e a gente não o agarra, não! Isto com o andar disfarça e, parado, não se nota!...
      Sabedoria antiga!...
      Mas… fiquei a pensar na sulipampa, o chilique, o cair pró lado de repente. De onde virá a palavra? Cair (pumba!) na chulipa do comboio não deve ser – o que não significa que queda dessas, com perda de consciência, não desse mesmo para vir a ser trucidado! Como, aliás, estamos a ser…
 
Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel] nº 174/175, Julho/Agosto de 2013, p. 10.

 

A identidade

            Era a minha amiga Lourdes a Chefe de Divisão do Ensino. Se a palavra não era «ensino» era algo de parecido e o munícipe sabia logo que era com ela que tinha de tratar dos assuntos relacionados com escolas, o parque escolar, as obras, o apoio social a estudantes carenciados… Era com ela.
            Mas isso de «ensino» era, ao que parece, palavra demasiadamente corriqueira, cheirava, se calhar, a «antigo regime». Hoje, a Lourdes integra a Direcção Municipal de Capacitação e Coesão Social. Ora toma! Isto sim é que são palavras a preceito, o pessoal sabe logo o que é isso de capacitação («És capaz? Tá bem! Não és? Tá mal, vai aprender!). E «coesão social» também deve ser assim um tratado interessante, assim a modos de a gente ir todos para uma manifestação, alugar um autocarro e ir tudo cheiinho, coeso à brava!…
            Perdoe-me, leitor, a minha loucura, mas… quando eu era mais novo, dirigi a página infantil Os Castores num jornal regional. E dei-lhe esse nome, porque achei os bichinhos simpáticos, nessa altura eu andava na Faculdade e lia muitos livros sobre animais que ia buscar à Biblioteca Americana, a única que tinha livros sobre a vida selvagem nessa longínqua década de 60. E, para além de admirar a técnica dos castores de fazerem presas de água, eu achava interessantíssimo que a primeira preocupação da «família» era ‘marcar’ o território com o seu cheiro característico. Esta zona é nossa, pronto, nada de intromissões!...
            Está aí a campanha eleitoral para as autárquicas e o que eu mais aprecio é ver que cada nova equipa que entra muda de imediato não só os nomes das divisões e dos departamentos, mas também o logótipo. No brasão não tocam, que isso mete despacho e parecer da Associação dos Arqueólogos Portugueses; mas lá o logótipo, o letring (leia-se: o tipo de letra…) com que se passa a escrever ‘município’, ‘freguesia’, ‘câmara municipal’… isso tem de mudar, porque manter o que o Executivo anterior determinara era de muito mau gosto, pois então!...
            E assim, num país de desempregados, se vai dando emprego aos designers gráficos, aos criativos… Até as palavras de ordem têm de mudar! «Sabe bem viver em...» – qual quê! Que frase tão pindérica! Temos de inventar outra! Já!

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 620, 15-07-2013, p. 12.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Tomou posse o director do Agrupamento de Escolas da Cidadela (Cascais)

            Numa cerimónia simples, mas cheia de significado, tomou posse, ao final de hoje, segunda-feira, dia 15, numa das salas da Escola Secundária da Cidadela, em Cascais, o director do Agrupamento de Escolas da Cidadela, Dr. José João Osório Gonçalves recentemente eleito pelo Conselho Geral Transitório. A posse foi-lhe conferida pelo presidente do referido Conselho, Dr. Luís Barbosa.
            Luís Barbosa começou por saudar os presentes e dar uma breve explicação acerca do processo seguido. O presidente da Junta de Freguesia de Cascais, Pedro Morais Soares, falou de seguida, não só para felicitar o novo director mas também para referir quanto o Dr. José João, ainda no exercício das anteriores funções, contribuíra para se estreitarem os laços de cooperação entre a Freguesia e a Escola, em iniciativas de voluntariado deveras exemplares. Também o Dr. João Bento, da Câmara Municipal de Cascais, realçou o empenho da Escola em colaborar com a Câmara e vice-versa, colaboração a que prometeu dar continuidade, augurando o maior êxito ao Dr. José João na missão que decidira abraçar.
            Usando da palavra, o empossado cumprimentou quantos quiseram associar-se a este acto – docentes, funcionários, membros do Conselho Geral Transitório, estudantes – e garantiu que, mau grado as enormes dificuldades de todos bem conhecidas por que o País atravessa, tudo iria fazer para cumprir os objectivos a que se propusera. Anunciou que se seguiriam as eleições dos coordenadores de departamento e dos representantes dos grupos e não quis terminar sem deixar uma mensagem ‘de energia positiva’, para que – disse – este Agrupamento continua a ser «de excelência» e cada vez mais solidário.
            Recorde-se que o Agrupamento tem sede na Escola Secundária da Cidadela (2º e 3º ciclos, secundário, CEFs nível II, tipo 2 e tipo 3, Profissionais) e integra, para além dessa, as seguintes escolas: Escola JI / EB1 da Malveira da Serra (pré-escolar e 1º ciclo); Escola EB1 nº 2 da Aldeia de Juso (1º ciclo); Jardim-de-infância do Cobre e Escola EB1 nº 2 de Birre (Pré-escolar e 1º ciclo); Escola José Jorge Letria (1º ciclo); e o Jardim-de-infância de Murches (Pré-escolar).

