Estranhei a saudação, por há muito tempo a não ouvir. E fiquei contente por sentir que, afinal, as relações de vizinhança acabam, pouco a pouco, por vir ao de cima, numa época em que, dada a globalização e o estado a que isto chegou, mais necessidade temos de nos sentir próximos uns dos outros.
Uma proximidade que se manifesta pela saudação; pelo conhecimento do nome, da actividade que exerce, do agregado familiar que tem, quiçá do próprio número de telefone para uma emergência. Não é por bisbilhotice nem por obrigatoriedade de amizade ou de visitas de cortesia, mas simplesmente porque… somos vizinhos e estamos no mesmo barco!
Outro dia, uma vizinha deixara os mínimos do carro ligados. O Manuel fez menção de lhe ir bater à porta para avisar; mas logo os vizinhos clamaram: «Não vais! A senhora passa por nós nem nos dá os bons-dias nem as boas-tardes, vira a cara quando nós lhe falamos!…». Assim é, de facto, coitada! Se o alarme da casa dela tocar, ninguém se preocupará com isso!...
São fermento de vizinhança as comissões de moradores, os locais de encontro do bairro ou da aldeia, as rádios locais, a imprensa local…
Compreende-se, pois, que às autarquias caiba também importante papel na manutenção desses laços de vizinhança, absolutamente imprescindíveis em caso de aflições. Era bom que os autarcas percebessem que sem rádios locais e sem uma imprensa local, de proximidade, também a sua acção não é divulgada.
Publicado no Jornal de Cascais, nº 209, 02-03-2010, p. 4.
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