Nem sempre nos consciencializamos que um dos patrimónios mais importantes que temos é o tempo. Do seu aproveitamento e boa organização diária depende, na prática, toda a nossa vida e a serenidade que importa manter.
O falar quotidiano típico das nossas gentes é outro património a valorizar e, por isso, o vocábulo ‘besoirar’ me ocorreu a esse propósito. Era palavra que meu pai empregava amiúde, não exactamente no sentido que aparece no Dicionário do Falar Algarvio – incomodar com barulho, com palavras monótonas, como o besoiro que anda à nossa volta e não nos larga, zum… zum… – mas para caracterizar a atitude de quem faz agora isto e ainda não acabou e vai fazer aquilo e depois se lembra de mais uma coisa e outra de seguida e… nunca mais se despacha!...
Como o dia daquele senhor, já passada a meia idade, que pegava nas chaves do carro para as arrumar e, de caminho, via uma carta e se ‘passeava’ assim, de tarefa em tarefa, o dia todo… e, no final da tarde, as chaves do carro continuavam fora do sítio! Relevante sinal de alerta para a nossa capacidade de concentração, de consciente aproveitamento do tempo – na opção, a cada momento, pela prioridade a gerir…
Anda o besoiro dum lado para o outro, zumbindo, num espalhafato, sem rumo, poisando aqui e acolá… E a gente acaba por não saber o que é que ele, na verdade, quer!...
Ora bolas! Será que, afinal de contas, este «A retalho», hoje, virou… parábola?
Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel], nº 138 (Julho 2010) p. 10.
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