Não seria tão avesso às cláusulas do Acordo Ortográfico se estivesse prevista a liberdade de opção. Não há um castelhano (de Espanha) e o espanhol (da América do Sul), o inglês americano e o inglês do Reino Unido?...
Não constituirá, porém, esse o perigo da perda da nossa independência – porque perdida já está! Também a identidade não correrá grande risco. Soubemos guindar o mirandês a língua oficial; respeitamos sem problemas o barranquenho e o minderico. E pugnamos por dar a conhecer cada vez mais aquilo que, em cada região, reflecte, também a nível da linguagem, o viver quotidiano.
«Bêceta, gato!», por exemplo. Como é que se escreve? Onde estará registado? Apresenta-se, no entanto, como singela expressão algarvia (e doutras paragens, quiçá) para afastar bichano impertinente que teime em abeirar-se dum prato ou em reclamar colo inoportuno.
Ou… «Não botes que eu não bebo!»: a ironia tão típica das nossas gentes, perante o gesto de quem queria servir um copo e, afinal, sem disso se aperceber, tinha a garrafa vazia!...
Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel], nº 154 (Novembro 2011), p. 10.
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