Como professor de História, gostei francamente de ouvir – por diversas vezes até – a frase «a História ensina-nos», na cerimónia oficial comemorativa do centenário da implantação da Republica. Tratou-se, de facto, de uma evocação histórica e alusões várias houve, então, aos erros da I República, erros que – devidamente analisados nas suas causas e consequências – todos se propunham ora evitar. Bons propósitos!
Acontece, porém, que, mui provavelmente, esses discursos foram redigidos por teóricos, gente especializada em parir conteúdos bonitos, ainda que totalmente desgarrados da realidade. Esquece-se, por exemplo, que essa História é feita por pessoas e não por números; que, ao pé dos que manobram números, deve existir quem conheça bem o lado humano dos acontecimentos e das decisões.
Na quinta-feira, dia 21, ouviam-se e viam-se, na televisão, as consequências do estabelecimento de portagens nas SCUTs do Norte do País: o Aeroporto Sá Carneiro deixava de ser o preferido pelos galegos; esses nossos vizinhos já hesitavam em vir até cá dar a escapadela do fim-de-semana; povoações até agora pacatas, gozando de um quotidiano tranquilo, passavam a ser atravessadas por filas de veículos poluidores…
Portanto, o legislador, encerrado na sua torre de marfim, rodeado de peritos assessores, fez as contas: passam tantos agora, eu cobro tanto, encho o bandulho do Estado e… os senhores da Europa, que até afinam pelo mesmo diapasão, engolem os meus argumentos e – pronto! – o défice vai ser menor!...
Nos últimos dias, multiplicaram-se, a todas as horas e em todos os programas, as receitas para nos conseguirmos aguentar. E todas elas iam no sentido de se diminuir o consumo. Muito bem! Mas – para macaco compreender… – diminuindo drasticamente o consumo não diminui drasticamente a receita desse IVA, cujo aumento ora se apresenta como a panaceia de todos os males?
Aumenta o IVA (dizem) de 6 para 23% nos ginásios. Porquê? Andar no ginásio é… luxo? Não é para prevenir doenças, melhorar a nossa prestação quotidiana no trabalho e nas tarefas domésticas?... Aumenta tanto? Faço contas e… deixo de ir.
A estatística ajuda a compreender os fluxos económicos; as lições da História são, porém, lições de… pessoas!
Publicado no Jornal de Cascais, nº 240, 26-10-2010, p. 6.
A História ensina-nos mas pelos vistos não os ensina. Será devido à diferença entre espectador e actor da história?!
ResponderEliminarSaúde.