Criada, há um ano, por Luís Filipe, antigo aluno salesiano do Estoril, essa página – http://www.facebook.com/home.php#!/group.php?gid=112985108738014 – tem hoje 631 membros e visa incitar a população cascalense – e não só! – a que vá «descobrir este Paraíso perdido em Cascais»!
Parece, porém, que este «aproveitamento ideal do espaço», nascido para «recuperar a área degradada em zona limite do Parque Natural de Sintra-Cascais (PNSC)» necessita de alguma atenção mais!
A razão do nome
Chama-se de «penhas», porque, na verdade, a vista se alarga e se demora no caprichoso recorte e alinhamento das formações calcárias que vigiam do alto das quebradas o Rio Marmeleiro, lá ao fundo, nome que tem, ali, o curso de água que, mais abaixo, se designará Ribeira das Vinhas.
«Do Marmeleiro», porque, decerto, essa era a árvore mais comum nas margens da ribeira. Mais uma vez, erraram os técnicos camarários ou os projectistas, ao chamar-lhe «de Marmeleira», porque não souberam colher informação onde deviam. Acontecera o mesmo com o Centro de Interpretação Ambiental da Pedra do Sal, a que primeiro chamaram de ‘Ponta do Sal’ e foi precisa uma duradoura luta do Núcleo de Amigos de S. Pedro do Estoril para que emendassem a mão. Aconteceu o mesmo no Parque Urbano do Rio dos Mochos, a que chamaram de «Ribeira dos Mochos», quando a designação popular (ainda que tecnicamente incorrecta, mas em questões de toponímia – como noutras… – o Povo tem sempre razão!) é Rio dos Mochos e esperamos que venha a ser corrigido.
De facto, uma leitura atenta do livro Monografia de Cascais, de Ferreira de Andrade (CMC, 1969), teria sido útil, pois que, na pág. 273, se transcrevem as respostas dadas pelo prior de Alcabideche, Fortunato Lopes de Oliveira, ao inquérito lançado pelo Marquês de Pombal, onde se fala do ribeiro e da povoação:
«Marmeleiro é um ribeiro, que consta de quatro azenhas de trigo e um lagar de azeite. Seca-se de Verão. Vem de outro ribeiro, a que chamam de Porto Covo […]. Tem homens oito e sete mulheres».
O que é o parque
Na página do FB se dão logo algumas luzes aliciantes para uma visita.
Inaugurado oficialmente a 5 de Setembro de 2009, por iniciativa da Câmara Municipal com o apoio da SANEST, situa-se em Murches, na sua ponta mais oriental. Não tem nada que enganar: é entrar em Murches e, depois da capelinha de Santa Iria, seguir em direcção ao nascer do Sol até à encosta sobranceira às colinas que dali se estendem para os lados do Zambujeiro, do Pisão, do Cabreiro, de Carrascal de Alvide…
Adregará dar-nos as boas-vindas o galo do vizinho, a introduzir-nos num outro mundo! Deste anfiteatro natural, um panorama deslumbrante, com o Cabo Espichel ao fundo e, mais perto, o variegado manto rasteiro da vegetação, pleno de colorido nesta época de Primavera.
Saúdam-nos à entrada (deviam saudar-nos…) seis bicas, quatro a correr para o espelho de água norte e duas para o meridional. Um toque de frescura inicial.
Depois, um pavilhão aberto, de estruturas metálicas (agora oxidadas) com quatro ilustrados painéis explicativos. Trata o 1º do que é o Parque Natural (História, Património Arquitectónico). O 2º destruíram-no e ainda não voltou recuperado da maldade. Refere-se o 3º ao Património Natural de que se pode usufruir a partir dali: os habitats, os animais – os anfíbios, a raposa, a bufo-real, o musaranho-de-dentes-vermelhos, o tritão-de-ventre-laranja… – a flora e o seu valor. Apontam-se, no 4º, as sugestões de actividades de natureza a praticar, desde os passeios pedestres à observação de aves.
Resultou este Centro Interpretativo da colaboração entre o PNSC, a CMC, o Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade, a Cascais Natura e a Sanest.
Uma encosta artificial plantada de rosmaninho, alecrim, medronheiros… abriga a escadaria que dá acesso à plataforma inferior, do parque infantil com os habituais aparelhos de balancé e um recinto em jeito de forte apache, com escadas, passadiço, amuradas, postigos…
Para norte, ajustado trajecto de escadarias de madeira convida a um percurso em íntima comunhão com o mato, na observação cuidada e pormenorizada daquela vegetação misto de mediterrânica e atlântica, um verdadeiro hino à biodiversidade, tantas são as variedades de pequenas plantas e inesperadas flores que por ali vamos encontrar… A riqueza do carrascal casada com o cinzento dos afloramentos calcários, salpicada pela magnificência amarela das umbrelas dos funchos, subtilmente ornada pelo morrião-azul ou pela discreta brancura do sargaço… Maravilha!
O necessário ressurgir
Visitei de novo Penhas do Marmeleiro no passado dia 5 de Maio. E fiquei triste com o que vi.
Ainda que a encosta recém-roçada de ervas incómodas me desse sinal de que por ali passara alguém responsável pela manutenção, o certo é que queimaram o forte apache e um letreiro assinado com os logótipos da CMC e da EMAC informa que está «proibida a entrada», pois o conjunto se encontra “em requalificação»; agradece-se a «compreenção» [sic] e acrescenta-se promessa de «ser breves». Pelo estado em que a tabuleta se apresenta, já lá se encontrará há bastante tempo.
Para além disso – e apesar de eu ter chamado a atenção da EMAC para o assunto no passado Outono – ainda se não logrou pôr mãos à tarefa de conseguir a drenagem das águas pluviais, pelo que o campo do Parque Infantil está inoperacional, encharcado, e os aparelhos metidos em poças de água.
Se os bebedouros ainda funcionam mais ou menos, os espelhos de água da entrada não são seguramente um bom cartão de visita no estado em que ora se encontram, com três das bicas inactivas e os focos de iluminação estragados.
Uma visita… impõe-se!
As Penhas do Marmeleiro merecem, pois, uma visita. De todos e, de modo especial, da população escolar em jeito de visita de estudo.
Com um arranjo de arquitectura paisagístico deveras original – aqui e além moroiços de lioz de tonalidades várias com tufos de flores pelo meio, chão de gravilha junto ao Centro Interpretativo, o serpentear das escadarias… – é convite a um saborear de ar puro em plena intimidade com o que a Natureza ainda nos pode dar de mais bonito, numa larga extensão sem casario irritante…
Chega-nos o eco dum ladrado distante. Um melro assobia alegre, algures num pinheiro próximo. Um bando de pardais brinca em algazarra num telhado mais além. Até o viaduto da A5, os carros passam a espaços, não incomoda; e o mar, ao fundo, é convidativo também a mais meditação.
Publicado na revista Sekreta (Cascais), Abril 2011, p. 14 e 15 – ver em seguida a reprodução.
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