Publicado em Cyberjornal, edição de 15-07-2013:
http://www.cyberjornal.net/index.php?option=com_content&task=view&id=18631&Itemid=70

quinta-feira, 11 de julho de 2013

As histórias parvas de Rogério Carvalho

            Foi apresentado, no passado dia 3, na mui dinâmica Biblioteca Municipal Gustavo Pinto Lopes, de Torres Novas, o mais recente livro de Rogério Pires de Carvalho, Histórias Parvas (editora Fonte da Palavra, Lisboa, Maio de 2013, ISBN: 978-989-667-152-5, 148 páginas). Explicava-se, no convite, que a obra se constituía «como um exercício de humor e de ironia, fundado numa permanente inquietação ética e no drama silencioso, mas cáustico, de um país atávico e recheado de contradições».
            Confesso-me inculto de literaturas. Sempre privilegiei a vida, as histórias reais e mesmo as telenovelas – embora saiba da sua carga pedagógica e social – não me seduzem por aí além, pois se me afigura o quotidiano muito mais rico de peripécias e conteúdos.
            Por isso, era incapaz de escrever o erudito prefácio com que José Manuel Vasconcelos apresentou este livro, em cujos contos reconheceu, por exemplo, a existência de «uma trave brandoniana». Acredito mui piedosamente que o Autor possa ter-se inspirado na passagem X do famoso escritor Y; contudo, para mim, Rogério Pires Carvalho é o «rapaz» de vida atribulada como todos os que nascemos no pós-guerra e comemos o pão que o Diabo amassou e vivemos a guerra d’África e sonhámos com um 25 de Abril: põe no papel essas atribulações por que passou, os sonhos acalentados, numa linguagem em que o cenário urbano inteiramente se entrelaça com cenários campesinos de uma infância longínqua e cenários fantásticos de parvoíce pegada.
            «Parvo» é, em latim, ‘pequeno’, no sentido real – e são-no , de um modo geral, pequenas estas vinte histórias apenas numeradas, sem título nem índice –, e ‘pequeno’ no sentido figurado, porque relatam casos… pequenos!
            E o facto de o Autor não ter querido sequer propor títulos – crítica velada a já não haver pessoas mas números?... – poderá interpretar-se também como uma forma de querer deixar essa tarefa ao leitor, não o sugestionando sequer.
            Autobiográfico? – Sim. Romance de costumes? – Sim. Parvoíces? – Porque não?
            Sugestiva a fotografia da capa, a que não há qualquer referência nem no texto nem na ficha técnica: dois cavalheiros, de uma burguesia média-alta datável de meados do século XX, chapéu de feltro de copa redonda, farto bigode, bengala, apertam a mão e posam para o fotógrafo. Foto de estúdio, com cenário de indefinida paisagem sépia detrás. Quem são e o que nos querem dizer?
            Mais eloquente será a primeira badana, em que o autor preferiu deixar-se fotografar com o seu cachorro de estimação. Eco daquele aforismo (cuja paternidade vi atribuída a Blaise Pascal) «quanto mais conheço as pessoas, mais gosto do meu cachorro»? Creio bem que sim, dado o tom geral das histórias, em que, por exemplo, é a maçã a comer o homem (cansado de «ofícios inúteis» e «despachos absurdos» – p. 91) e as férias numa praia tropical terminam porque o crocodilo engole o zeloso funcionário, o qual, mesmo deglutido, «ia imaginando os termos exactos que deveria usar no oficio a endereçar à agência de viagens, dentro do prazo legal das reclamações» (p. 108), porque ser engolido por crocodilo não estava previsto no contrato devidamente assinado. Ironia mordaz, feroz sarcasmo, deliciosa viagem para um dia-a-dia mui frequentemente sem qualquer sentido como o daquela CAIXA DE SUGESTÕES que, à porta do serviço de urgências do hospital, se transforma, a dado passo, com a usura do tempo, em CAIXA DE S. CESIO e, consequentemente, desata a receber piedosos óbolos, cujo destino, obviamente, se (des)conhece (p. 13-16).
            Os retratos da vida rural obrigam-nos a consulta de dicionário, porque a palavra é a exacta e dentro do contexto. Outras vezes, porém, essa consulta deriva de provocada dúvida de grafia, porque, aparentemente, o editor não se ralou em apresentar o livro com um número de gralhas superior ao que seria razoável em edição que se preza.
Hino ao absurdo da vida que nos obrigam a ter? Hino, não: libelo contra!
«A terra está a morrer, eu estou a morrer, está tudo a morrer por aqui de roda. Só ficaram os velhos, para aqui à espera de morrer, os novos foram-se, abalaram, voltam velhos, quando voltam, o mais certo é não voltarem, já ninguém se quer chegar a estas terras de maldição. Ainda se fossem terras dos vales, terras fundas, terras gordas como mantas de toucinho, terras de barros a agarrarem-se às solas das botas como côdeas de trigo, isso era vê-las a dar, a darem tudo o que se lhes quisesse deitar» (p. 64-65).
Quem o garante, porém? De «terras de maldição» depressa são capazes de voltar a ser – pelo caminho que isto leva – «terras de salvação». Eu cá aposto nessa! E, desta sorte, poderia ganhar sentido a foto da capa: vamos preservar a tradição! Já! Antes que o crocodilo ou a maçã venham aí e nos engulam!

