Muitas iniciativas têm sido eficazmente levadas a cabo entre nós para que S. Brás continue a figurar na rota da cortiça. Há, de resto, a associação «Rota da Cortiça» – www.rotadacortica.pt/ – que tem como palavra de ordem: «Mais do que um percurso, uma história». E é.
Desde moço pequeno que vivo nessa «rota», porque, além de meu pai ter ido anos a fio, como muitos são-brasenses, para a «esgalha da cortiça», inclusive por esse Alentejo além, a água do cântaro bebia-se no cocharro (sábio aproveitamento dos nós da árvore); o almoço levava-se na tarreta; e até minha avó deixava o grão de molho, de um dia para o outro, num ‘alguidar’ que nada mais era do que um cocharro em ponto grande; no dia seguinte, era também com um pedaço de cortiça (como se fosse pequena tábua à medida da mão) que, sabiamente, tirava as peles do grão, para que a sopa ou o cozido não tivessem desagradáveis asperezas.
Não sei como se chama essa pequena ‘prancha’ nem se tem nome próprio (tê-lo-á, decerto) o alguidar. Daqui fica, pois, o apelo aos membros da Rota: neste âmbito do ‘património do falar’ sobre que me debrucei da última vez, vamos recolher essa terminologia, vamos preparar nova exposição com estes utensílios de ancestral uso quotidiano? Será uma forma de, fazendo um percurso, história fazermos também!
Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel], nº 141 (Out 2010) p. 10.
Jose Manuel Pinto
ResponderEliminar25 de Outubro de 2010 às 19:11
Assunto: "Cortiça a Rainha"
Espero que um destes dias possamos partilhar uma "Calântica". Mas agora, sem querer meter a foice em seara alheia, a propósito da cortiça e do "património do falar" permita-me falar das fontes de de "beber à galhé" nas tiradas de cortiça.
"...As fontes de água fresca estão intimamente ligadas à vida no campo.
Lembro-me do sítio de algumas espalhadas pelos “cabeços” que rodeiam a Aldeia.
A “Fonte Nova”, a “Fonte do Monte Velho”, a “Fonte dos Milhos”, a “Fonte da Mestra”, “O Chafariz dos Dentes”, a “Fonte da Lapa”, a “Fonte do Penico” faziam parte do circuito traçado para cada aventura.
Se o destino era caçar pardais ou pescar, apanhar “tubras”, trazer poejos da ribeira ou oregãos dos “arrifes” do Gafanhão, o caminho a percorrer teria de incluir a passagem pela fonte. (Nesse tempo não havia garrafas de “pvc” para transportar água.)
Certo que beber “à galhé” dum barril de barro no tempo das tiradas de cortiça era privilégio para outras situações. Durante muitos anos, no Verão, as férias grandes eram passadas junto dos meus pais, que as não tinham, no trabalho do campo. Apanhei cortiça, guardei ovelhas, apanhei tomate... semeei batatas e melancias..."
Aprendi que a água e a terra são fonte de vida que o suor faz crescer.
Um abraço
José Manuel Pinto
Santana do Campo
Arraiolos
Tomei a liberdade de publicar este comentário de J. M. Pinto, pela sua oportunidade, que lhe agradeço.
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