sábado, 17 de agosto de 2013

Os nossos irmãos emigrantes

             De S. Brás, como de tantas outras terras do nosso País, saíram braços para dar riqueza e para sobreviver. A vaga emigratória já vem de longe, porque parca de recursos era a terra e aventureiro o espírito das nossas gentes.
            Uma história, decerto, ainda por fazer e que ora me ocorreu, ao ler a notícia de dois falecimentos na edição de Julho do nosso jornal.
            A primeira, a de Maria Floripes Martins Guerreiro, que, nascida a 13 de Dezembro de 1926, vivia há mais de 50 anos na Argentina, país para onde, na verdade, foram muitos dos nossos.
            A segunda, mais pormenorizada, refere-se à nossa Júlia Estrada Viegas, de 106 anos, natural de São Romão. Informa Eduardo Eusébio, que redige a nota necrológica, que «aos 13 anos foi para a Califórnia, onde viveu no Rio Dell, lugar bem conhecido de muitos são-brasenses que aí viviam quando trabalhavam nas fábricas de madeira da cidade vizinha de Scotia».
            A Califórnia foi, na verdade, outro dos destinos; mas este pormenor da actividade ali exercida merece ser sublinhado e, quiçá, alvo de alguma investigação – para que a memória não se perca! Na verdade, a existência dessa cidade californiana está intimamente ligada à exploração das vizinhas florestas de sequóias (a chamada redwood, entre as quais avulta a célebre sequoia sempervirens), exploração que foi, durante muitos anos, a actividade primordial da empresa PALCO, nome por que era conhecida a Pacific Lumber Company, detentora desse autêntico «império» da redwood.

[Publicado em Notícias de S. Braz (S. Brás de Alportel), nº 201, 20 de Agosto de 2013, p. 21].

 

 

           

NA PRATELEIRA - 6

Que chatice!
            A 1 de Agosto, no noticiário das 9 da Antena 1, ouvi que não foram ainda aplicadas multas a banhistas por se instalarem em zonas proibidas. Referia-se a informação a áreas de arribas em risco de derrocada. Mas o que mais me impressionou foi o ar de desalento da autoridade marítima, como que a dizer: «Que chatice! Não multámos ninguém e a lei já dura há um ano! Se já se viu!...». E parecia preconizar-se logo de seguida que fossem alargadas essas áreas, para que, no final do ano, se pudesse apresentar ‘serviço’! «Só há quatro áreas!» – queixavam-se. Na zona de Cascais, somente o acesso à Praia do Mexilhoeiro está interdito.
            De facto, é uma chatice! Anda o pobre do agente a ver se consegue passar uma multinha e o Povo não lhe dá essa oportunidade! Que Povo este!...

Piscina do Tamariz
            Melhoramentos! Há acesso à piscina directamente através de uma rampa, que serve igualmente de passagem de um nível para outro. Valeu!

Estrada Cobre – Murches
            Finalmente (as obras demoraram muitos meses!...), foi aberta ao trânsito a estrada que liga a Almosquia a Murches, estrada que dá pelo nome de Rua Humberto Delgado na sua maior extensão, começando, a sul, pela Rua dos Depósitos de Água.
            Constitui excelente alternativa à Estrada da Malveira, nomeadamente para quem utiliza a 3ª circular e se desloca para Murches, Aldeia de Juso, Zambujeiro e mesmo Charneca e Malveira. Ou em sentido inverso.
            Continuo, porém, a não compreender porque é que – para fazer uma reparação destas – se carece de imediato de fechar ao trânsito a totalidade da via! Mas… quem sou eu para compreender essas altíssimas esferas filosóficas em que navegam os senhores do trânsito em Cascais?
            Veja-se o que acontece dentro de Alcabideche! Anda-se às voltinhas e não há meio de alguém com dois dedos de testa abrir aos dois sentidos a Rua dos Bombeiros, o que facilitaria de imediato o trânsito todo! Que é como quem diz: «Está com um só sentido e com um só sentido há-de ficar, nem que a burra cante o fado!».
            Em contrapartida, à saída da 3ª circular para sul, o pessoal utilizava sempre como escapadela a Rua Romano Esteves e até a firma das inspecções automóvel lá plantara placa a dizer que era esse o melhor caminho. Óptimo, de facto, não incomodava ninguém (pelo menos, assim parecia). De um dia para o outro, zás! Apareceu uma placa de sentido proibido! De quem teria sido a ideia? Certamente a inopinada decisão, foi, porém, submetida a reunião de Câmara e todos assinaram de cruz. Se calhar, os senhores vereadores até nem sabem onde fica a Rua Romano Esteves!...
            Mas a reabertura da Rua Humberto Delgado, essa até teve direito a inauguração, com presença de autoridades municipais, pois então!

