Mantém
o nosso director o – quanto a mim – assaz saudável hábito de aceitar as rimas,
mesmo que por vezes desajeitadas, que pontualmente lhe enviam seus fiéis
colaboradores. Não me canso de as ler, porque elas representam, à boa maneira
dos jograis de outrora, aquela forma esbelta, amiúde bem sarcástica e ‘venenosa’,
de escalpelizarem os acontec imentos,
as atitudes, as… políticas! Sempre a poesia dita popular teve esse condão de
acompanhar e, por isso, criticamente retratar o nosso quotidiano. E há no Noticias de S. Braz, invariavelmente,
uma página para os ‘nossos poetas’, independentemente de outras rimas se espalharem
por aqui e por ali, por vezes também ao sabor das necessidades de paginação .
E
para que se sinta quão importante é essa forma de encarar a realidade, leia-se
apenas a primeira sextilha de um dos folhetos que Vítor Barros me enviou:
No
dia dezassete de Agosto
Fez causar algum desgosto
De lutou vestiu São Brás,
Conhecido na freguesia
Toda a gente o conhecia
Aquele humilde rapaz.
Ficamos
a saber, pelos versos adiante, que o ferreiro João Adriano Passos Pinto morreu atropelado,
perto de Portimão, quando seguia na sua motorizada. Tinha 38 anos e deixou uma
filhinha. A letra é de António Gonçalves Dias (Cèguinho) e a publicação – lá vem escarrapachado no fim – foi ‘visada
pela Comissão de Censura»!
Bom
será que, inclusive no âmbito do Centenário, se lance uma campanha de angariação de folhinhas dessas (devem existir por aí,
perdidas nas gavetas, como coisa sem préstimo…) e se crie, na bibliotec a municipal, uma pasta que as conserve, acompanhadas
de elementos complementares. No caso vertente, toda a gente sabia; mas nós,
agora, como vamos descobrir em que ano morreu o João Adriano? Vai-se ao
Registo, claro; mas, se houver logo o cuidado de se fazerem essas averiguações,
a ‘pasta’ vai ficando enrique cida e
a nossa ‘memória’ também!
Publicado em Notícias de
S. Braz [S. Brás de Alportel], nº 215, 20-10-2014, p. 21.
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