Tive ensejo de, na edição de Jornal
da Costa do Sol de 8 de Julho de 1972, dar a notícia, em primeira-mão, do
achado de «um canhão de bronze florentino do século XVII encontrado ao largo do
Cabo Raso». Na informação , veiculada
em grande relevo na última página do jornal, com fotografias, acrescentava-se:
«O precioso achado está na Capitania do Porto de Cascais, aguardando o parecer
duma comissão que ajuizará do seu valor histórico e material».
No texto se fazia desde logo breve
descrição do canhão, recolhido, a 18
de Junho, por José dos Reis Jorge, dono do «Praia da Nazaré», tendo-me demorado
na decifração das duas inscrições
latinas que apresenta: uma, a localizá-lo no tempo de Fernando II, 5º grão-duque
da Etrúria, 1647; a outra, a identificar o fabricante, que eu interpretei como
sendo «Obra do génio florentino João (?) Maria». E acrescentava: «Um canhão que
certamente Cascais teria interesse em possuir, por se tratar de mais um
documento da sua história». As longas diligências deram bom resultado e a
colubrina (assim se caracteriza o canhão) pode hoje ser admirada no Museu do
Mar.
Mendes Atanásio viria a publicar, no
Arquivo de Cascais nº 3 1981/1982
(pp. 9-15), por entretanto se ter encontrado mais um canhão, uma correcção da interpretação
que eu dera: nada garantia, escreveu, que o canhão tivesse sido propriedade
(como eu aventara) de Fernando II e, por outro lado, não deveria ler-se Gennii mas Cennii, ou seja, o fundidor da peça fora o florentino João Maria
Cénio.
Vêm estas considerações a propósito
de outras descobertas se terem feito, de seguida, no local, e agora tudo João
Pedro Cardoso ter compendiado no livro Sobre
os destroços da Gran Principessa di Toscana, naufragada nas imediações do Cabo Raso, Cascais, em boa hora
editado pela Junta de Freguesia de Cascais (2012) e apresentado no final da
tarde da passada sexta-feira, 22 de Junho.
Em representação
do Sr. Presidente, fizeram as honras da casa dois elementos do Executivo: a secretária,
Virgínia Bernardino, que saudou o autor e louvou a iniciativa, explicitando que
do livro, pelo seu interesse, se iria fazer ampla difusão, nomeadamente pelas
escolas da freguesia, e o tesoureiro, José Soares Bernardino. O autor agradeceu
a presença dos que quiseram acompanhá-lo agora e ao longo da preparação do volume, assim como a oportunidade da publicação e, também, a da exposição ,
pois a galeria da Junta abriu portas para mostrar as imagens mais
significativas que ilustram a publicação .
Estiveram presentes muitos dos investigadores
da Arqueologia Subaquática nacional, nomeadamente o Dr. Francisco Alves,
criador da (agora) Divisão de Arqueologia Náutica e Subaquática do IGESPAR,
Francisco Reiner (cuja colecção
esteve na origem do Museu de Mar D. Carlos I), Mário Jorge de Almeid a (investigador do Museu Nacional de
Arqueologia), Jorge Freire (investigador de Arqueologia Subaquática que também
já prestou serviço no Museu do Mar), técnicos do Museu do Mar, entre outros.
O livro, em formato A4, de 68 páginas, profusamente ilustradas, tem prefácio
de Luís Morais Teixeira, que salienta como assim se abre «uma interessante
janela sobre o universo do legado patrimonial subaquático e da sua salvaguarda».
Depois de se traçar uma panorâmica do que foram, até ao momento, as intervenções
no sítio do naufrágio (que se localiza), dá-se conta das fontes escritas existente s acerca
do desastre, manuscritos que se transcrevem (transcrição
da responsabilidade de Paulo Monteiro); e, após esclarecedor capítulo a
introduzir no mundo das designações técnicas, faz-se o catálogo descritivo do
espólio (de que adiante se apresenta o rol) e das ilustrações.
[Publicado no Cyberjornal, na edição de 25-06-2012]
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