O secretário de Estado que antes de ser já o era!
            No sábado, 3 de Agosto, o relevo era dado, nos noticiários da manhã, à opinião expendida no dia anterior por Marques Mendes, no seu habitual comentário semanal da SIC:
            «Eu acho que este secretário de estado não devia ter ido para o Governo!»
             Como é, senhor Marques Mendes? Então, Pais Jorge antes de o ser... já o era? Temos médicos, advogados, professores e também já há 'secretários de Estado'?!... É profissão? O que o senhor comentador queria dizer era, decerto, que, em seu entender, este senhor não deveria ter ido para secretário de Estado!...

Morreu o senhor João
            Piscina do Tamariz sem o Sr. João era impossível de existir, tão simpática, eficiente e afável a sua figura, sempre discreta e de sorriso nos lábios. Deixou-nos, aos 71 anos. Que descanse em paz!
            E não seria mal pensado que, num recanto da piscina, fosse colocada lápide em sua memória!

«A família do Tio João»
            Terçando armas pelo direito à construção de comunidade através da comunicação social local, aqui dei conta da asneira feita em Bragança, ao acabarem com um programa que reunia em torno de si as gentes da cidade e arredores (Costa do Sol, edição de 3 de Julho, p. p., transcrito em http://notascomentarios.blogspot.pt/2013/07/proximidade-precisa-se.html).
            Acabo de receber de Bragança a informação:
            «Já temos novamente o programa, não "Bom dia, Tio João", mas " A Família do Tio João", de segunda a sexta das 6h00 às 8h00 e sábado das 6h00 às 10h00. Reiniciou-se no passado dia 6, transmitido por outra rádio local, a "Rádio Brigantia". Ainda bem! As pessoas que ouviam/participavam no programa ficaram muito satisfeitas, pois ainda há muitas pessoas, principalmente idosas, que vivem num isolamento muito grande e este programa ajuda-as a minimizar um pouco essa situação».
            A minha interlocutora brigantina lera o meu texto, onde eu preconizava maior acessibilidade à zona ocidental de Cascais e acrescentou:
            «Espero que a zona ocidental de Cascais já esteja mais acessível! Por vezes perdemos por falar, mas neste caso por falar não se perde nada!».
            Respondi-lhe que… não, tudo continuava na mesma!

Rota da arquitectura de veraneio
            Tive ensejo recentemente de arguir dois trabalhos académicos sobre a arquitectura de veraneio em Cascais: um, na Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, para especialista; outro, de licenciatura, na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, em Lisboa.
            Curiosamente, há semanas largas que começaram a ver-se pelo chão da vila placas redondas com a indicação «Rota da Arquitectura de Veraneio». Se se vai à página da Câmara, nada se consegue saber de concreto a esse propósito. Mas decerto algo deve haver na manga e a plantação das plaquinhas será sementeira de uma seara maior. Aguardemos!

Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 10, 14-08-2013, p. 6.

