Andarilhos
Dava, na passada edição, os pêsames a D. Idalina Bernardes, pela morte do marido, e, nesta, o voto é que descanse em paz, pois não resistiu a uma queda e faleceu no passado dia 27. O lugar da Torre ficou, pois, mais pobre, nomeadamente no que respeita às suas referências pessoais que fazem a comunidade.
De facto, é, cada vez mais, em torno de um elemento que parte que volta a congregar-se a vizinhança, a tomar consciência de que, afinal, todos temos nos baús da nossa memória muitas jornadas em comum e vale a pena estreitarmos laços. Tempos são, também esses, não só de recordar outros que já partiram, os que estão doentes, sozinhos, e os que, felizmente, vão singrando na vida.
Para mim, de novo, um regresso à infância e à juventude e, nesse caso, uma consciencialização de como, na verdade, somos andarilhos, temo-lo sido sempre e não é preciso virem governantes incitar-nos a emigrar. Também do meu tempo de jovem muita gente acabou por desarvorar daqui em busca de melhor vida. Conversa puxa conversa: o António Rodrigues («Vaca Amarela»), carpinteiro, que andou pela Suíça e pelo Canadá; o Zé Brás (da Areia) que esteve na Holanda; a Rosa do Ti António Fernando, que foi para a Venezuela (era padeiro ali o marido); o Albino Ramos, que está na Pensilvânia; a Maria João, que foi para a Suécia, e o irmão dela, o Albino Angélico Boquinhas Ladino (ainda me lembro do nome dele todo!), que está no Brasil, filhos dos primeiros alentejanos a virem para aqui, o pai era caseiro na Quinta da Bicuda; a Eulália Mendonça, que está na Sérvia… Emigrações de antes do 25 de Abril, algumas agora já de volta, outras que por lá ficaram em definitivo…
Comunidades cujos elos interessa reforçar e que, decerto, com uma pontinha de esforço, somos capazes de rapidamente ultrapassar fronteiras, mormente através das redes sociais. Que para isso elas sirvam!
Iniciativas culturais
Para além da programação cultural levada a cabo pelos serviços camarários, cumpre salientar iniciativas que, pelo seu carácter de continuidade e pelas oportunidades que proporcionam, vale a pena, de quando em vez, referir.
Assim, o Clube Desportivo da Costa do Estoril, de Alapraia, realiza periodicamente saraus musicais, nomeadamente de música clássica, pois que nas suas instalações funciona uma escola de música. Realizou-se um deles na sexta-feira, 27. De quando em vez, poesia e livros. Estou a recordar, de um dos seus associados, Tito Iglesias, uma série de «prosas sobrerrealistas» (o autor acha que não deve dizer-se surrealismo…) a que deu, em livro, o nome de A desVentura de se chamar Ventura, de certo modo um eco da conhecida comédia A Importância de se Chamar Ernesto, escrita por Óscar Wilde em 1895. Detesta frases feitas e lugares-comuns e, por isso, zurze neles e em quem habitualmente os usa, num sarcástico escalpelizar da realidade. Um dos textos, por exemplo, tem por título «A lenda das sereias do Bugio, segundo o seu fabulista, o lascivo Iglesias, escritor da terceira idade (desprezível eufemismo este, verbal cirurgia plástica da decrepitude». Ora aí está!
E já que nos encontramos em meio de literaturas, louve-se, mais uma vez, o dinamismo de Jorge Castro, que teimosamente reúne, uma quinta-feira por mês, na Biblioteca de S. Domingos de Rana, uma tertúlia em torno da poesia, onde todos têm lugar e onde os nossos poetas e artistas (também lá vão cantores e tocadores de instrumentos) mostram o seu virtuosismo. Aplausos!
Centro das Artes Culinárias
Encantou-me, creio que já o disse, o Centro das Artes Culinárias, instalado no Mercado de Santa Clara, em Lisboa, ali paredes-meias com o recinto da Feira da Ladra. Já terminou a exposição sobre aprestos de cozinha, que ali se mostrou durante três meses e que foi um êxito; mas já abriu, no passado dia 27, «Errâncias no Laranjal», a ser vista até 18 de Março, todos os dias, das 10 às 17 (excepto às quartas). E outra surpresa se anuncia: a partir de 7 de Fevereiro, produtos hortofrutícolas recebidos directamente do produtor! Assim se derrota sabiamente esse papão que dá pelo nome de crise. Aconselha-se visita a http://www.centrodasartesculinarias.com/
Boavida Amaro na galeria do Casino
Parece que foi ontem e já passaram 40 anos que ali expõe pela vez primeira! Boavida Amaro volta agora à galeria do Casino: «Retorno» é o oportuno título da sua exposição, a ver pausadamente até dia 21.
[Publicado no Jornal de Cascais, nº 299, 01-02-2012, p. 10].
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