Talvez em tempo de vacas gordas, insensatos nem sequer pensassem em contas. Havia abundância, tanto dava 3 como 7; consumir era palavra de ordem; esperdício, uma noção desprezível.
Contas interessam só para o tempo das vacas magras – poderia pensar-se. Errado! Sem contas no dia-a-dia não se vai a sítio nenhum!
Sabiam-no bem os Antigos, sabiam-no os nossos avós... Praticavam-no os Romanos.
Acharam-se em Conímbriga tijolos com números esgravitados e, a princípio, não se percebeu lá muito bem o que é que aquilo queria dizer. Até que, um dia, nova descoberta se fez: na massa ainda fresca do quadrante de um tijolo, alguém com um pedaço de cana gravara:
EX OFFICINA MAELONIS. DIARIAS ROGATAS SOLVI
«Da oficina de Melão. Cumpri as diárias rogadas».
Estava desvendado o mistério!
Havia uma olaria; o dono chamava-se Maelo, Melão; e ao operário era solicitado diariamente o fabrico de um determinado número de tijolos (eu escrevi «solicitado», entenda-se…).
E nós imaginamo-lo, ao final da jornada, o Sol a pôr-se lá para as bandas de Soure, mais além no Oceano, mãos enrugadas de barro, unhas negras, o suor perlava-lhe a fronte, cabelos desgrenhados, num suspiro de alívio:
«Por hoje, já está! Amanhã é outro dia!».
Publicado no quinzenário Renascimento [Mangualde], nº 573, 30-06-2011, p. 13.
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