Quando, em 1972-1973, concluí, no Museu Nacional de Arte Antiga (Lisboa), o Curso de Conservador de Museus, dava a Museologia em Portugal os seus primeiros passos no sentido de uma reformulação das técnicas expositivas, dos conteúdos, da abertura do Museu à comunidade, designadamente à comunidade escolar através dos Serviços Educativos, que estavam então a iniciar-se.
Criara-se, a nível internacional, o ICOM (International Council of Museums) e, entre nós, a APOM (Associação Portuguesa de Museologia), de que me orgulho de ser o sócio nº 17, congregava as pessoas directa ou indirectamente ligadas à problemática museológica, na linha do que o grande mestre João Couto, director do atrás referido Museu Nacional de Arte Antiga, preconizava.
O fermento lançado nesse dealbar da década de 70, a que os ideais de Abril de 74 deram força, acabou por obter excelentes resultados, mormente porque o Museu Gulbenkian, inaugurado em 1969, criado de raiz segundo uma concepção totalmente inovadora e a sua equipa depressa foram considerados pioneiros na solução de muitos dos problemas que afectavam os museus, nos seus mais variados aspectos.
O Museu Monográfico de Conimbriga (criado em 1962) foi então renovado já dentro das novas concepções museológicas. As teorias dos ecomuseus começaram a ser postas em prática no Ecomuseu do Seixal, na margem esquerda do Tejo. As equipas dos próprios museus nacionais repensaram a reestruturação urgente a fazer.
Surgira, entretanto, no seio da Secretaria de Estado da Cultura, o Instituto Português do Património Cultural, com uma secção especialmente dedicada à Museologia, hoje Instituto dos Museus e Conservação, organismo que – com a criação da Rede Portuguesa de Museus e as publicações e iniciativas a que prontamente os seus dirigentes lançaram mão – imprimiu um dinamismo imparável quer aos museus dependentes do Estado quer, concomitantemente, aos museus regionais e aos museus dependentes das autarquias e, até, das empresas.
Cinco aspectos há, pois, a referir:
1º) Nos últimos anos, diversas universidades portuguesas (Coimbra, Évora, Universidade Lusíada e Universidade Nova de Lisboa, por exemplo) criaram cursos especificamente destinados a formar pessoal técnico especializado em Museologia, sendo já muitas as dissertações de mestrado e, até, de doutoramento, defendidas e inclusive publicadas. E revistas especialmente dedicadas a temas museológicos.
2º) Estar integrado na aludida Rede Portuguesa de Museus oferece a um museu, para além do prestígio, uma série de prerrogativas, pois essa integração obedece a uma série de prévios requisitos, fundamentais numa instituição museológica. Por isso, o movimento de renovação tem sido muito grande e eficaz.
3º) A crescente globalização, com o seu carácter uniformizador, também aqui tem exercido benéfica influência, pois cada vez mais se privilegia a identidade local, o que traz como consequência a criação de inúmeros museus locais, a maior parte das vezes ligados em rede como pólos museológicos, tendo em vista uma melhor gestão e dinamização.
4º) Deixaram de ser os museus locais passivos, aonde se vai uma vez e… fica visto! As iniciativas – quer no âmbito dos Serviços Educativos quer no que concerne às exposições temporárias (cada vez mais cuidadosamente preparadas) – multiplicam-se.
5º) Existe, entre outros, como privilegiado veículo de comunicação e informação entre museus e o público, a lista museum, com o endereço museum@ci.uc.pt. Criada em final de Dezembro de 2006, tem, neste momento, 776 membros e através dela já foram difundidas, até às 17 h de 10 de Janeiro de 2010, 3356 mensagens, cujo arquivo pode ser consultado em: http://ml.ci.uc.pt/mhonarchive/museum/
Enfim, constituem os museus em Portugal uma realidade com as dificuldades próprias de todas as instituições culturais da Europa comunitária, mas cujos responsáveis teimam em não cruzar os braços perante as adversidades!
Publicado em Portugal-Post [Hamburgo], nº 47, Maio de 2010, p. 11 e 12.
[versão portuguesa com tradução em Alemão].
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