 

 

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

"Noites com Poemas", um ciclo com amanhã

           Quiçá Jorge Castro tenha começado em jeito de brincadeira, ele que também – ao que parece – só há poucos anos se deixou enlear nos braços de Euterpe, a musa da Poesia. Pensou assim a modos de uma tertúlia poética, sem regras fixas, cada qual vinha e dizia linhas suas ou alheias e assim se passavam duas horas, das dez à meia-noite, na Biblioteca Municipal de S. Domingos de Rana. Os responsáveis pela biblioteca apoiaram e, vai daí, a primeira «Noite com Poemas» ganhou raízes mensais, o grupo foi aumentando, revelações surgiram, Fernanda Frazão (da editora Apenas Livros) deu apoio. Realizou-se, no passado 19 de Julho, a última sessão da «temporada», a 88ª (!), em que tiveram papel de relevo os Poetas da Apenas Livros. Muitos foram os participantes, entre os quais se contou luzida representação de elementos, que, em Coruche (veio um autocarro da Câmara!), alimentam tertúlia semelhante, Um Poema na Vila.
            No seu blogue, http://sete-mares.blogspot.pt, dá Jorge Castro pormenorizada conta do que por ali, nessa noute, se passou (quatro fotografias lhe roubo, com sua licença…). Eu cheguei já para a parte final, mas ainda me pude aperceber de que não se haviam feito rogados os coruchenses e trouxeram não apenas o manjar da poesia, mas outros manjares mais concretos, numa verdadeira embaixada de sabores e de saberes, em que à beleza da palavra se juntou o aroma das viandas, o colorido do artesanato, a vivacidade musical…
            Desafinou Emília Azevedo que pegou na viola e veio cantar uns versos seus? Apaixonara-se Carmen Filomena por Pessoa aos 15 anos e nunca mais tivera paixão por ninguém e já nos 65 caminha e nos brindou com longo poema do poeta, sentidamente dito de cor? Vociferou o ‘revolucionário’ Carlos Pedro contra «o estado a que isto chegou»? Quem hoje não vocifera – em verso e em prosa vernácula?...
            É assim a tertúlia, as «Noites com Poemas», começadas há mais de sete anos (se as minhas contas não falham, porque mensais 88 vezes dá para cima de uma mão-cheia, desde Janeiro de 2004!...), em convivência sadia, na promessa de que, burilando a Palavra, se dá força ao Sentimento e generosamente se cultiva Comunidade!

Publicado em Cyberjornal, 31.07.2013:



quinta-feira, 1 de agosto de 2013

«Animais, nossos amigos»

            Veste-se excêntrica. Lenço garrido na cabeça, piercings nas pálpebras, no nariz… Calças pretas, justinhas. Botas pretas. Farta mochila às costas, donde pende um balde de plástico.
            Uso o presente do indicativo, mas o correcto era o pretérito imperfeito, pois, neste quente final de tarde da 2ª metade de Julho, no largo da estação ferroviária de vila balnear, foi visão rápida, no meio de tanta gente fartamente bronzeada e meio despida pelo calor, de regresso a casa. Ainda a tentei ver pelo retrovisor. Mas só o outro «pormenor» logrei descortinar, correndo-lhe atrás: o pastor alemão e um rafeiro de menor porte. Eram, seguramente, a sua fiel companhia. Quiçá, a única. De todas as horas – as boas e as más.
            E dei comigo assaltado por bem controversos pensamentos. O papel essencial dos animais de companhia. Não apenas para os que – como esta jovem – optam por se passear por aí, em liberdade plena, mas para os anciãos, as crianças, todos!...
            Assaltam-me as imagens e as frases por ocasião de incêndios e de inundações, por exemplo. Quantas vezes, mais do que os parcos haveres, o que se privilegia para salvar da catástrofe é o gato, o cão, e, até, o periquito ou o papagaio!... Falamos dos milhares de anciãos sem família, a viverem sozinhos… mas lá têm o cão presente em todos os minutos, pronto sempre à necessária carícia. Pode não haver uma côdea para o dono, tentar-se-á algo para o bicho. E, se é pequena a côdea, dá para os dois, isso é que dá! Tem de ser!
            E nas CERCIs não se praticam agora as terapias assistidas por animais? Na de Cascais, já não há a Cerci, que era uma delícia de cadela, mas outros vieram substituí-la, elementos fundamentais de educação para a vida daqueles que nasceram diferentes, mas a quem a ternura diária de um animal nunca deixa indiferentes.
            Sonhei ou, na instrução primária, eu tinha num dos livros o texto com o título «Animais, nossos amigos»? Acho que sim. A frase (de quem será?) constitui, aliás, corrente lugar-comum, com, se calhar, milhões de referências na Internet. Nem sempre, porém, disso se tem consciência plena; e, em tempo de férias, fácil e vilmente se abandona quem, sem nada pedir, fez as delícias do seu Inverno.
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 621, 01-08-2013, p. 16.
 

