O comentador de economia da Antena 1, na rubrica «Contas do Dia» de sexta-feira, 4 de Fevereiro, teve, por diversas vezes, na boca, as palavras «incrível», «inacreditável», a propósito das novas regras que, nesse dia, entraram em vigor no que concerne à sobrecarga de impostos aí prevista, incompreensíveis para ele (especialista na matéria) e, claro, muito mais incompreensíveis para o cidadão comum que vive do seu trabalho e não pode fugir a esses impostos.
Na verdade, mais uma vez fica provado que o Estado não é uma pessoa de bem, ao obrigar-nos, por exemplo, a pagar juros ou faz de conta que nada nos deve quando, por qualquer motivo, não podemos satisfazer as nossas obrigações fiscais e ele, Estado, quando não cumpre, se está positivamente borrifando e paga quando paga e… sem juros!
Referiu-se de novo, no longo rol de iniquidades, que a retenção na fonte, para efeitos de IRS, era sempre muito superior ao devido e isto constituía um empréstimo forçado ao Estado, que só reembolsa muito tempo depois e… sem juros!
«Inaceitável», «inacreditável» também porque – segundo penso – quem propõe e quem promulga essas leis iníquas devem ser (ou deveriam ser!) pessoas como nós, cidadãos passíveis, também eles, de sofrer na pele essa injustiça. Ou não serão?...
Custa-me muito, confesso, ver o Estado assim, qual abutre serenamente à espera da nossa morte, para se saciar das nossas míseras carnes.
Pior que tudo é que é um abutre sem rosto, que ataca pela calada da noite, insaciável devorador dos desprotegidos. É a sorte dele, o miserável! Que, se rosto tivera, até os ossos lhe tarrincaríamos nós, antes de ele ter o gosto de nos tarrincar os nossos!
J. d’E.
Publicado no Jornal de Cascais, nº 254, 16-02-2011, p. 6.
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