sábado, 23 de fevereiro de 2013

Centro de Interpretação Ambiental da Pedra do Sal, onde o olhar se espraia e se deleita…

           Inaugurado a 7 de Setembro de 2005, o Centro de Interpretação Ambiental da Pedra do Sal (CIAPS), em S. Pedro do Estoril, constitui um daqueles recantos onde o olhar se espraia e o espírito se deleita na aprendizagem de múltiplas ciências, desde a Arqueologia à Geologia, passando até pela estratégia militar… Vale a pena ir lá – uma e outra vez!

Uma visita
            E fui lá de novo aqui há uns tempos, precisamente a 11 de Junho de 2011.
           O painel de boas-vindas ainda tem o nome primeiro (de Ponta do Sal) e anuncia o que há: cafetaria, sanitários, zona de estada (esplanada, praça exterior, miradouro – algumas letras foram roubadas…), anfiteatro, património... Indica o horário (encerra às segundas) e informa que nasceu da iniciativa do Instituto da Água em colaboração com a Câmara Municipal de Cascais.
            Passei junto do que resta da gruta pré-histórica; apreciei o piso de gravilha consolidada, em quadriculado de paralelepípedos em calçada à portuguesa; achei bonitos os moroiços de lioz em lascas e de fragmentos do lapiás, por onde espreita alegre vegetação xerófila.
            Para oriente, a praia de S. Pedro, nesse dia pejada de gente; mais além, o folheado da falésia até à Parede. Ao fundo, o dorso preguiçoso da Arrábida, a desafiar o oceano do alto do seu Cabo Espichel. Em frente, o mar sem fim – o «caminho do Atlântico»… – , ponteado de cargueiros à espera de vez para entrar na barra...
           Desce-se para o miradouro virtual, bem publicitado, mas… inoperacional e sem qualquer informação por perto. E é, à frente, a imensa placa do lapiás, com uma idade entre os 90 e os 120 milhares de anos, «extensa e horizontal plataforma de abrasão resultante da grande exposição aos agentes erosivos», onde a água, retida na vazante, acabava por se evaporar e deixar nas concavidades o precioso sal, que os pescadores aproveitavam – daí a razão do nome: Pedra do Sal. Pesca-se à cana, aqui e além…
           E apetece regalar-nos na esplanada. Sim, poder-se-ia ir para poente, que há motivos de sobejo encanto: o anfiteatro, a paisagem, a vegetação autóctone, o ar puro…

As grutas pré-históricas
            É importante, do ponto de vista histórico, o espólio encontrado nessas grutas aquando das escavações ali levadas a efeito, em 1944, por Leonel Ribeiro, que – juntamente com dois outros arqueólogos, Vera Leisner e Leonel Ribeiro – haveria de publicar a monografia Grutas Artificiais de S. Pedro do Estoril (Lisboa, 1964), a dar conta dos resultados obtidos.
           Dentre esse espólio – como, aliás, reza a folhinha desbotada e com 20 linhas de letra miúda que está junto à arriba – as taças de pé, de cerâmica, e os anéis espiralados de ouro são, sem dúvida, os mais conhecidos. E os cilindros de calcário, «objectos rituais relacionados com pequenos santuários», escreve-se. Linguagem difícil de entender para o visitante médio, quiçá…
          Podem ver-se esses materiais na Sala de Arqueologia do Museu dos Condes de Castro Guimarães; mas, se calhar, não ficaria mal maior atenção e realce a esse invulgar vestígio arqueológico, nomeadamente procedendo a periódicas limpezas do local (propício a vazadouro de lixo) e erradicando as piteiras que lá crescem. Uma das fotos de Danilo Pavone que ilustram a folhinha mostra a arriba à noite, com três pontos de luz. Adequada iluminação do espaço que subsiste da câmara funerária dessa gruta de há 5000 anos atrás não seria, de facto, despicienda.

Artilharia de costa
           Dois dos edifícios de pedra que se encontram a caminho da plataforma do miradouro virtual estão directamente ligados à bateria da Parede. Abriga um deles um projector com a seguinte identificação em placa que lhe está afixada:
 
PROJECTOR FORTRESS 90 C/M MKVI
CLARKE CHAPMAN
Nº 8136
1940

            É imponente, o mecanismo oleado, o pavimento limpo. Sobre ele (deve ser adorno!...) uma embalagem vazia de cones de gelado. Na vidraça envolvente, grafitos vários a roxo e verde…
            Anote-se, como curiosidade, que a empresa fabricante foi criada pelo engenheiro inglês William Clarke, em 1864; a designação Clarke Chapman deriva do facto de, em 1893, se ter associado ao capitão William Chapman. Da sua actividade realce-se o fabrico, a partir de 1886, de projectores para uso a bordo de navios e, a partir do ano seguinte, de geradores portáteis e de faróis de busca destinados aos navios que passavam pelo Canal de Suez.
            A explicação do significado da implantação do projector ali está mais acima, perto da outra casinha – essa, hermética, de janela com grades e impenetrável, abriga o gerador. Uma folha de 14 linhas, em corpo 12, quase completamente indecifrável. Fala-se em II Guerra Mundial, em Plano Barron, em forças alemãs… É referência à reorganização da artilharia antiaérea e de costa, feita no final da década de 40 (os projectores foram instalados em 1948) para melhor defesa da barra de Lisboa. «Cada bateria de Artilharia de Costa estava equipada com três projectores que tinham por função cooperar na defesa nocturna». Neste caso, a bateria estava lá no Alto da Parede e o projector acendia-se cá em baixo, quase ao nível do mar, para identificar os navios.

