Sereno final de tarde na Casa de Santa Maria, em Cascais. 14 de Abril, quinta-feira. Afinal, a abertura da exposição constituiu também, em primeiro lugar, reencontro de amigos num sítio deveras aprazível, em torno de dois jornalistas que «Vida Interrompida» vieram expor. A deles – como exemplo para muitos mais, milhares, milhões… Com a desejada serenidade. Na força duma convicção: «interrompida», não acabada!
Exposição para meditar, em sereno final de tarde. Mais do que uma vez! Até 12 de Maio. Imprescindível!
Magníficas, surpreendentes, as fotos de Marcos Borga; sublimes e fortes, os textos de Isabel Nery. Excelente, o catálogo (bilingue, com mui significativo prefácio de Isabel do Carmo) – para guardar e reler!
Parabéns a quanto compreenderam a importância vital de mostrar este «mundo visto da perspectiva do doente»! E a tornaram possível. Que ela se cumpra como itinerante país afora, uma necessidade premente!
O nome. Isabel contou. A terceira intervenção cirúrgica, com anestesia local, a que foi sujeita depois de lhe ter sido diagnosticado um derrame cerebral não estava a correr tão bem como das outras duas vezes; e ela não hesitou em o dizer à médica.
‒ Eu sei, respondeu esta. ‒ Fui eu que a operei as outras duas vezes!
E Isabel perorou:
‒ Custou-me. Para mim, era uma máscara. Não a conheço, nem lhe sei o nome…
Recordei-me, então, como me soubera bem, antes da colonoscopia com sedação, ouvir as palavras dos que me iam acompanhar nos minutos seguintes e de quem eu, de certo modo, ia depender:
‒ Olá, bom dia! Eu sou F…, a anestesista. Vou estar a seu lado e tudo correrá bem, esteja tranquilo.
E as enfermeiras. E a médica. Não lhes fixei o nome, porque, ao contrário da Isabel, que exigiu esferográfica e bloco de notas, eu nada tinha para escrever e a memória já não é tenaz como dantes… Mas soube-me bem. Como me sabe tratar pelo nome (bisbilhoto-o sempre na lapela…) os senhores das bilheteiras dos comboios, as meninas da caixa dos supermercados, o vizinho do lado…
Deitei-me também na maca por dois minutos e olhei para cima. E, por dois minutos ainda que fingidos, a ouvir a Isabel pela voz do Fernando Alves, o mundo foi… bem diferente! Ou melhor: ficou diferente!
Publicado em Jornal de Cascais, nº 263, 20-04-2011, p. 6.
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