Orelhas moucas…
Fazem-se orelhas moucas quando se parte do princípio de que as palavras são loucas. Mas também pode ser porque se está lá muito em cima, aonde as vozes do Povo não chegam…
Fecharam em Cascais dois restaurantes de referência há décadas (sem desprimor para os demais): na Malveira da Serra, O Camponês; no recinto da Feira do Artesanato, o Costa do Estoril. Foi O Camponês pioneiro no cozido à portuguesa confeccionado em fogo de lenha e à discrição; vinha gente de fora do concelho para o saborear, nomeadamente os da célebre ‘voltinha dos tristes’. Estava o Costa do Estoril aberto madrugada afora, sendo, por isso, um dos poucos lugares onde, a essas horas perdidas, se serviam petiscos em noite de convívio mais prolongado.
Causa? A impossibilidade de prosseguir devido às novas exigências fiscais, designadamente o aumento do IVA para 23%, que o governo, de orelhas moucas, teimou em decretar. Gente esperta, essa, que nos governa! Nestes casos – que são, como se sabe, multiplicados às centenas por todo o País – esse mesmo governo: a) fica privado do IVA; b) fica privado dos contributos dos trabalhadores para a Segurança Social; c) fica onerado com o pagamento do Subsídio de Desemprego… Bolas! Não há aí quem saiba fazer contas?
Claro: e há uma conta enorme que nunca ninguém conseguirá fazer e que vai ter consequências económicas (sim, económicas!) ainda mais desastrosas: o declínio da auto-estima, as perturbações psicológicas, o desespero – que se repercutirá na família chegada, nos netos e no porvir!... Quem incriminará disso os actuais governantes europeus?
Real Fábrica de Lanifícios de Cascais
Por resolução da Junta de Comércio de 4 de Janeiro de 1774, foi criada, onde é hoje a Biblioteca Municipal, a Real Fábrica de Lanifícios de Cascais, quando o Marquês de Pombal, partidário acérrimo das doutrinas mercantilistas (exportar o máximo e importar o mínimo), encorajou de alma e coração a produção nacional. Encerrou definitivamente as suas portas em 1816, após peripécias várias a que estiveram ligados o aumento do preço da matéria-prima, os impostos implacáveis e a invasão do mercado português pelos panos vindos da estranja a preços mais em conta.
Onde é que eu já vi isto?
Mesa-redonda de sucesso
Gostei de assistir, num dos canais televisivos, à mesa-redonda que juntou quatro empresários de sucesso. Bonita mensagem de optimismo nos transmitiram, mormente porque ficou bem claro ter o sucesso saído do suor dos seus rostos e do sábio aproveitamento de oportunidades.
Adorei, então, quando um deles exibiu documento oficial em que se declarava a impossibilidade de financiamento a determinado investimento por, no conjunto de milhões, a despesa de meio euro ali incluída não ser… elegível! Não dá vontade de chorar?
Moda & Moda – nº 105
Mau grado todas as adversidades, a revista (ora) semestral Moda & Moda, criação de Marionela Gusmão, mantém o seu estilo de, através da moda e da beleza, nos fazer calcorrear os caminhos do património e da história!
Destaque, no número deste Inverno, para cinco temas: os marajás e as suas riquezas esplendorosas nas cortes reais da Índia; no coleccionismo, os estojos de costura dos séculos XVIII a XX; a bem ilustrada evocação da imperatriz Josefina, «bisavó das famílias reais europeias»; magnificamente documentada reportagem sobre a majólica, «rainha italiana no tempo dos Humanistas»; joalharia e relojoaria contemporâneas.
Os habituais apontamentos de moda (as peles, por exemplo) e alta-costura, onde nunca sabemos que beleza mais admirar, se a dos modelos vivos se a das roupagens que envergam; os perfumes, «aventuras olfactivas»…
Termina o editorial com um voto natalício: «Que toda esta festa encaminhe a vinda ao mundo de um Homem Novo, que faça nascer alguém maior, muito maior, dentro de cada um de nós». Ámem! – apetece responder!
Egoísta nº 47 (Dezembro 2011)
O tema, a viagem. Por isso, nada melhor para formato que… o de mala de mão! Sempre a surpreender-nos a equipa redactorial desta publicação da Estoril-Sol, dirigida por Mário Assis Ferreira!
Pelos textos e pelas imagens de consagrados autores, somos levados a apreciar Beleza e a extasiar-nos, aqui e além, diante do inesperado.
Neste dealbar de 2012, «é uma viagem estranha, essa que nos aguarda: pela incerteza do ainda desconhecido, pela certeza do já conhecido, pela incógnita do desfecho que, à chegada, nos aguarda», escreve Assis Ferreira. E um voto se formula, no final: vamos «aprender que a felicidade reside na capacidade de saber desejar cada vez menos e na fé de acreditar cada vez mais»!
É um bom voto!
[Publicado no Jornal de Cascais, nº 297, 18-01-2012, p. 4].
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