Uma lição de geologia
            Atenção muito especial merece o opúsculo Guia de Campo da Geologia do Litoral da Pedra do Sal, da autoria de Miguel Magalhães Ramalho.
            Ilustrados com magníficas fotografias, de extraordinária beleza e muito elucidativas da riqueza geológica do local, são explicados tintim por tintim quatro percursos, onde se ensina a ler as rochas e a apreciar a sua rara beleza. A história da Terra escrita no solo…

«Ponto de encontro com o ambiente»
            E, na verdade, o CIAPS representa, de modo muito especial, esse ponto de encontro com o ambiente, especialmente vocacionado para apoiar actividades escolares e outras (ainda no dia 15 lá se foi ver o eclipse da Lua!...). «Há biodiversidade na Pedra do Sal», «Encontra o tesouro do Capitão Concha», «Vem construir um herbário», «Os caminhos da gotinha», «Sábados divertidos»… são algumas das dez actividades que ora ali se propõem, com horários próprios e inscrição prévia, para crianças dos 3 aos 10 anos.
           Apoio fundamental é o Espaço Multiusos, de traça bem integrada na paisagem, sala de exposições e de atendimento, auditório com 36 lugares. Alimentam-no 5 microturbinas eólicas (um projecto classificado em 1º lugar, a 27 de Janeiro de 2010, na área de «gestão de energia – parceiros para a inovação»).
           Dois atenciosos jovens, ali colocados no âmbito do programa camarário de Ocupação dos Jovens, amavelmente me proporcionaram todas as explicações, mormente as que se prendiam com a exposição de trabalhos de escolas básicas do concelho feitos à base de materiais reaproveitados; patente de 30 de Maio a 27 de Junho, incitava o público a premiar o que considerasse o trabalho mais bem conseguido nessa tónica de alertar para a biodiversidade e a defesa do ambiente.
           Para além dos painéis explicativos, registe-se a instalação de um “Touch Tank”, «pequeno aquário, que pretende reproduzir à escala o ecossistema da “poças de maré” existente na ZIBA – Zona de Interesse Biofísico das Avencas».
           S. Pedro do Estoril merecia, de facto, um lugar assim!

Publicado no Cyberjornal, edição de 23-02-2013:

 

1 comentário:

  1. INFLUÊNCIA DO AMBIENTE NA A.M.L. (ÁREA METROPOLITANA DE LISBOA) SOBRE A SELECÇÃO DA PEDRA CALCÁRIA DE LIOZ
    Descrição do livro:
    O presente estudo, resulta da adaptação de uma tese de mestrado, apresentada junto da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, no âmbito do Curso de Mestrado em Tecnologia da Arquitectura e Qualidade Ambiental, realizado entre 1993 a 1994. Visa essencialmente determinar os motivos históricos, compreendidos no período da alimentação da economia Portuguesa, pelo ouro derivado da colónia do Brasil, e viabilidade funcional no uso, que levaram à preferência na adopção da pedra calcária de lioz, para fazer face às características do ambiente na A.M.L. (Área Metropolitana de Lisboa), aponta similarmente precauções a ter na sua utilização e aplicação construtiva. Tendo como base a selecção de quatro localidades para amostras, expostas ao mar, interior urbano e rural, identificando as patologias e razões do seu desenvolvimento, fornecendo também indicações para as contrariar. Finalizando com o estabelecimento de um nível de ponderação de importância a dar, nas suas propriedades físicas e químicas, no sentido de proporcionar um método de selecção deste tipo de pedra, na substituição em edifícios existentes, tirando proveito desses parâmetros para servirem ao mesmo tempo, na selecção da pedra calcária de lioz, na construção de novos edifícios.



    Edifícios analisados: Palácio Ratton em Lisboa, Torreão Oriental da Praça do Comércio em Lisboa, Igreja de Nossa Senhora da Consolação em Arrentela e Igreja da Nossa Senhora do Monte Sião em Amora.

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    https://www.createspace.com/4877272
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    http://www.amazon.de/Influ%C3%AAncia-ambiente-A-M-L-selec%C3%A7%C3%A3o-calc%C3%A1ria/dp/150037234X/ref=pd_rhf_se_p_img_1

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    http://arqlaurindo.no.sapo.pt/

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