Meu pai foi mobilizado para os Açores em 1942-1943. Nunca
tive oportunidade de falar com ele acerca dessa sua permanência em S. Miguel
(creio que foi em S. Miguel), até porque havia, naturalmente, alguma reserva
sobre o que lá se passara, não apenas por meu pai estar então em plena
juventude, mas também porque as dificuldades sofridas decerto lhe não deixaram
saudades e até talvez as tenha esquecido. Recordo, porém, que cantava, amiúde,
dois fados. Um, adaptado depois pela Brigada Victor Jara (com outra melodia,
porém), fala de
Ausência tem
uma filha
Que se chama
Saudade
Eu sustento
mãe e filha
Bem contra a
minha vontade.
Diz-se que é do folclore açoriano.[1]
Saudade e ausência somente porque dos Açores emigrou sempre
muita gente para a América do Norte? Não será também esse um eco da estada de
soldados continentais nas ilhas no decorrer da II Guerra Mundial, mormente após
a instalação da Base Aérea das Lajes, em 1941, para ali enviados em força,
dada, como se sabe, a ameaça de uma eventual ocupação dos Açores? Quem há aí
que já tenha estudado este assunto?
E a razão da minha pergunta prende-se com o outro fado, de
que apenas recordo dois versos e que, em meu entender, mereceria uma reflexão
histórico-sociológica:
Soldado
português, toma cuidado,
Que
aquela que namoras quando fores...
Naturalmente, o quarto verso terminava em Açores; e a
preocupação subjacente nesse fado viria a ter eco, muito mais tarde, na chamada
«guerra colonial», no que às relações amorosas e sentimentais diz respeito. Já
tentei em diversas instâncias obter a letra toda: sem êxito!
Publicado no
quinzenário Renascimento [Mangualde], nº 595, 15-06-2012, p. 10.
[1] Na
página da freguesia de São Sebastião, de Ponta Delgada – http://jfsaosebastiao.com/seccao/6/
[consultada às 19 h. de 20-02-2012] –, aponta-se o poema «Saudade», que começa
por essa quadra, como exemplo de uns dos muitos «balhos e canções
cuja origem se perde na poeira dos tempos», «comuns a outras localidades e/ou
ilhas».
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