Atribui-se
aos Fenícios a criação do alfabeto, em que cada sinal (letra) representa um som,
de modo que a junção dos sons dá palavras – e por meio delas nos entendemos. Os
antigos egípcios, ao invés, começaram por usar desenhos, os hieróglifos, o que tornava
mais difícil expressar ideias e formar frases.
Para
as inscrições sobre pedra, os Romanos – e depois deles muitos povos – optaram
por usar abreviaturas ou siglas de palavras, cujo significado bem se compreendia,
por ser necessário poupar espaço.
Hoje,
multiplicam-se os chamados ‘emojis’ e ‘emoticons’, sobretudo nas comunicações
digitais. Reflectem emoções e sentimentos e… poupam trabalho!
O
escritor Christophe Clavé tem chamado a atenção para esse fenómeno do
empobrecimento da linguagem. É isso: em vez de escreveres «Gostei imenso do que
escreveste», tu pões um coração; em vez de fazeres uma declaração de amor, copias
um coração a palpitar. Ou seja, começas a não ser capaz de te exprimir, de
seleccionar as palavras correctas.
Esse, o perigo
para que Clavé chama a atenção, porque tudo isso faz parte de um plano universal
em que, se não estivermos atentos, acabaremos por ficar enredados. Escreve ele:
«O desaparecimento gradual dos tempos (conjuntivo,
imperfeito, formas compostas do futuro, particípio passado) dá origem a um
pensamento quase sempre no presente, limitado
ao momento: incapaz de projecções no tempo.»
E livros como
o célebre “1984”, de George Orwell, ou “Fahrenheit 451”, de Ray Bradbury, contam como todos
os regimes totalitários sempre procuraram ‘atrapalhar’ o pensamento, mediante a
redução do número e do significado das palavras.
É este, de facto, um enorme grito de alerta. Para todos.
Para os pais e educadores, em primeiro lugar.
José d’Encarnação
Publicado em Notícias de S. Braz (S. Brás de Alportel), nº 322, 20-09-2023, p. 7.