quarta-feira, 15 de julho de 2015

Solidariedade vence contrafacção

             O Inspector-geral da ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica), Pedro Portugal Gaspar, entregou na passada terça-feira, 7 de Julho, ao Centro de Apoio Social do Pisão, em Alcabideche (Cascais), 428 pólos que haviam sido apreendidos, por resultarem de uma contrafacção da marca La Martina. No protocolo assinado com a Santa Casa de Misericórdia de Cascais, instituição que tem a seu cargo a gestão do Centro, determina-se que a Misericórdia retirará dos pólos, antes de os pôr a uso, a respectiva etiqueta, como salvaguarda dos interesses comerciais e, naturalmente, para dar completo cumprimento ao objectivo da apreensão.
            Poderá o leitor admirar-se de, sem receio, ter indicado o nome da marca. A razão é simples: a de louvar! Na verdade, conforme Portugal Gaspar teve oportunidade de salientar, nem sempre uma atitude destas é possível, porque boa parte das firmas que viram os seus produtos alvo de contrafacção preferem que eles sejam queimados, em vez de, com as referidas precauções, serem entregues a instituições de solidariedade. Uma atitude que, por conseguinte, facilmente poderia modificar-se, para benefício de todos, uma vez que, da parte da ASAE, há o cuidado expresso de evitar qualquer hipótese de os produtos apreendidos voltarem a ser indevidamente comercializados.

As cores e os clubes
            O facto de os pólos serem de mui variadas cores proporcionou à Dra. Isabel Miguens, provedora da Santa Casa, a oportunidade de explicitar uma das preocupações presentes na instituição: a de se evitar o uniforme, a igualdade no trajar. São 340 os actuais utentes do Centro, todos eles com deficiências múltiplas, dependendo, por vezes, não de uma mas até de quatro pessoas; vêm de todo o país, enviados pela Segurança Social («As pessoas mais improváveis vêm aqui parar», sublinhou). Estes 428 pólos, na variedade das suas cores, vão também ajudar numa das prioridades que se procura ter: a higiene. Acima de tudo! Quando vão ao hospital ou quando se deslocam a repartições públicas, os utentes vão bem apresentados – e esse é um dos propósitos a, invariavelmente, cumprir.
            – Levámos 27 anos para individualizar as roupas! – afirmou a Provedora. E, neste caso, a disputa, a haver, situar-se-á fundamentalmente numa lógica clubista: Benfica / Sporting / Porto…
            Em resposta, Pedro Portugal Gaspar, fez questão em garantir que, para a ASAE, após a luta pela defesa dos legítimos interesses dos cidadãos, o segundo passo que procura dar é o da solidariedade, consubstanciado em gestos como este, que particularmente lhe agradou, pois a entrega permite dar um pólo a cada utente e até sobejam!

Uma visita sempre com surpresas!
            Após a cerimonia protocolar, que mui significativamente se realizou numa das salas do espaço museológico do Centro, a Senhora Provedora – que transborda de entusiasmo perante as melhorias que paulatinamente aí se vão introduzindo – fez questão em mostrar boa parte das instalações a Portugal Gaspar e à sua comitiva, a fim de poderem observar concretamente o funcionamento da instituição.
            E não há dúvida que temos sempre surpresas, mesmo aqueles que estão «por dentro» dos milagres que ali se operam, no quadro de uma população com tantos problemas, mormente de saúde mental.
            Na realidade, o objectivo diário não é apenas o de gerir o presente: procura-se incessantemente melhorar e, inclusive, desenvolver as capacidades dos utentes. E é um encanto passar, por exemplo, pelas salas de formação, onde com entusiasmo e dedicação se faz carpintaria, se costura, se confeccionam saborosos bolos…
            Mantendo-se activos e verificando que o resultado da sua actividade é apreciado e tem real utilização, os utentes mais facilmente se transformam, menos dificilmente encaram o seu dia-a-dia, que, assim, está muito longe de ser monótono. E ainda bem, inclusive para os mui devotados trabalhadores, cujo labor está, obviamente, muito longe de ser… «pêra doce»! Mas todos eles querem que… hoje seja um bom dia para sorrir!...

                                                                       José d’Encarnação
 
Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 101, 15-07-2015, p. 6.

2 comentários:

  1. Rita Vale, em 15-07-2015:
    Muito bem - dar matizes de cor a quem lhes resta uma vida tão cinzenta, onde a monotonia impera!

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  2. Uma acção solidária, ainda para mais cuidadosa como esta relatada, será sempre de louvar e incentivar. E de servir de exemplo, também. Na verdade, não se entende muito bem que as marcas vítimas de contrafacção possam impor a destruição de material apreendido - porquanto nem são propriedade factual sua, mas apenas usurpações de marca - podendo, antes, exigir a retirada da marca para eventual utilização humanitária, como foi o caso, e que será o bastante para acautelar o dolo pelo uso abusivo e ilegítimo da marca. E não se desperdiça o que a outros faz falta.
    Assim, também daqui vai o meu aplauso para a iniciativa e outro para a sua divulgação.

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