Publicado em Cyberjornal, edição de 11-07-2013:

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Cerimónia no Casino teve elevado sentido cultural

             Presidida pela senhora Presidente da Assembleia da República, realizou-se, na passada sexta-feira, dia 5 de Julho, no auditório do Casino Estoril, a cerimónia de entrega dos Prémios Literários da Estoril-Sol referentes a 2012, cerimónia que deteve mui elevado sentido cultural, não apenas pela solenidade com que se fez questão de envolver o acto, mas sobretudo pelas bem oportunas intervenções que nela se puderam escutar.
            Prevista para as 18 horas, a sessão iniciou-se já quase às 19.
            Dinis de Abreu, responsável pelo Departamento de Comunicação da Estoril-Sol deu por aberta a sessão, em nome da senhora presidente, e foi o Dr. Mário Assis Ferreira, presidente do Conselho de Administração da Estoril-Sol, o primeiro a usar da palavra.
 
O escalpelizador discurso de Mário Assis Ferreira
            Do seu discurso cumpre-nos salientar alguns passos, pelo enorme significado que detêm na actual conjuntura político-económica. Assim, Assis Ferreira começou por afirmar que «perante progressivas e continuadas quedas de receitas» sofridas, se vira forçado «este ano, a mitigar, em algumas vertentes, a pureza conceptual do pioneiro modelo multidisciplinar de Casino que, ao longo de mais de duas décadas», erigira «como matriz diferencial da Estoril-Sol». E esse modelo, explicitou, detém, por «intrínseca convicção» imprescindível tónica cultural: se «imperativos de austeridade» obrigaram «a reduzir a oferta de espectáculos e de animação», «outros irrenunciáveis imperativos» «impeliram a manter, até ao limite do possível, os Prémios Literários instituídos pela Estoril Sol, do mesmo passo que», acrescentou, «não abdicámos de oferecer aos nossos visitantes uma Galeria de Arte com um espaço generoso, por onde têm passado os trabalhos dos mais importantes nomes das nossas Artes Plásticas».
            Referiu-se de seguida às 15 edições ora completadas do Prémio Fernando Namora, a que recentemente se acrescentou, «já com o patrocínio de Agustina Bessa-Luís, o Prémio Revelação com o seu nome», que veio eficazmente contribuir para a descoberta de novos talentos.
            Por conseguinte, concluiu, «a promoção da Cultura é um desígnio que nos acompanha desde há muito e ao qual nos queremos manter fiéis, não obstante as contrariedades resultantes do clima depressivo que tem assolado o País». E, dirigindo-se, de modo especial, à Senhora Presidente da Assembleia da República, Mário Assis Ferreira, não hesitou em afirmar:
            «É em períodos de crise, como aquele que vivemos – e a que o Turismo, bem como o nosso sector de actividade não estão imunes – que precisamos de responder com energia, criatividade e determinação.
            Não me canso de repetir, desde há mais de duas décadas, que, por vocação e dever cívico, a Estoril-Sol tem um compromisso sagrado com a Cultura e com as Artes.
            E, nesse particular, somos “Egoístas” – aliás, como o soube ser essa revista de vanguarda, baptizada de “Egoísta”, multipremiada no País e no estrangeiro, que se transformou em ícone e publicação de culto. Um milagre de sobrevivência, este ano infelizmente interrompido, mas que nos empenharemos, num futuro próximo, em reanimar.
            Ocorre-me, bem a propósito, Eduardo Lourenço que um dia escreveu: «Somos um povo entre os povos, não somos o centro do mundo. Já Camões se tinha apercebido de que éramos uma espécie de milagre… Esse milagre é uma coisa que nos enlouqueceu. Mas todos precisamos de loucura para suportar a vida (…)».
            Foi com esse “grão de loucura” – melhor diria, de reflectida ousadia – que a Estoril-Sol cresceu e se afirmou – com o desígnio na Alma, com a Cultura no Espírito, com a Arte no Coração!».
 
Uma cerimónia muito digna
            E a dignidade da cerimónia prosseguiu com o eloquente discurso do presidente do júri, Vasco Graça Moura, que salientou as oportunas mensagens trazidas pelos romances ora premiados, que bem se distinguem do que habitualmente surge por aí nos escaparates, servido por bem orquestrada publicidade.
            No que concerne a Domínio Público, o romance de Paulo Castilho, um diplomata e escritor já consagrado, reiterou a ideia de que se trata de «uma obra que propõe um olhar tão lúcido quanto irónico sobre as relações humanas na sociedade portuguesa actual»; «a caracterização das personagens, nos seus encontros e desencontros, nas suas ilusões e expectativas, nas suas boas intenções ou até no seu cinismo, é feita em registos bem diferenciados, com agilidade e humor», revelando «uma surpreendente mestria no entrelaçar dos fios da narrativa com a técnica do monólogo interior, ao mesmo tempo que utiliza de modo elegante e flexível a língua portuguesa».
            Quanto a A Vida Inútil de José Homem, da psicóloga clínica Marlene Correia Ferraz, natural de Viana do Castelo, salientou a sua «apreciável desenvoltura narrativa» e, também, «uma relação criativa com a língua portuguesa”, aspecto que nos apraz registar, pois vemos no dia-a-dia a língua portuguesa ser cada vez mais enxovalhada, mesmo ao nível dito literário. Saliente-se, ainda, que, evidenciando «situações dramáticas da memória histórica portuguesa africana, num enquadramento interessante e, em certa medida, original» – para usarmos das palavras do júri, repetidas por Graça Moura – A Vida Inútil de José Homem se prende com um dos aspectos que, hoje em dia, mais nos tem obrigado a reflectir: as guerras coloniais e as suas consequências, que ainda se não dissiparam de vez – nem tão cedo virão a dissipar-se!
            Cada um dos premiados falou depois. Paulo Castilho não se eximiu de lançar uma farpa à nova literatura portuguesa, que enxameia as livrarias, onde dificilmente, à primeira vista, se encontram as obras clássicas. E concluiu: «Como escritor, agradeço; como cidadão, estou apreensivo». Marlene Ferraz, por seu turno, que considerara o seu livro «um sopro nos meus dedos, mas um arrepio no coração», fez anteceder os agradecimentos formais de um belo trecho, a sintetizar o que pretendera transmitir através da escrita.
            A concluir, Assunção Esteves congratulou-se com os prémios atribuídos, saudando os autores e aplaudindo a iniciativa da Estoril-Sol.
            Estiveram também presentes Nuno Crato (ministro da Educação e Ciência), Mota Amaral e o presidente da Câmara Municipal de Cascais, entre outras individualidades convidadas.
            O júri de ambos os prémios foi constituído por Guilherme d’Oliveira Martins (que esteve presente na sessão), em representação do Centro Nacional de Cultura; José Manuel Mendes, da Associação Portuguesa de Escritores; Maria Carlos Gil Loureiro, da Direcção Geral do Livro e das Bibliotecas; Manuel Frias Martins, da Associação Portuguesa dos Críticos Literários; e, ainda, Maria Alzira Seixo e Liberto Cruz, convidados a título individual; e Nuno Lima de Carvalho e Dinis de Abreu, em representação da Estoril-Sol.
            Seguiu-se um jantar em honra dos premiados no Restaurante «Estoril Mandarim».

Publicado em Cyberjornal, 07-07-2013:
http://www.cyberjornal.net/index.php?option=com_content&task=view&id=18584&Itemid=67

Post-scriptum: Foto gentilmente enviada pelo Gabinete de Imprensa da Estoril-Sol: Assunção Esteves com os premiados. As fotos da entrega dos prémios são de Luís Bento.
 

Tutores de bairro - um novo impulso!

             No âmbito da Conferência Internacional Cidadania para a Sustentabilidade que, de 3 a 5 do corrente mês de Julho, se realizou no Centro de Congressos do Estoril, com a presença de diversos especialistas na área, reservou-se uma das sessões, na tarde de sexta-feira, 5, para se proceder à actualização do programa Tutor do Bairro, iniciativa em que, na verdade, o município de Cascais foi pioneiro.
            Após o almoço num dos restaurantes da Fiartil, o presidente do Município saudou os tutores de bairro. Luís Capão, do Conselho Administrativo da Cascais Ambiente, explicitou de seguida os objectivos do tutor do bairro, na medida em que na sala, para além dos antigos tutores, se encontravam os tutores que ora iriam ser ‘empossados’ nas suas funções, perfazendo um total de 150, o que representa uma cobertura quase completa do território do município.
            A responsável pelo Gabinete de Comunicação deu, de seguida, informações concretas acerca do funcionamento do novo telemóvel que iria ser posto à disposição dos tutores, dotado de um programa que permite, com maior facilidade, não só a comunicação em si como também – e este é o aspecto mais importante – o conteúdo da informação que o tutor deseja veicular, de molde a ser rapidamente encaminhada para os competentes centros de decisão.
            Foram entregues diplomas aos novos tutores e receberam os antigos um atestado que neles distingue o «papel activo e empenhado na melhoria da qualidade de vida do Concelho de Cascais».

