A cerimónia foi precedida pela
apresentação, muito aplaudida, de algumas significativas passagens da revista ora
em cena no Gil Vicente pelo Grupo Cénico da Associação Humanitária dos Bombeiros
Voluntários de Cascais. Um apontamento gracioso que serviu para mostrar que
teatro não é apenas o que se vê em palco mas toda uma estrutura que o sustenta
nos bastidores.
Compuseram a mesa os dois autores, o
presidente da Câmara, o presidente da União de Freguesias Cascais – Estoril
(editora do volume, que se destina exclusivamente a ofertas) e o presidente da
direcção da Associação. Todos teceram rasgados elogios à oportunidade da obra,
à excepção, evidentemente, dos dois autores, que tiveram palavras de reconhecimento
a quantos os haviam ajudado.
São, ao todo, 560 páginas, em que,
passo a passo, se dá conta do que fizeram as várias companhias de teatro da
freguesia: onde, como, quando e com quem. Valem as ilustrações quer de cenas
quer, de modo especial, dos cartazes ou folhetos de propaganda, que representam
elementos históricos do maior valor. Na verdade – e isso justifica também a
enchente desse final de tarde do Dia Mundial do Teatro, 2ª feira, 27 – estamos
perante um livro com pessoas dentro. Pessoas em múltiplas fotografias e pessoas
mencionadas no elenco de cada peça, que houve o cuidado de referir.
Não se pense, porém, que apenas se alude
ao que aconteceu no Gil Vicente, por onde, aliás, passaram nomes maiores da
cena portuguesa: Eunice Muñoz, Lourdes Norberto, Maria do Céu Guerra… Não! Até
as revistas encenadas nos centros de dia ou as peças levadas à cena nas
colectividades locais. Estou a recordar a Sociedade Musical de Cascais, o União
Recreativa da Charneca, o efémero grupo da Chesol, o que chegou a fazer-se na
Sociedade Familiar e Recreativa da Torre… Claro, há destaque para o Grupo
Cénico, pela sua actividade, e merece relevo a presença constante do Teatro
Experimental de Cascais, que tem levado o nome da vila além-fronteiras, sob a
proficiente batuta de Carlos Avilez, João Vasco e seus mais directos
colaboradores. Mas se o espaço Confluência (hoje Teatro Helena Torrado) teve,
por enquanto, vida efémera, quer pelo precoce falecimento de Helena quer porque
Ricardo Carriço anda envolvido nas telenovelas, menção à parte merece o novel Palco
Treze, onde – mormente no palco do Auditório Fernando Lopes Graça, no Parque
Palmela – labutam antigos alunos da Escola Profissional de Teatro de Cascais.
Isto para dizer que o volume ora
dado à estampa, graças à clarividência do Executivo da Junta (o senhor
presidente da Câmara reconheceu que o Executivo Municipal, nos últimos tempos,
descurara um pouco a política das publicações), esse volume mostra à saciedade
que Cascais sempre foi uma vila onde o Teatro reinou em toda a sua exuberância.
O velhinho Gil Vicente, nos tempos da Monarquia, quando os reis por aqui
veraneavam, tinha constantes atracções teatrais com os melhores artistas da
capital…
Folhear com atenção as 560 páginas
de «Teatros de Cascais» é, pois, um regalo para a alma, um hino à tenacidade de
quantos, roubando tempo à família (por exemplo), não hesitaram – e não hesitam
– em mostrar que, afinal, o que o teatro nos traz é uma permanente reflexão sobre
o nosso sentido da vida!
Um forte aplauso, pois, à exemplar
tenacidade dos autores, extensivo, claro, a todos aqueles que «vivem» nas
páginas do livro agora apresentado.
José d’Encarnação
Fotos gentilmente cedida por Marques Valentim.
Publicado em Cyberjornal, edição
de 29-03-2017: