Prosseguimos na evocação do trabalho nas pedreiras, como ele ainda se realizava em meados do século passado.
Chamava-se «banco» o afloramento rochoso que os trabalhadores, roçando o mato e retirando a camada superior de húmus e terra, haviam posto a descoberto. Observavam-se-lhe a textura, as eventuais falhas… e, de acordo com as encomendas em carteira, tiravam-se as medidas e optava-se pelo corte, estudando-se o ponto mais adequado para abrir o furo.
Sentava-se um dos trabalhadores sobre uma pedra a jeito ou sobre desajeitado banco (tábua pregada em pedaço de tronco de pinheiro), com resto de manta velha em cima, para não fazer doer as nádegas; segurava no pistolo a preceito, bem na vertical, enquanto outro, empunhando o maçacopas (= maçacopla), ritmado ia batendo. E o de baixo rodava o pistolo e alevantava-o sempre após cada batidela, para se obter furo circular. Ao lado, púcaro velho com água, que se ia deitando aos poucos, a fim de facilitar o corte. Parava-se de quando em vez, não só para o descanso mas também para – com uma vareta que o ferreiro espalmara na ponta em jeito de pequena concha – se retirar o pó de pedra molhado que se acumulava no fundo. Bate que bate, um som metálico pela tarde, até atingir a fundura prefixada…
(continua)
[Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel], nº 144 (Janeiro 2011) p. 10.]
Ilustração
Instantâneo do trabalho do cabouqueiro na cova de uma das pedreiras de Birre (Cascais) na década de 60. Note-se, no bloco, o rasgo do furo feito para o tiro. A pedreira estava no começo da laboração, pois os blocos ainda estão quase à superfície e não são grandes os montes de terra (em segundo plano) que foi necessário retirar para os pôr a descoberto. O cabouqueiro usa boina basca, muito comum nessa altura.
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