quinta-feira, 27 de maio de 2010
Os leques – arte e história
Terminou no domingo, 23, a exposição de leques da Ásia e da Europa do século XVIII, que esteve patente, desde 13 de Abril, no Museu de Artes Decorativas Portuguesas, em Lisboa.
Não me foi possível escrever um apontamento sobre esta singular mostra a tempo de incitar o leitor a ir visitá-la, do que peço desculpa; no entanto, para a História, como sói dizer-se, não queria deixar de aproveitar, ainda que tardiamente, para dar o meu testemunho acerca do que ali se viu.
Constituindo parte da colecção que Marionela Gusmão, directora da revista «Moda & Moda», foi fazendo ao longo dos anos e das suas viagens, os leques expostos mostraram como, para além do seu elevado valor estético, um simples objecto à primeira vista somente utilitário (para refrescar as faces e, de quando em vez, disfarçar olhares indiscretamente sedutores…), acaba por, bem analisado na decoração que ostenta, retratar costumes, ambientes, hábitos… Toda uma história das mentalidades, no seu toque eminentemente social, ali está espelhada!...
No nº 102 de «Moda & Moda», relativo à Primavera/Verão deste ano, incluiu Marionela Gusmão um amplo e sugestivo texto de sua autoria (p. 22-31), profusamente ilustrado, a dar conta desta paixão e a explicar como os leques, esta «arte milenar de grande riqueza» e ilustradora das «mais diversas temáticas», acabam por ser, amiúde, «como uma história de amor que recria o quotidiano, uma celebração suprema de pormenores, sinfonia de detalhes, feminilidade original…».
Optou-se, aqui, pelo século XVIII, porque se desejava ilustrar, em cada sala do museu, um que outro aspecto com que os móveis ou as pinturas também se poderiam relacionar. E o todo resultou às mil maravilhas, maravilhando quem teve ensejo de apreciar.
O nosso voto é que se não fique por aqui. Há preciosidades, como o são estas, que não podemos guardar só para nós – e nem esse é o estilo de Marionela Gusmão, como incessantemente o demonstra nas páginas da sua revista, onde harmonicamente se casa a Moda com a Cultura. E não se veria com maus olhos, não – antes pelo contrário! –, que, num dos museus camarários cascalenses onde a tónica do quotidiano vivido predomina, viéssemos a poder-nos regalar também com preciosidades tamanhas.
Publicado no Jornal de Cascais, nº 221, 25-05-2010, p. 6.
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