Publicado em Cyberjornal, edição de 07-07-2013:
http://www.cyberjornal.net/index.php?option=com_content&task=view&id=18585&Itemid=67

Post-scriptum: A foto «de família», gentilmente cedida por Luís Bento, é a dos tutores de «1ª geração».

domingo, 7 de julho de 2013

O Passionário Polifónico de Guimarães, um documento deveras notável

             Vai ser apresentado dentro em breve o Passionário Polifónico de Guimarães, edição fac-similada da Sociedade Martins Sarmento, concretizada pela Fundação Cidade de Guimarães, ainda no âmbito das iniciativas de Guimarães como Capital Europeia da Cultura (em 2012).
            O estudo, transcrição e revisão devem-se ao doutor José Maria Pedrosa Cardoso, que foi docente de História da Música na Faculdade de Letras de Coimbra (ora aposentado), e que confessa ter sido a descoberta deste Passionário que o despertou «há mais de 20 anos, para as lides musicológicas», em que se tem notabilizado. Eduardo Magalhães encarregou-se da complexa musicografia.
            Estamos perante o códice SL.11-2-4, existente nos fundos daquela sociedade vimaranense. Nele se contém, como se explicita na quarta capa, «a música monódica e polifónica do canto da Paixão, tal como se executava no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, na 2ª metade do século XVI, em que a Semana Santa era solenemente celebrada».
            Aí temos o cantochão das paixões nas versões dos quatro evangelistas e o pregão pascal, tendo sido possível identificar nelas «uma versão tradicional portuguesa enriquecida com um ritmo crúzio bem marcado», de modo que «a presença deste precioso manuscrito em Guimarães comprova a irradiação da música crúzia para além do Mondego». E uma outra novidade se salienta: o registo de «algumas frases em polifonia nas paixões de Domingo de Ramos (S. Mateus) e de Sexta-feira Santa (S. João)».
            Pela sua beleza intrínseca e pelo elevado valor documental que detém, esta edição constitui, sem dúvida, marco singular no quadro das manifestações culturais vimaranenses. Congratulamo-nos!

Publicado em Cyberjornal, edição de 7-07-2013:

sábado, 6 de julho de 2013

A transformação pela dança

        Poderá parecer estranha a afirmação. Terá a dança esse condão de transformar quem a executa e, sobretudo, quem a ela se dedica de alma e coração? O ritmo, a beleza dos movimentos, a interpretação gestual da mensagem musical e correspondente transmissão a quem dança e a quem observa…
            Uma questão a que afirmativamente responderam os 676 alunos (e respectivos docentes) das Academias Ai! A Dança – de Sintra I & II, Loures I & II, Santa Iria e Pontinha – nos espectáculos que proporcionaram aos familiares e aos amigos que por completo encheram o grande auditório do Centro Cultural de Belém, nos passados dias 29 e 30 de Junho.
            E foram vinte e oito as transformações mágicas a que se pôde assistir nesses dois espectáculos, em que apenas dois ou três quadros se repetiram e, de um modo geral, mesmo os que apresentaram o mesmo tema foram executados por classes diferentes. E assim, desde a afirmação de que, a dançar, «Sou… a dança!» até à declaração final «Sou… assim!», vimos como se poderia pensar na dança como forma de os bailarinos transfigurarem a terra, o batimento, o mistério, a união, o sonho, a alegria, o coração, o futuro, o amor, o movimento, a vida, a suavidade, o sapateado, a força, o mundo, a festa, o conforto, o pulsar, a luz, a energia, o riso, o acreditar, o empenho… Tudo isto!...
            Difícil se torna salientar o que mais impressionou: se as mimosas actuações dos mais pequeninos, se o salero das danças sevilhanas, o bem ritmado bater forte do sapateado ou a extraordinária maestria do hip hop, que sempre nos deixa maravilhados pela sintonia e absoluto domínio da requebrada movimentação mecânica…
            Uma conclusão, porém, se impõe: a dança com elevadíssimo valor pedagógico e a enorme capacidade de organização de um espectáculo assim, com criancinhas e jovens e adultos. Estão de parabéns os docentes, bem liderados por Lucília Bahleixo. Cristina Pereira esteve arduamente na direcção de cena e mereceu o forte aplauso que ouviu, assim como todos os técnicos que a coadjuvaram na montagem e acompanhamento dos espectáculos. E, claro, de parabéns estão, naturalmente, os alunos – pela sua entrega, espírito de sacrifício e… alegria de viver – com a dança!...

Publicado em Cyberjornal, edição de 06-07-2013:

Casino Estoril em parceria com Fernando Pereira

            Fernando Pereira e a sua empresa, a Musical Entertainment, são os novos produtores responsáveis pelos espectáculos e eventos do Salão Preto e Prata do Casino Estoril. Fernando Pereira celebrou, recentemente, um acordo com a administração da Estoril-Sol, no seguimento de um convite que lhe foi formulado – informou ontem, dia 4, o Gabinete de Imprensa da Estoril-Sol.
            Artista e produtor, Fernando Pereira apresentará os seus próprios espectáculos e explorará, ainda, todas as produções concebidas pela sua empresa. A estreia está prevista para Setembro.
            Terminará assim um período de um certo apagamento desta sala, por onde já passaram as maiores vedetas internacionais da canção e do musical.
            Na verdade, após as produções de Filipe La Féria, a última das quais, «Fado, história de um povo», o Salão Preto e Prata praticamente deixou de ser falado e até perdera o virtuosismo de outrora. Mantivera-se, durante muitos anos, a tradição de casino, um pouco à moda dos espectáculos das Folies Bergères: um excelente e bonito corpo de bailarinas e bailarinos, malabaristas, ilusionistas, cantores… Recorde-se que aí ganharam nome Jorge Fernando, Rita Guerra e Anabela, por exemplo, que foram presenças constantes durante muitas noites, porque o fado era presença imprescindível, numa altura em que turista que vinha hospedar-se numa unidade hoteleira de Cascais tinha, na ementa obrigatória, uma passagem pelo Casino. E, nessas circunstâncias, o fado tinha de ser… servido!
            Com Mário Assis Ferreira, assessorado pelo actor Júlio César, iniciou-se depois uma luxuosa série de espectáculos temáticos, como «Viva Mozart», «Dali», «Lisboa em Pessoa» ou «Os Heróis e o Mar». E manteve-se a vinda de artistas estrangeiros de renome, mas já sem o ‘brilho’ de antigamente, em que o Casino se arvorava. Mui justamente, como plateia privilegiada do País, um pouco como o Olympia de Paris; e hoje está largamente ultrapassado quer pelo Pavilhão Atlântico (com outro tipo de músicas, é certo) quer pelos Coliseus de Lisboa e Porto.
            A proposta ora na mesa retoma, aparentemente, o esquema adoptado em relação a Filipe La Féria, ainda que, naturalmente, o mundo da canção vá suplantar a produção teatral propriamente dita.
            Aguarda-se, pois, com expectativa o modelo que vai ser adoptado, na certeza de que a versatilidade de Fernando Pereira, cantor e imitador de raro mérito, poderá trazer boas surpresas e aliciar-nos a ir uma e mais vezes saborear de novo o vetusto requinte do Salão Preto e Prata, de que já temos saudades.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Expõem-se e explicam-se os vasos gregos, no Porto

             Sempre os vasos da antiga Grécia suscitaram a maior admiração, não apenas pela sua requintada tipologia e apurada técnica de fabrico, mas também – e quiçá sobretudo – pela graciosidade e incomparável valor como documento histórico das cenas que neles foram gravadas. Figuras vermelhas sobre fundo negro, figuras negras sobre fundo vermelho…
            Entre nós, foi a Doutora Maria Helena da Rocha Pereira a que mais afincadamente e com elevado saber os estudou, nomeadamente as colecções existentes em território português – que também os portugueses não resistiram a coleccionar esses antigos repositórios de Arte e História.
            Por isso, de novo será a Catedrática de Coimbra que proferirá, no próximo dia 17, a partir das 18 horas, na biblioteca da Reitoria da Universidade do Porto, a conferência «Uma história singular: os vasos gregos da Universidade do Porto». E a lição justifica-se porque está prevista para esse dia e hora a inauguração da exposição permanente da ‘Colecção de Vasos Gregos do Museu de História Natural’ daquela universidade, com apresentação do respectivo catálogo.
            A cerimónia integra-se nas comemorações do centenário da universidade portuense, a cuja comissão preside o Doutor Luís Valente de Oliveira.

Publicado em Cyberjornal, edição de hoje, 5-7-2013:

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Feira do Artesanato: "Portugal pelas mãos do seu povo»?

            Sim, a 50ª edição da Fiartil (tive o privilégio de ver a primeira!) continua a poder entender-se como a imagem de «Portugal pelas mãos do seu povo», como eu gosto de proclamar. O artesanato é isso, de modo muito especial: um trabalho de mãos!
            Contudo, as mãos de hoje já não são as mãos de outrora! Júlia Ramalho bem pode apresentar no seu stand as fotos da sua avó, Rosa Ramalho, uma lenda viva, uma velhinha que nos encantava e ali fazia diante de nós os seus esguios e bem estranhos bonecos, que pareciam ter nascido de uma outra civilização, no vidrado verde-amarelado de Barcelos. Hoje, não há Rosas Ramalhos a trabalhar; nem o Josafaz dos nossos Cristos; nem o Procópio Gageiro, canteiro ornatista, de Loures, hoje com mais de 80 anos, que da pedra bruta fazia nascer máscaras, leões, gárgulas, florões… Da cerâmica tradicional, apenas vimos a do Redondo. S. Pedro do Corval é capaz estar também por ali e algum revendedor terá os barros de Bisalhães ou de Molelos e as procissões de Estremoz. Vimos mantas de burel, malas de cortiça, os tapetes de Arraiolos, muitos santos antónios e muitos presépios; saboreámos a ginja de Óbidos no copo de chocolate, pois então!...
            E a gastronomia – a par do dominante artesanato urbano – tem lugar ímpar, com os pratos típicos de Portugal de lés a lés. Uma caravana do Santini poupa-nos uma ida até à Valbom ou a S. João, para saborear gelados verdadeiros. E há o pão com chouriço acabadinho de sair do forno, o algodão doce, as pipocas feitas na hora…
            No primeiro dia, Hélder Moutinho fez as honras do recinto, no seu fado castiço. E o programa inclui – para além de ranchos folclóricos e dos domingos de jaze – outros artistas como Ana Lains, Cuca Roseta (que já o ano passado nos encantou), Frei Hermano da Câmara (uma reaparição!), Camané, Luís Represas… Enfim, cada noite uma atracção, mesmo quando houver as Festas do Mar, mesmo que a FIL anuncie uma Feira de Artesanato Internacional, fazendo de conta que a Fiartil não existe já há 50 anos e eles agora é que andam no copianço!...
            Não, ainda não voltámos a ter no primeiro dia o tradicional convívio que a Junta de Turismo proporcionava entre as personalidades ligadas ao turismo local. Mataram-no. Não vimos hoteleiros, nem vereadores, nem autoridades, nem candidatos autárquicos… Estiveram, porém, Manuel Casaleiro, o ‘senhor da feira’ desde a primeira, em 1964; Alves de Azevedo, que ali passava, em nome da Junta, as noites inteirinhas, para que tudo corresse bem. Mas houve beberete, para troca de impressões entre os poucos que decidiram reatar a tradição. 50 anos sempre são 50 anos!...´
            O nosso voto: que a Fiartil alcance em pleno os seus objectivos e que, de certo modo, aquele espaço lá em cima, dedicado à pequenada, seja um hino de esperança no futuro e um grito de alerta para os responsáveis: o nosso artesanato, o verdadeiro, esse tal «Portugal pelas mãos do seu povo», o Portugal profundo, nosso, tem pernas para andar, é mostra de identidade, há que urgentemente dar-lhe a mão!
 
