Ao ler, na passada edição, as referências ao novo livro de António Tavares, Ernesto L. Matias, Lda, talvez a alguém hajam causado perplexidade as duas linhas inseridas em subtítulo: «um futuro no passado» e «património e cultura organizacional».
Não se trata, a primeira, de um jogo de palavras, ainda que frequentemente usadas as duas em conjunto: sem passado não há futuro e entre os dois há o presente – sem dúvida, o único importante. Foca a segunda dois aspectos também muito em voga e que urge consciencializar: uma fábrica (o livro refere-se a uma fábrica de utensílios agrícolas sediada em Mangualde) tem um edifício, tem equipamento; e, para funcionar, tem pessoas, que obedecem a um esquema orgânico com vista a objectivos precisos – e isso é a «cultura organizacional», passível de se inserir no que hoje designamos de «património imaterial».
O tema do livrinho foi analisado no âmbito de um mestrado em Gestão e Programação do Património Cultural. Louve-se, pois, não só essa orientação como também as facilidades concedidas pelos proprietários da empresa, que compreenderam o significado da pesquisa e, com outras entidades do concelho, patrocinaram a edição.
Claro que estudo com estas características acarinha um outro projecto a nível geral: mostrar como são relevantes os passos de uma caminhada; e por isso se encara a criação de um núcleo museológico, embora modesto, e a organização de um arquivo que dê conta dessa «cultura organizacional». Há documentos que já não são precisos, que obedecem aos ditames burocráticos vigentes e que, portanto, não detêm interesse de maior; outros, porém, não, porque reveladores de especificidades – e estes poderão trazer luz, mais tarde, sobre como se pensava e se agia, como se resolveu determinado problema que, inclusive, pode voltar a pôr-se.
Mui ajuizadamente escreveu Anabela Guimarães, na «Nota de abertura»: fica-se mais consciente, ao ler este livrinho e outros que lhe sigam o modelo, «de uma empresa com história, de uma marca com significado, que a diferencia das demais». E acrescenta, numa observação prenhe de oportunidade: «Porque a memória traz sentires, emoções, é um silêncio que fala».
Publicado no quinzenário Renascimento [Mangualde], nº 586, 01-02-2012, p. 13.
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