Aproxima-se a campanha eleitoral. Desta vez, houve solene promessa, por parte dos grupos de interesses partidários, de que se diminuiria drasticamente a poluição visual dos excessivos cartazes.
Também se perdeu o hábito de pintar essa propaganda nas paredes, reservando-as – em jeito de Muro das Lamentações… – para os lancinantes gritos da indignação popular contra os abutres.
Pompeios foi, como se sabe, a cidade romana que – juntamente com Herculano – ficou subitamente soterrada pelas lavas vomitadas pela erupção do vulcão Vesúvio, no ano 79 da nossa era. Mortífera para toda a população (raros terão sido os que lograram escapar), a lava consolidou depois e, sob essa imensa camada, tiveram os arqueólogos, a partir de 1748, a surpresa de encontrar o instante da morte, uma cidade que de repente parou. Cenas tocantes de amor – no gesto da mãe a proteger o filho, dos cônjuges que se enlaçam no momento da partida…
E, nas paredes das casas que dão para as ruas, subsistia, pois, a colorida pintura dos dizeres de veementes campanhas eleitorais.
Eram as cidades romanas governadas pelos duúnviros, o correspondente ao nosso presidente da Câmara. Dois – para que as decisões fossem tomadas de comum acordo. Num cargo de duração anual (o tempo, nessa altura, escorria mais devagar…) – para que se não criassem vícios e se mantivesse saudável rotatividade. E, para ratificar deliberações mais importantes, lá estava a assembleia dos decuriões, constituída pela sábia experiência dos magistrados anteriores…
Pois são esses nomes que aparecem nas paredes de Pompeios, seguidos, por exemplo, da palavra ROG(at), «pede» o teu apoio para o elegeres… Por aí sabem os historiadores quem eram as famílias influentes. Por aí se sente, afinal, mais de dois milénios passados, o pulsar duma cidade viva!
Publicado no quinzenário de Mangualde, Renascimento, 01-05-2011, nº 569, p. 13.
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