O parque da Pampilheira

            Este é um assunto que conseguimos não ficasse definitivamente na prateleira, depois de mais de duas décadas de luta.
            De acordo com a legislação em vigor, um urbanizador foi obrigado a reservar uma parte do seu terreno para uso comunitário. Nessa época, década de 80 do século passado, era o ténis que andava na berra e, por isso, optou-se por, no terreno deixado vago a nascente da Rua Júlio Dinis, no Bairro da Pampilheira (nessa altura, ainda a rua que o serve, a actual Mário Clarel, não tinha nome), se fazer campo de ténis. Nunca teve, porém, grande uso e, perante a degradação, por diversas vezes se pôs a hipótese de a Junta de Freguesia propor para o local outra utilização que servisse a comunidade.
            No final de 2008, surpreendentemente, a população é avisada que não estacione o carro na rua, porque vai começar ali a obra de um Centro de Cidadania Rodoviária de que nunca se tinha ouvido falar; nem o presidente da Junta estava ao corrente e o próprio presidente da Câmara não soube de imediato responder ao que se lhe perguntava a esse respeito. Dava a impressão de ter sido algo vindo do etéreo, porque o normal, numa circunstância destas, era os moradores terem sido informados com alguma antecedência e até serem chamados a dar o seu parecer. Não foram. E, mui sabiamente, o projecto não foi por diante. Deve jazer numa gaveta qualquer dos serviços camarários, pois que nunca mais dele se ouviu falar.
            Acertou-se, então, com a presidência da Câmara que, enfim, se daria andamento a um processo parado no tempo. E parado voltou a ficar, apesar do projecto feito, até que – também inopinadamente – surge a ideia de ali se implantar a loja da Cozinha com Alma. Nova reunião de moradores, nova interpelação à Câmara e, mercê do diálogo que se logrou estabelecer, acertou-se na instalação da loja e na simultânea (ou quase) concretização do parque.
            A inauguração do Parque da Pampilheira (exacto, fica na Pampilheira e não no Cobre, como foi divulgado pela Divisão de Marca e Comunicação do Município) ocorreu na manhã do passado dia 20 de Julho. Uma cerimónia singela, a que assistiram algumas dezenas de moradores, entre os quais (registe-se) se contou Pedro Mota Soares, do elenco governamental. Após o descerramento da placa, o Presidente da Câmara teve ensejo de informar as crianças de que se optara por um amplo espaço relvado, em vez do tradicional campo de jogos, atendendo ao facto de anteriores experiências nesse domínio terem provocado mais conflitos do que serviço à vizinhança. Assim, a relva irá crescer, a refrescar a pista de bicicletas e o parque infantil, junto à loja da Cozinha com Alma, possibilitará recreio para a pequenada. Há zona de estar e, na parede norte, um bonito mural explica «Já não tens idade para andar de triciclo»! – forma alegre de alegrar o espaço. Os moradores viram também organizada a área de estacionamento.
            Congratulamo-nos, pois, com esta realização, mormente pelo que ela contém de paradigmático, no envolvimento que a população soube dar e na resposta que o Município e a Junta de Freguesia (que, naturalmente, vai superintender na manutenção do espaço, na mais ampla colaboração com os vizinhos) lograram dar, para conforto de todos.




Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 9, 31-07-2013, p. 6.