Vivi parte significativa da minha juventude em colégios salesianos. Desse tempo recordo três momentos do dia que exerceram em mim uma influência primordial – e só agora, mais de 50 anos volvidos, é que consciencializo toda a sua real valia!
A primeira parte da refeição era preenchida pela leitura, à maneira dos conventos medievais. Só que não eram livros estritamente piedosos, mas biografias, obras literárias de vulto… Aí se instilava, pois, o gosto pela leitura e se estimulava a imaginação.
Depois do jantar, no pátio, passeava-se de cá para lá, de lá para cá, em torno de um dos professores à nossa escolha, que nos contava histórias da sua vida, que ouvia as nossas… Momento ímpar!
Antes de irmos para a deita, a ‘boa-noite’, breves palavras dum dos professores (do colégio ou que ali estava de passagem, amiúde missionário), a dar também o seu testemunho e a transmitir-nos mensagem de serenidade e sabedoria!
Muito se preconiza, hoje, em bibliotecas e centros de convívio, por exemplo, o espaço «avós e netos», por se reconhecer precisamente, primeiro, que há muitos avós sozinhos e ao abandono, depois, porque é toda uma ciência de vida que eles carreiam consigo. Costuma dizer-se: «Menino, ainda eles vêm em Cacilhas e já eu sei o que eles querem!». E é verdade: a velhice constitui um estádio em que, afinal, se sedimentaram emoções, vidas, experiências… saberes!
Quanto estudei a organização política dos antigos Gregos, admirava-me de terem a Assembleia dos Anciãos, gente com mais de 60 anos e eu dizia de mim para comigo: «Cambada de velhadas!». Seria. Mas tinham uma palavra a dizer!
Tinham então e têm hoje! Com uma diferença, quiçá: outrora, havia quem lhes dava atenção; hoje… assenta-se praça em general! E faz-se gala disso!
É também por esse motivo que continuo a ter uma especial ternura pelos pescadores. Mãos e rostos bem crestados pelo salpicante salgadiço do mar; olhar penetrante; boné protector. Chegam, olham para a ondulação, perscrutam o caminhar das nuvens e… só se arriscam se tudo estiver de maré. E esses sinais aprendem-se, passam de geração em geração! E ai de quem os não queira aprender!
Publicado no quinzenário Renascimento [Mangualde], nº 590, 01-04-2012, p. 13.
Os colégios são locais de grande aprendizagem. E Colegios em Lisboa é algo que se tem. Não sei se são como antigamente mas sei que têm tratado de ensinar os seus alunos e torná-los grandes pessoas. E depois de lido este belo texto, é caso para dizer que cabelos brancos são sinal de sabedoria.
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