Fruto da eficaz colaboração da
Fundação D. Luís I e da Câmara Municipal de Cascais com a Espírito Santo
Cultura, do Rio de Janeiro, e o Instituto Moreira Salles, de São Paulo,
detentor da colecção, enquadra-se a mostra nas iniciativas que pontuam o «ano» escolhido
para consolidar as relações entre os dois países irmãos; e detém particular
significado, se considerarmos que os desenhos expostos retratam aspectos da paisagem
física e humana de Portugal e do Brasil, nos anos de 1825 e 1826, altura em que
se processavam as negociações para o reconhecimento oficial, por Portugal, da independência
do Brasil, tendo uma delegação do Reino Unido servido de intermediária, pois,
como se sabe, era esse Reino o primeiro interessado em colher benefícios dos
bons resultados que viessem a ser obtidos. Saíram esses documentos do génio do
britânico Charles Landseer (Londres, 1799-1879), incumbido oficialmente de
assim perpetuar o que via vendo e lhe parecia deveras significativo (não havia,
ainda, a fotografia…).
Esse, o primeiro aspecto, portanto:
a selecção feita pelo artista, sintoma evidente da sua mentalidade, da sua
cultura e, até, da sua vontade de intervir.
Depois, a excepcional beleza do
minucioso traço e do ténue colorido – que quase milagrosamente assim chegou até
nós.
Em terceiro lugar, ainda que sempre
se possa especular acerca de um ou outro pormenor, onde, naturalmente, o artista
quiçá deu azo à sua imaginação, a missão de que fora incumbido decerto o obrigou
a ser o mais rigoroso possível, quando se dispôs a passar ao papel o que
presenciava – paisagens, edifícios, pessoas… Por conseguinte, a cena do escravo
a ser flagelado é bem capaz de mesmo assim então se passar habitualmente; a
mole da Torre de Belém, vista aqui de um ângulo a que não estamos habituados,
ou seja, de poente para nascente, tendo ao fundo a margem esquerda do Tejo, vai
também merecer, decerto, alguma reflexão por parte dos historiadores de arte
(se é que não a mereceu já), porque há pormenores aí bem diversos do que hoje
nela se enxerga; o instantâneo dos aguadeiros junto a um dos chafarizes de
Lisboa documenta uma actividade bem conhecida, mas elucida melhor que qualquer
descrição de como eram os trajos, os pipos, a afluência…
Houve, finalmente, por parte do
Instituto Moreira Salles, a preocupação de preparar, sob proficiente organização
de Leslie Bethel, exaustivo catálogo dos mais de 300 desenhos e aguarelas. Desse
extraordinário volume ora se fez «réplica», não menos elucidativa e aliciante:
o breve catálogo editado pela Fundação D. Luís I, com textos dos intervenientes
no processo e reproduções, numa concepção de Nuno Lemos e Rita Ribeiro da Silva
(ISBN: 978-972-8986-67-4).
Trata-se, consequentemente, de bem valiosa
iniciativa.
Muito concorrida a inauguração, no final da tarde do dia 20 de Setembro.
Além dos anfitriões (responsáveis pela Fundação), esteve o presidente da Câmara
Municipal, que acompanhou na visita o Comissário do Ano de Portugal no Brasil,
Horta e Costa, a Presidente da Espírito Santo Cultura, Maria João Bustorff, o
embaixador do Brasil em Portugal (Mário Vilalva) e o director executivo do
Instituto Moreira Salles (Raul Manuel Alves).
No final, foi servido um beberete no
pátio interior do Centro Cultural.
A exposição estará patente de terça
a domingo, das 10 às 18 horas, até 27 de Janeiro.
Publicado na edição de 2-10-2012 do Cyberjornal:
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