terça-feira, 19 de junho de 2012

Açores, II Grande Guerra - Uma história voluntariamente esquecida?

Meu pai foi mobilizado para os Açores em 1942-1943. Nunca tive oportunidade de falar com ele acerca dessa sua permanência em S. Miguel (creio que foi em S. Miguel), até porque havia, naturalmente, alguma reserva sobre o que lá se passara, não apenas por meu pai estar então em plena juventude, mas também porque as dificuldades sofridas decerto lhe não deixaram saudades e até talvez as tenha esquecido. Recordo, porém, que cantava, amiúde, dois fados. Um, adaptado depois pela Brigada Victor Jara (com outra melodia, porém), fala de

Ausência tem uma filha
Que se chama Saudade
Eu sustento mãe e filha
Bem contra a minha vontade.

Diz-se que é do folclore açoriano.[1]
Saudade e ausência somente porque dos Açores emigrou sempre muita gente para a América do Norte? Não será também esse um eco da estada de soldados continentais nas ilhas no decorrer da II Guerra Mundial, mormente após a instalação da Base Aérea das Lajes, em 1941, para ali enviados em força, dada, como se sabe, a ameaça de uma eventual ocupação dos Açores? Quem há aí que já tenha estudado este assunto?
E a razão da minha pergunta prende-se com o outro fado, de que apenas recordo dois versos e que, em meu entender, mereceria uma reflexão histórico-sociológica:

Soldado português, toma cuidado,
Que aquela que namoras quando fores...

Naturalmente, o quarto verso terminava em Açores; e a preocupação subjacente nesse fado viria a ter eco, muito mais tarde, na chamada «guerra colonial», no que às relações amorosas e sentimentais diz respeito. Já tentei em diversas instâncias obter a letra toda: sem êxito!


Publicado no quinzenário Renascimento [Mangualde], nº 595, 15-06-2012, p. 10.




[1] Na página da freguesia de São Sebastião, de Ponta Delgada – http://jfsaosebastiao.com/seccao/6/ [consultada às 19 h. de 20-02-2012] –, aponta-se o poema «Saudade», que começa por essa quadra, como exemplo de uns dos muitos «balhos e canções cuja origem se perde na poeira dos tempos», «comuns a outras localidades e/ou ilhas».

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