Se se consultar o dicionário, ler-se-á que isqueiro é a «caixa onde os fumadores guardam a isca». Definição, à primeira vista, bem estranha, para quem isqueiro é objecto comezinho, de todos os dias; contudo, a palavra isqueiro transporta-me a meados do século passado, na nossa terra…
Meu avô paterno fumava cachimbo e não posso imaginá-lo sem ser de cachimbo na boca – sempre! Um fumo diferente, bem cheiroso… Mas o que eu mais admirava era o ritual: o cachimbo acendia-se friccionando o fuzil na pederneira (o sílex pirómaco): a faísca produzida queimava a isca, fruto seco da isqueira, uma planta parecida com o funcho, da família das apiáceas (ou umbelíferas), que ainda hoje cresce espontânea nas nossas terras e cujo nome científico é Cachrys Laevigata. Assoprava-se para ficar em brasa e, rapidamente, o lume ia pegando no tabaco até cobrir a superfície toda, atiçado pelo sorvo a espaços… De seguida, era aspirar de quando em vez, saboreando – que a ciência residia em não deixar apagar! E sempre a carícia quente na mão, do fornilho arredondadamente suave, lustroso, bom…
Mais tarde, nem sempre todas as noutes, ou pela manhã, a operação da limpeza, em ritual também: sopra pela boquilha, raspa bem o fundilho, seca tudo muito bem…
As iscas guardavam-se no isqueiro e havia uma bolsinha de pano a servir de estojo…
Publicado no mensário VilAdentro [S. Brás de Alportel], nº 156 (Janeiro 2012) p. 10.
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