Na
verdade, lá em casa, havia o gesto de espevitar o lume, remexendo as brasas com
a tenaz, como já se disse, ou no vaivém frenético do abanador circular de
empreita e pequeno cabo redondo, resultante de tronquinho mais direito de
carrasco ou de azinho. Meu pai «espevitava» os dentes com um pau de fósforo que
aparara a canivete, qual palito. Quando a torcida da lanterna ou do candeeiro a
petróleo criava borrão, lá se lhe dava uma tesourada, para… espevitar. E quando
se falava de mocinha mais… saída da casca, também lá vinha a palavra. E o moço
queria saber.
Tanto
rabiou comigo que acabei por ir ao dicionário: donde é que viria a palavra? De
algo de bem concreto deveria ser, por tão usado no dia-a-dia. E parece que sim:
virá de es + pevide + ar. Ou seja, tirar a pevide! E ‘faz todo o sentido’, como
hoje se diz: é como ‘sair da casca’!... Pevide dentro da casca não tem acção nenhuma. Urge tirá-la de lá! Espevita-te, homem,
não sejas molengas!
Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel] nº 189, Outubro de 2014, p. 10.
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