Pela canonização do carro amarelo
Recebi um vídeo em que se dá conta das lojas onde ora se compram – ou alugam – ‘trajes’ de mendigo e, inclusive, se disponibilizam criancinhas «de fazer chorar as pedras da calçada»!... O negócio de ser pedinte, tão antigo como as civilizações urbanas. E todos nós teremos mil e uma histórias para contar nesse sentido. A velhinha toda trémula e andrajosa, de rastos, que nós pensamos estar para morrer em breve, desgraçada, e que, noutro dia, somos capazes de a ver a passear, satisfeita, em local diferente...
O último foi o do carro cuja ‘canonização’ ora se propõe por ter feito um milagre, testemunhado ao vivo por um videoamador. Trata-se de um senhor de muletas, com uma perna só, que vai a atravessar a rua; o carro amarelo aparece disparado e – ó pernas, para que te quero!... – o aleijado larga as muletas e foge a sete pés para não ser atropelado! Com as duas pernas bem no chão, entenda-se!...
Os dois galináceos
Sentei-me num dos bancos do Parque Marechal Carmona, no parque infantil. E ainda não tinha sequer feito menção de abrir o saco para tirar umas bolachinhas para o Marco, já o simpático casal, lindo galo e linda galinha, estavam postados diante de nós, a dizerem que… existiam!
– Olha! Também eles já sabem o que é a crise! – comentou a senhora ali ao lado.
Rimo-nos, claro. Também eles já sabem…
Antero de Sales Gomes
Faleceu a 14 de Fevereiro do ano passado, em Angra do Heroísmo, o Dr. Antero de Sales Gomes.
Natural da Vila da Ribeira Grande (freguesia de Nossa Senhora do Rosário, Ribeira Grande, Cabo Verde), onde nascera a 29 de Janeiro de 1926, fez a sua licenciatura em Românicas na Faculdade de Letras de Coimbra. Pelo poema que seu colega Lélis lhe dedicou, no Livro de Curso de quartanista, em 1953, se ficou desde logo a saber dos seus interesses intelectuais:
«Falarás das minhas tendências filológicas, dialectológicas; sobre o crioulo da minha terra e a nostalgia pelos barcos à vela, pela morna dolente e quente, pelos vales, pelas montanhas e coisas tamanhas que fazem bela a minha terra».
Alto – todos recordarão a sua figura imponente de um metro e oitenta – ensinou Português e Francês por muitos anos na Escola Salesiana do Estoril, para onde religiosamente se deslocava de comboio, vindo de Algés onde morava. Professor exigente mas sempre atencioso, disponível, pronto a ajudar. Tive a honra de conviver com ele durante os oito anos que também ali leccionei; uma presença sempre afável, amigo do seu amigo, de piada fácil.
Após o falecimento da esposa, foi para Angra do Heroísmo, onde viveu o resto dos seus dias, rodeado do carinho familiar. Que descanse em paz!
Monografias que fazem história
À semelhança do que já acontecera com o Colégio da Bafureira, que no ano passado completou 100 anos, assinalados com a publicação pela autarquia Cem Anos a Ensinar – Colégio da Bafureira 1910-2010, fruto da investigação feita pela equipa do Arquivo Municipal, para onde, aliás, tinham transitado os arquivos daquele estabelecimento de ensino, foi agora a vez de uma outra escola, a Escola 31 de Janeiro, marco do republicanismo paredense, como o próprio nome o dá entender: Rui Pinto, docente de História na instituição, lançou mãos à obra e contou, em livro, o que foi esse século de «instrução, educação e progresso».
Aplaudam-se ambas as iniciativas, pelo que representam como fonte para a história local.
Exposições
Se são de muito louvar as juntas de freguesia que mantêm em franca actividade as suas galerias de arte, facultando oportunidade aos artistas de ali mostrarem as suas obras (até 6 de Dezembro, temos, no Estoril, pinturas de Isa Fonseca e fotografias de Alfredo Fachada), não é de menos aplaudir a exposição fotográfica e documental recém-inaugurada no Centro Cultural de Cascais sobre temática arqueológica: o que por aqui se fez em meados do século transacto e, de um modo geral, a enorme investigação desenvolvida pelo Instituto Arqueológico Alemão. A não perder!
[Publicado no Jornal de Cascais, nº 291, 23-11-2011, p. 6].
Foi também professor de Francês e Português no Colégio Nun'Álvares em Tomar nos anos 60.
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