           Nota: Fotos de instantâneos da inauguração, no dia 28, gentilmente cedidas por Luís Bento. Bem haja!
 
Publicado em Cyberjornal, edição de 04-07-2013:

Proximidade precisa-se!

            A revista Visão, na sua edição do passado dia 20 de Junho, trouxe (p. 66-67) uma reportagem que se me afigura do maior interesse pelo seu significado, ainda mais premente na actual conjuntura. Intitula-se «Aqui Rádio Família» e relata a história do Bom Dia, Tio João, “uma espécie de Facebook rural”, rubrica que diariamente unia todo o pessoal de Bragança, na medida em que funcionava como elo de ligação de toda a comunidade através da Rádio Bragança, rádio local daquela cidade transmontana.
            Como todas as rádios locais e todos os jornais locais, a sua missão deveria ser – e é-o normalmente – a de criar comunidade, noticiando o que se passa, o que se precisa, as reivindicações, as necessidades, os melhoramentos, as iniciativas… na localidade.
            Então, o que é que aconteceu?
            A Rádio Bragançana (RBA) foi comprada pela Média Capital e assim se «calaram 24 anos de combate ao isolamento», como se lê na reportagem de Miguel Carvalho. A estupefacção do povo foi enorme: «Agora, a RBA retransmite na região a emissão da M80, urbana e sofisticada, em piloto automático desde Lisboa» e acrescenta-se:
            «A rádio, dir-se-á, é o universal sem paredes. Excepto, claro, quando a animadora da capital saúda o lindo dia de sol e, em Bragança, chove»!...
            Recordo, por exemplo, o que me dizia, aqui há tempos, o meu amigo João, que trabalha em Bruxelas e ouve a Antena 1: «Eh pá, vocês aí estão sempre trompicados com o trânsito de manhã: ele é engarrafamento no IC 19, na A5 desde Porto Salvo, na A2 desde a 2ª ponte do Feijó… E eu, sossegadinho, a ir a pé, daí a pouco, para o emprego»…
            Claro, as rádios ‘vivem’ nos centros urbanos e, de manhã e à noite, o trânsito e o tempo são os pratos fortes… em Lisboa e no Porto. O resto do país é… paisagem, como sói dizer-se!
            E só para terminar o caso de Bragança: a questão resolveu-se e já outra rádio se prontificou a continuar a missão de ‘criar comunidade’, deixando para outros ouvidos as emissões do piloto automático gerido a partir da capital.
            Não precisamos, porém, de ir de abalada até Bragança: onde há aqui, no concelho de Cascais, uma rádio local a que estejamos permanentemente ligados? Perdoar-me-á o leitor se evoco os tempos do Rádio Clube de Cascais, em que procurávamos ser efectivamente locais. Perdoar-me-á se lhe digo que também por estas bandas o tempo climatérico não é o de Lisboa e até achamos piada quando esse tal de Instituto do Mar e da Atmosfera (acho o nome giro, quem teria sido o sábio que o inventou?...) fala de alterações «a norte de Cascais»! A «norte de Cascais»? O que é isso? Do outro lado da serra de Sintra? E quando dizem que é a norte do Cabo Raso?!... Não percebo. Aliás, desafio alguém a perceber, mormente os que moramos em Cascais e desde sempre nos habituámos, pela manhã, a olhar pela janela para a serra a ver se tem «barrão» ou se está limpa, sinais que todos compreendemos bem em relação a vento, a chuva ou a calor.
            Está aí em força a campanha eleitoral para as autarquias. Cartazes mais ou menos vistosos, frases mais ou menos para ficar no ouvido, partidos mais ou menos ‘escondidos’, de cores ligeiramente alteradas, porque se compreendeu que o Povo já não vai nessa dos partidos… Pois aqui fica o apelo: pensem, senhores candidatos, em – sem intromissões político-partidárias – promover uma real comunidade, mediante sadia utilização dos meios de comunicação ao dispor. Precisamos de mais comunicação e de menos publicidade.
            E, já agora que estamos em maré de sugestões e na perspectiva de, afinal, esse tal Instituto do Mar e da Atmosfera se enganar nas previsões e virmos a ter um Verão «à maneira», com boas possibilidades de irmos, por exemplo, até ao Guincho e de outros nos virem visitar para usufruir das nossas praias bafejadas com bandeiras azuis e bonitos títulos de «as mais acessíveis»… trate-se, , de tornar a zona ocidental de Cascais mais acessível: abra-se aos dois sentidos, com carácter de urgência, a Rua das Violetas, em Birre, já que não se consegue acabar de forma airosa o final da A5. Não haverá perturbações ambientais nem riscos de insegurança e dará muito jeito a quem, da auto-estrada, quiser ir para Birre, Torre, Guia, Areia e Guincho seguir pela Rua das Violetas, em vez de se infernizar na sempre engarrafada «rotunda de Birre».
            Se houvesse uma rádio local, por isso pugnaríamos a todo o momento!

Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 5, 03-07-2013, p. 6.

 

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Universidade de Coimbra, património cultural da Humanidade

             Muitas e condignas foram as manifestações de regozijo por, no sábado, 22 de Junho, no solstício do Verão, o Comité do Património Mundial da UNESCO, na sua 37ª sessão, realizada em Phom Penh, no Cambodja, ter classificado a Universidade de Coimbra como Património Mundial.
            O processo da candidatura – nem sempre fácil – começou a ganhar fôlego em 1999 e, para além dos vetustos edifícios universitários, procurou que nele se incluísse toda a chamada «Alta», com as construções do Estado Novo, e também a Rua da Sofia, num conjunto de mais de 30 edifícios. A este património material juntou-se, a partir de certa altura – e esse foi um aspecto muito salientado pelos membros do Comité – o património imaterial a ele inerente: a produção cultural e científica, as tradições académicas, o papel desempenhado no mundo ao serviço da língua portuguesa. Aliás, foram nesse sentido – de acordo com as notícias que nos chegaram – as intervenções mais entusiasmadas de membros do Comité, que advogaram a classificação ‘imediata’ desse património no seu todo. É a Universidade como símbolo de uma “cultura que teve impacto na humanidade”.
            Junto, pois, incondicionalmente, a minha voz ao regozijo de todos, recordando, como teve a gentileza de me lembrar Paulo Morgado (que de perto acompanhou o processo), as palavras do anterior Reitor, Seabra Santos: «Sobre estas pedras velhas a universidade está a construir o seu futuro».
            É que, na verdade, não temos uma, mas ‘várias’ universidades. A que ora foi classificada é um símbolo; é aquela que recordam os que por Coimbra passaram – e a cantam. A que existe, porém, mercê da mordaça económica com que o capitalismo desenfreado apertou o ensino universitário europeu, é uma Universidade de luta quotidiana, porque a querem reduzir ao papel de… empresa! Quando – e este é apenas um dos muitos exemplos que poderiam invocar-se – uma sociedade de advogados, contratada pela Universidade para forçar ao pagamento de dívidas, não aceita o parecer de professores segundo o qual um aluno, apesar de se haver inscrito, nunca frequentou as aulas e, por isso, não há que lhe cobrar propinas, e envia o processo para tribunal, com elevado montante de custas, temos a certeza de que não foi esta a Universidade ora classificada.
            «Saibamos honrar, conservar e preservar as pedras velhas, o título e o saber», escreveu Paulo Morgado.
            Oxalá!
 
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 619, 01-07-2013, p. 12.

Novo jornal em Cascais

Saúda-se a publicação de mais um órgão da imprensa local: o Jornal CascaisAlgés, cujo 1º número está datado de 12 de Junho, p. p. Dirigido por Maria Machado, afirma-se de periodicidade mensal e distribuição gratuita entre Cascais e Algés, tendo como endereço electrónico cascaisalges@gmail.com e sede em Carcavelos.
            Aponta-se, no editorial, a coincidência de começar «com o começo das festas», o que é ponto de partida para se dizer, no estatuto editorial, que o objectivo é proporcionar «uma forma de promover tudo o que as associações precisam de anunciar, como também as iniciativas das Juntas de Freguesia e Câmaras de Cascais e de Oeiras»; «festas, exposições, eventos e tudo o que diga respeito à Linha».
            Independente quer da política quer da economia, como convém a todo o órgão de comunicação local, apresenta-se, neste seu 1º número, de 16 páginas a cores, com informação mais pormenorizada acerca da Feira do Artesanato, (onde, aliás, o encontrámos), e das Festas da Rã.
            Cumpre-nos, pois, augurar-lhe longa e próspera existência.

Publicado em Cyberjornal, edição de 2013-07-01: