– Então e o menino Adilson que quer ser quando for grande?
– Eu, professora, eu quero ser paralelo!
– Paralelo?
– Sim, professora, é o que rende mais!
– Como assim?
– Eu conto, professora. Lá em casa, papai e os amigos, quando falam na vida e nos negócios que fazem, falam sempre que é bom é ser no paralelo, dá mais lucro, não paga imposto… é bom mesmo! Por isso, eu quero ser paralelo, já disse a papai que quero ser.
Esta era uma das muitas histórias que circulava no Rio de Janeiro, quando lá estive pela primeira vez, em 1989. Aliás, íamos bem avisados: só trocas uns dolarezitos de cada vez, e sempre no paralelo, que de resto informam na televisão qual é o câmbio, que está sempre a mudar – e compensa!
Alembrei-me desta quando ouvi, outro dia, falar do problema da Grécia, que não conseguiu arribar porque, primeiro, a receita do IVA ficara muito aquém do que se previra no orçamento; segundo, porque o combate à evasão fiscal – ao tal ‘mercado paralelo’ – não fora eficiente e não surtira os desejados efeitos.
Quando ainda temos pachorra para os noticiários das desgraças, damo-nos conta, a cada dia que passa, das inúmeras trafulhices perpetradas pelos grandes que se locupletaram (gosto da palavra!...). E andaram nisto anos a fio, sem que ninguém topasse a marosca. Como é que, na actual conjuntura, de impostos elevados, o vulgar cidadão há-de resistir, pois, a dar a sua facadinha no fisco?
«A História ensina-nos», escrevia eu na passada edição. Ámen!
Publicado no Jornal de Cascais, nº 241, 2-11-2010, p. 6.
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