Dentro dum pedaço de jornal colocava-se a porção de pólvora em grão considerada suficiente. Descarnava-se a ponta do rastilho (um cordão preto, que se comprava em rolo); aconchegava-se com jeito dentro do punhado de pólvora; apertava-se muito bem e procedia-se à operação de levar tudo, mui cautelosamente, até ao fundo.
Atacava-se depois o tiro, ou seja, torranitos de argila bem secos, esfarelados à mão, eram calcados com a ajuda da tal vareta que dantes servira para tirar o pó; o rastilho aninhava-se num dos rasgos feitos pela arraiadeira. Importava que a compressão ficasse maciça.
Ficava de fora pouco mais de um palmo de rastilho. Uma chapa de zinco, uns taipais, ramagens de pinheiro estavam, agora, ali, à mão de semear, para rapidamente se porem em cima. Os trabalhadores haviam-se retirado. Os canteiros, avisados, largam as ferramentas e aproveitam para um púcaro de água ou o cigarrito de mortalha no alpendre. O cabouqueiro fica. Olha derredor. Puxa do isqueiro e… «Foooogo!».
Tem quase um minuto para acamar as tábuas, a chapa, as ramagens e foge para o abrigo. O estoiro ecoa pelos bancos; saltam as ramagens, num susto fumacento; há estilhaços de pedra pelos ares…
Serenamente, vai observar-se o resultado: se rachou como se pensara, se não houve um veio a estragar tudo, se o bloco se irá aproveitar bem. E, de esboço das encomendas na mão, já se combina como vai agora esquartejar-se – qual lombo de animal abatido para a melhor refeição!...
Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel], nº 146 (Março 2011) p. 10.
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