Quiosques
A ideia foi genial, sem dúvida: promoveu-se concurso de ideias e implantaram-se os quiosques ganhadores em sítios estratégicos. Implantaram-se. E quantos estão a uso? E quantos a apodrecer? Na Pampilheira, por exemplo, parece que se destinou em exclusivo a deficientes a exploração do que se encontra no coração comercial do bairro. Excelente ideia também; mas… para vender o quê, se ali ao pé há de tudo?!... Apodrece, claro! Um dó d’alma!
A sociedade cascalense a nu
Não é vulgar romance de costumes. Prende-nos, é certo, do princípio ao fim, na trama bem urdida, de amores e de traições, da politiquice caseira. Constitui, porém, um portentoso retrato da sociedade cascalense destes primórdios do século XXI, ali posta a nu sem dó nem piedade. Causticamente. Nada escapa! Montra de personagens-tipo, com os seus tiques bem apanhados – e os seus podres também!
O cheiro a sangue
Não é apenas isso Barbershop, de Júlio Conrado. Do local se extravasa para o geral. Imaginar-se-ia, aliás, uma Cascais desgarrada de Lisboa, do País, do Mundo? Ná! Impossível! E o romancista, atento, desfere, a talhe de foice (não perde uma!...) frechadas bem certeiras!
Houve um incêndio na baixa lisboeta. Apenas um vulgar cidadão saiu do prédio, amparado por duas donzelas. Nada, pois, de particularmente digno de notícia:
«Tivesse havido mortos e feridos e outro seria o discurso das televisões. De pronto ampliariam a área do proscénio. Negligenciariam as jóias inteligentes do prédio. Ater-se-iam estritamente ao essencial: a retórica da desgraça e da culpa. Mas apenas um cliente solitário agarrado ao cós das calças, e um bocado de fumarada a sair pela porta, era curto material para criar um verdadeiro laço de intimidade entre os telespectadores habituados ao terror às refeições e quem tem por ofício fornecer-lhes essas abundantes rações de barbárie no horário nobre. Os critérios de manipulação de imagens destinadas a proporcionar, ao país real, fatalidade em dose de besta são muito exigentes hoje em dia. […] Passou de moda levar aos píncaros o dever cumprido. Cultiva-se a fealdade especular e o país acredita que é feio. Quando não é integralmente feio, não é notícia. Deixam-no sem espelho, condenado à fealdade eterna» (p. 186-187).
Vai abaixo!
Não, não estou a referir-me ao «amarelão» que saiu da arte impoluta de um dos excelentes arquitectos da nossa praça e que alguém, certamente por dificuldade de leitura da carta de implantação, acabou por botar em cima do passeio da Adelino Amaro da Costa, em Cascais. A super-esquadra que nunca mais é – e a leitura das actas das reuniões camarárias de 2010, por exemplo, mostram-nos que o beco dificilmente terá saída, apesar das promessas repetidas:
«Foi com muita satisfação que a Câmara Municipal de Cascais tomou conhecimento, através do Ministro de Estado e da Administração Interna, que a empreitada principal de conclusão da obra do edifício da Esquadra da PSP de Cascais vai ter início ainda em 2005, com um prazo de execução de 16 meses», lia-se em documento camarário de 23-06-2005!...
Não me refiro, pois, ao «amarelão» de azulejos a cair. Refiro-me ao esqueleto que vigia a estação de caminho-de-ferro da vila. Promessa garantida de presidente: vai abaixo! Para dar lugar a habitação e, ao nível da rua, a casas comerciais (mais umas…).
Ficamos, pois, a aguardar – que, nesta multissecular vila, era hábito as decisões terem largo período de incubação… Outros serão os tempos?
37º Festival do Estoril
Com a tenacidade que sempre o caracterizou, Piñeiro Nagy ousa manter a tradição do que foi, desde os anos 60 do século passado, um dos festivais de música erudita mais importantes do País. Este ano sob o signo do Mare Nostrum, tradição e inovação. Parabéns! E que continue a ser um êxito – até depois de amanhã, 29!
Publicado em Jornal de Cascais, nº 277, 27-07-2011, p. 6.
Sem comentários:
Enviar um comentário