(Ericeira, 1923; Cascais, 07-05-2010)
Conheci o Padre Miguel Barros como estudante, na década de 50, e como seu colega na docência, nas décadas de 60 e 70; mesmo depois de eu ter deixado de ser professor na Escola Salesiana do Estoril, continuei a acompanhar a sua actividade. Ou seja, um conhecimento de mais de 50 anos… uma vida!
Duas imagens me ocorrem, pois, no momento em que evocamos a sua memória.
Primeira: o professor de desenho, rigoroso, austero mesmo, exigente, uma «fera» (!), que sabia, porém, dosear a disciplina com o necessário incentivo.
Quando se homenagearam os seus 80 anos, dando o seu nome à sala onde habitualmente leccionava, aí se escreveu também «nulla dies sine linea» (‘nenhum dia sem uma linha’), frase atribuída ao pintor grego Apeles, que bem se enquadra no espírito salesiano de minucioso aproveitamento do tempo e de constante aprendizagem.
A segunda imagem é a do salesiano que interiorizou bem a pedagogia preventiva de D. Bosco, levando o estudante à prática do desporto, neste caso o hóquei, que foi a sua ‘paixão’ e que tornou a Associação da Juventude Salesiana, que fundou, no maior alfobre de hoquistas do País, nos anos em que esta modalidade detinha, na linha de Cascais, inigualável prestígio. Foi, nesse aspecto, um educador de primeira, exemplar, pois logrou ‘inventar’ um meio para os jovens, no autodomínio, na organização, obterem a formação completa e adequada. Era vê-lo, diariamente, no intervalo do almoço e mesmo após as aulas, no ringue de patinagem, a exigir cada vez mais empenho por parte dos que por essa modalidade se deixaram também apaixonar.
O hóquei fez parte do seu projecto educativo; no campo de jogos, o Padre Miguel estava lá; como nós, os outros professores, nesse tempo, não nos caíam os parentes na lama nem perdíamos a respeitabilidade por, no pátio, jogarmos voleibol, ténis, futebol com os nossos estudantes. Essa era a pedagogia de D. Bosco, fundador dos Salesianos. E tempo havia para a podermos praticar. E esse exemplo o Padre Miguel eloquentemente nos deixou.
Que descanse em paz!
Publicado no Jornal de Cascais, nº 219, 11-05-2010, p. 6.
Sem comentários:
Enviar um comentário