É perfeitamente compreensível que um dos mais prestigiados clubes de futebol se chame A. C. Milan, Associazione Calcio Milan, porque foi fundado, em 1899, por ingleses; e que o Benfica, fundado em 1904, se chame Sport Lisboa e Benfica, assim como o Sporting tenha a designação de Sporting Clube de Portugal (hoje já com o ‘e’ final em clube). Ainda em pequeninos, nós gritávamos «corner!» para dizer «canto» e hoje ainda ouvimos penálti, em vez de «grande penalidade».
Como se sabe, essa modalidade desportiva foi inventada por ingleses e, aliás, Cascais teve até papel preponderante na sua introdução em Portugal, como ficou cabalmente demonstrado pela exposição «Aqui nasceu o futebol em Portugal (1888-1928)», realizada no Centro Cultural de Cascais de 27 de Maio a 5 de Outubro de 2004.
Custa-me, porém, admitir que mesmo universidades e instituições públicas portuguesas hajam, agoira, alinhado pelo uso sistemático de vocábulos ingleses, inclusive em produções destinadas prioritariamente a leitores de língua portuguesa, quando a nossa língua, além de estar entre as dez mais faladas do mundo, detém uma riqueza vocabular ímpar, e quando, oficialmente, se está sempre a dizer que devemos preservar o nosso património. Ora, sendo a língua o nosso património maior, por que carga de água se multiplicam hoje, como cogumelos, as newsletters, os fliers, os banners?... A Universidade de Coimbra (imaginem!) divulga, pela Internet, um boletim informativo mensal que chama de «Newsletter UC»! Cada vez mais os museus portugueses têm uma… newsletter! Ainda outro dia recebi o «Banner de Divulgação das Férias de Verão no Museu de Portimão»! Era… um cartaz! Eu, se mandasse na Rede Portuguesa de Museus, exigia que, para pertencer à Rede, o museu não dobrasse o jugo à tirania do inglês!...
E, aqui para nós, «folha volante» não tem mais tipicismo que isso de… ‘flyer’?
Que as senhoras ministras da Educação (agora até temos uma que é escritora) e da Cultura olhem para isto, olhem por isto e… ordenem urgente extradição de banners, newsletters e quejandos barbarismos dos seus próprios ministérios. Assim darão o exemplo!
Publicado no Jornal de Cascais, nº 227, 06-07-2010, p. 6.
Sem dúvida e completamente de acordo.
ResponderEliminarComo aluna de Promoção Artística e Património e administrativa na Associação de Professores de Português, cada vez mais concordo com isso!
O que o Sr. José D'Encarnação defende, concordo plenamente. No entanto, o que poderemos fazer quando um Presidente da Republica Portuguesa numa deslocação oficial a um pais estrangeiro fala em inglês, espanhol ou outra língua. Não será ele o mais alto representante vivo do nosso espolio patrimonial. E se começou por falar no desporto rei (futebol), o que dizer dos nossos jogadores a responderem a perguntas de jornalistas espanhóis em língua castelhana. Não serão eles igualmente representantes de uma nação mais antiga ainda que o pais vizinho? Porque esta falsa questão da tal "preguiça" linguística dos espanhóis e outros é pura e exclusivamente culpa nossa que temos essa mania de querer agradar aos outros e o estigma de não ofender ninguém. E quem nos agrada a nos?
ResponderEliminarJorge Miguel
Tem inteira razão, meu caro Jorge Miguel! É também contra isso que me bato! Quando se decidiu pôr numa das faces do 'nosso' euro a 'chancela' de D. Afonso Henriques, para mostrarmos que já em meados do séc. XII cunhávamos moeda e éramos independentes, enquanto a quase totalidade dos países europeus ainda nem sonhava em ser Nação... estávamos no bom caminho. Depois... esquecemo-nos dele!
ResponderEliminarCaro Professor,
ResponderEliminarA última vez que me ri a bom rir da situação a que alude foi ao assistir a uma das audições parlamentares sobre o assunto PT / Media Capital. A esmagadora maioria dos intervenientes disparava o termo "CEO" (pronunciado em Inglês), que, suponho, signifique "Chief Executive Officer", e outras aglutinações do mundo empresarial anglo-saxónico.
Não sei se o faziam por achar que é fino fazê-lo (e parecia bem no Canal Parlamento), se por se tratar de uma prática habitual, se por economia de esforço linguístico.
Não tenho nada contra estrangeirismos nem contra a sua adopção no nosso léxico quando essa situação é pertinente. Imagine-se agora a trabalheira que seria, por exemplo, ter que inventar uma palavra para substituir "blog". Dê-se-lhe uma expressão escrita aportuguesada ou, mesmo, mantenha-se o original. A Língua é uma entidade viva e dinâmica. Evolui. Não um baú cheio de coisas velhas e imutáveis.
Agora, por favor, não nos deixemos aculturar!
É concerteza a isso que o texto alude. É concerteza contra isso que devemos lutar, assumindo-nos, todo e cada um de nós, como "folhas volantes" da nossa Língua-mãe.
Abraço
José Vale
Caro professor,
ResponderEliminarDepois de tão brava defesa do vocabulário português, reparo que assina o seu nome de forma bastante gálica, quando nem sequer tem "de" no seu nome! E para quê o uso do sinal tironiano, quando este blog não tem qualquer uso comercial?
Mas enfim, não há stress...
Bem-haja
Pedro
Como saberá, há os nomes por que as pessoas foram batizadas e há os chamados 'nomes de guerra': pseudónimos (como o caso de Júlio Dinis) ou partes do nome (Carlos Carranca em vez de Carlos Alberto Carranca de Oliveira e Sousa).
ResponderEliminarQuando iniciei, já lá vão uns quarenta anitos, a minha vida literária, decidi optar pelo primeiro e pelo último nome; mas, como verificará, o 'é' e o 'En' davam uma certa cacofonia; no entanto, como não tinha 'da' no meu nome (o meu pai tinha), optei pelo d', justamente para evitar a cacofonia e por me parecer mais fácil de pronunciar. Não me moveu qualquer intuito aristocrático (que tenho raízes bem plebeias e delas me orgulho) nem sabia, nessa altura, que estaria a usar algo de... gálico! Aliás, nesse aspecto, amiúde informo os meus colegas estrangeiros (nomeadamente os franceses) que me devem alfabetar, nas listas bibliográficas, por E.
Bem haja pelo seu comentário - que assim me permitiu dar uma explicação acerca da opção que tomei.
Mande sempre, prezado I wanna be Nuno Rogeiro!
Ah! Esqueci-me do que chama 'sinal tirónico' (mais conhecido, quiçá, por i comercial). Tem razão: não estamos no domínio do comércio nem das firmas; mas saberá que essa é uma das formas pelas quais se está cada vez mais a indicar a copulativa não apenas no modo de citar mais do que um autor de um artigo, mas até ao nível do quotidiano familiar. Dir-lhe-ei, neste caso (e, se tiver oportunidade de ir ao começo do blogue onde vem a explicação da razão por que o iniciei, vê-lo-á), que o nome resulta do nome de uma rubrica que mantive quase ininterruptamente desde Outubro de 1967 até Janeiro deste ano no «Jornal da Costa do Sol», ora de publicação suspensa.
ResponderEliminarBem haja, mais uma vez!
Caro Senhor d´Encarnação.:-))
ResponderEliminarParabéns pela sua maneira de se apresentar, de ser e pô-la ao nosso serviço. Gostei imenso de ler palavras suas que poderiam ser minhas e de muitos de nós.
Recordo o espanto dos estrangeiros, entrevistados na TV, de um dia estarem a seguir uma exposição em Portugal, numa conceituada instituição, com legendas em inglês e não em português.
Soube que nas nossas Universidades há aulas dadas em inglês, de algo que nada têm a ver com essa língua, onde estão apenas portugueses e/ou "espânicos" que mal a sabiam.
Conheço estrangeiros que vêm cá, para Portugal, para melhorar ou aprender português, e nós quase que só falamos com eles noutra língua que não a nossa. E isso persiste mesmo que eles vivam cá há vários anos, desculpando-os por acharmos mt difícil para eles aprenderem e nós "estupidamente" orgulhosos por não.
Vi várias vezes perdermos o nosso raciocínio e não os fazermos entender por apenas não estarmos a falar na língua que mais dominamos.
Já traduzi certas palavras, particularmente, que depois elas explicam mt melhor o sentido ou ficou com mais agradável sonorização ou mesmo menos extensa que o próprio original e ninguém oficialmente ou do meio se preocupa.
Já vi portugueses a não entenderem um diálogo porque se estava a usar novos estrangeirismos ou "palavras caras" inventadas para a circunstância.
Já vi quem não soubesse nada do que estava a falar e "brilhar" perante os demais, que nada entendiam o que ele estava a falar, só por usar termos técnicos e/ou estrangeiros.
Há canais, na "TV por cabo", cujos anúncios estão nas línguas de origem e nem sequer são legendados, e até nem tais produtos existem em Portugal se os quisermos.
Conheço um país divulga uma sua região com um falso nome só para lhe dar um toque de estar fora dela própria. Quem não quer algo de diferente, gozar férias, não sai de casa e do quotidiano.
Enfim ....
Um cordial abraço, Lourenço d´Almada
Querendo aplicar esse tal acordo, qual é o vocabulário ortográfico que se deve usar? Na inexistência de um vocabulário ortográfico comum (aos países de expressão portuguesa), deveria usar-se o vocabulário português europeu, mas ainda não existe um oficial, e nem se sabe se irá ser o do ILTEC. Ou usamos o vocabulário português do Brasil? E nesse caso grafamos à brasileira o meio milhar de vocábulos que permitem dupla grafia e acentuação diferenciada?
ResponderEliminarNão sou contra o AO, até porque não serviria de nada estar contra: por um lado a língua é dinâmica (embora essa dinâmica seja lenta e as suas alterações integradas gradual e naturalmente), por outro lado manda quem pode. Apesar disso, ou talvez por isso, continuarei a escrever como aprendi, evitando contribuir para a confusão cacográfica. Até que o pó no fato seja um fato.
Saúde.