Havia,
porém, um outro entretenimento, que interessava ambos os sexos: a criação de
bichos-da-seda, uma dor de cabeça para os pais que tinha de dar tratos à imaginação
para descobrirem onde havia amoreiras para ter as folhas de que as lagartas se
alimentavam.
Lá
estavam elas nas caixas de sapatos que iam e vinham de casa para a escola,
«quantas tens?», «dá-me uma folhinha!»… E era toda uma aprendizagem: como é que
uma lagarta, a determinado momento, amuava, desatava a tecer um casulo, se
escondia lá dentro meses a fio e, um belo dia, saía de lá uma borboleta, que importava
não deixar fugir, para que ali mesmo pusesse os ovos, donde sairiam futuras
lagartas… Um ciclo de vida, em que apenas a morte era aparente e a esperança
numa ressurreição se mantinha sempre bem viva!
Tínhamos
a ideia (a professora explicava) que dos casulos, sujeitos a determinados
tratamentos, se poderiam obter fios de seda, a matéria-prima de que se urdiam
tecidos ricos, com que outrora os Chineses faziam fortunas e até havia uma
«rota da seda», pela qual andou, se não erro, um tal de Marco Pólo!...
Porque
me lembrei agora, passados 50 anos, desses tempos de infância? Porque, ao ler
um trecho sobre Bernardino Machado, vi que legislara sobre a criação de bichos-da-seda
e, consequentemente, do apoio a dar, no nosso País, à produção de seda. E
recordei de imediato que, no âmbito da recuperação
do património local, a Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros, por exemplo, lançara, na década de 90, o programa «Os Caminhos da Seda», que incluiu o projecto do
Centro Interpretativo do Real Filatório, de Chacim, nascido no reinado de D.
Maria I.
A crise vai
fazer-nos regressar à terra. Talvez se regresse também à seda – porque não?
Publicado no
quinzenário Renascimento (Mangualde), nº 602, 15-10-2012, p. 4.
Daniel de Sá, ilustre investigador açoriano, escreveu-me no dia 20:
ResponderEliminar«Se calhar descobri a razão por que o então dono (marido da herdeira)
da Fábrica de Chá da Gorreana, aqui da Maia, fez uma plantação de
amoreiras e obteve mesmo seda. A família ainda guarda uma peça de pano
de quarenta metros. Ele tinha-a deixado para os vestidos de noiva das
descendentes, que resolveram não a estragar. Vou perguntar à nora ou à
neta se tal criação terá tido algo que ver com a vontade de Bernardino
Machado, pois coincide no tempo e ele, o Sr. Jaime Hintze, era um
homem muito culto e a par de tudo o que se passava por este mundo.
Chegou a ser governador do distrito.»
Agradeço-lhe a atenção!