sábado, 13 de novembro de 2010
Sentar-se diante da Beleza…
Acto prosaico, dir-se-ia. Sentar-se!... Numa época em que se luta pela máxima rapidez, convidar alguém a sentar-se soará a escandalosa ignomínia, a passividade anacrónica, quando, à nossa volta, tudo gira em turbilhão…
Acontece, porém, que sentar-se, por exemplo, à beira-mar, ouvindo o incessante marulhar das ondas, mirando o suave deslizar das gaivotas e aquele barco, na linha do horizonte, a demandar outras paragens… constitui, no meio do quotidiano frenesim, pausa reconfortante e salutífera. E a admiração das flores no jardim?!...
Luta-se por ter um curso, a aprender e a apurar as técnicas; luta-se, depois, não menos intensamente, para as ensinar aos estudantes, para lhes mostrar como se reproduz Beleza, se misturam cores, se anotam subtis pormenores pejados de simbolismo. Anos a fio!... Até que, um dia, terminada a canseira de reuniões e de currículos e de serões e de programas a cumprir, nos podemos, finalmente, sentar – a saborear, também nós, a Beleza que aos outros em borbotões dispensámos.
Assim Maria Adélia Coelho, professora, artista – em mais uma exposição da sua criatividade, simbiose plena das influências hauridas ao longo da vida.
Flores em botão, singulares, em dádiva: rosa fogo, rosa amarela, azul, flor-poder!... O nu, desprendido, furtivamente captado, diário gesto banal mas elegante. Sofrido grito feminino – «Dor!» – a perguntar porquê, em eco pelas quebradas… que, mais além, a intimista pensadora há-de escutar e tornar consciente.
Seduz-me «O Sonho da Flor»:
gérmen, óvulo azul de seios úberes sob uma jóia de embelezar mulher que se esconde… No ventre, botões de rosa em jeito de mui apetecida oferenda. Extasio-me, comungo!...
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Admiro o pescador sentado na humidade da fraga, à espera que o peixe morda o isco. Admiro por igual os pintores: diante do cavalete, todo um percurso se convoca, em serena explosão de cor, de sentimentos, de ternura… Tudo convocam, tudo nos oferecem!
Assim Maria Adélia Coelho: professora, artista… Mulher! No convite a que nos sentemos diante da Beleza!
Cascais, 7 de Novembro de 2010
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