Perder-se-á na noite dos tempos o início da actividade do trabalho da pedra em S. Brás. Existia a matéria-prima em abundância; existia a necessidade de se fazerem casas e valados e… o Homem aguçou o engenho!
Foi pouco a pouco inventando os instrumentos que melhor servissem para, das entranhas da terra, se porem os bancos a descoberto (era assim uma espécie de agricultura ao contrário…); depois, para os cortar a preceito, de acordo com os objectivos; em seguida, para os afeiçoar…
A princípio, uma ideia simples de esquadria, para melhor se ajustarem os blocos na parede; contudo, os valores estéticos depressa terão ganhado vulto: no peitoril da janela, na soleira da porta, no baixo-relevo dum portão…
As pedreiras dos Funchais viram, assim, nascer especialistas num labor que requeria experiência e saber. Nas décadas de 30 e 40 do século passado, muitos deles partiram para Marrocos (então francês), onde se levantavam majestosos edifícios públicos e onde os operários são-brasenses aprenderam também novas técnicas. Regressados ao rincão natal, traziam, porém, nas veias essa vontade meridional de andarilhos. E ei-los que aí vão, em debandada, até à península de Lisboa, onde, na década de 40, também novos empreendimentos, do Estado Novo, careciam de obras-primas. Fixaram-se, por exemplo, no concelho de Cascais, onde a tradição do trabalho da pedra também vinha de tempos imemoriais. E ensinaram aos saloios as novas técnicas e com eles outras aprenderam, até porque igualmente de Alcains e dos arredores de Coimbra (a célebre «pedra de Ançã» já afeiçoada na época romana!…) mais canteiros ali afluíram.
Criou-se em Cantanhede o Museu da Pedra; nasceu em Alcains o Museu do Canteiro; fez-se em Cascais, a 18 de Novembro de 2006, um monumento em que se recordaram os anos de oiro da indústria das pedreiras; São Brás e Faro certamente vão dar as mãos para corporizarem algo que – para além do Geoponto dos Funchais – recorde aos vindouros uma ocupação nobre, em que os são-brasenses deram cartas.
A nossa evocação de hoje mais não é, por isso, do que o reavivar de uma memória, a iluminar um património comum que importa valorizar, numa época em que estes valores da terra-mãe precisam de ser acalentados!
Texto incluído no folheto-guia do passeio de 16-03-2008, em S. Brás de Alportel.
domingo, 25 de setembro de 2011
sábado, 24 de setembro de 2011
Andarilhanças 16
Antónia Rama da Silva
Deixou-nos, no passado dia 6, aos 82 anos, D. Antónia Rama da Silva, mãe do nosso prezado colega nestas lides jornalísticas, Rui Rama da Silva, a quem endereçamos sentidos pêsames.
Depois de se ter aposentado da docência, em que sempre foi apreciada pelos colegas e estudantes, pela competência, dinamismo e dedicação ao ensino, D. Antónia continuou a ser exemplo dum espírito que sempre quer aprender mais. Amiúde conversávamos sobre os cursos breves que andava a frequentar, as conferências a que assistia (foi presença habitual durante largos anos nos Cursos Internacionais de Verão de Cascais), os livros que andava a ler…
De trato simples, muito contribuiu para cimentar o espírito de vizinhança no Bairro da Pampilheira, entre cujos moradores mais antigos se contava.
Que descanse em paz, Tia Necas, e que seu exemplo frutifique!
Egoísta
O nº 46 (Junho 2011) da revista Egoísta, editada pela Estoril Sol, tem o traço por tema e abre, em epígrafe, com uma frase de Millôr Fernandes que consubstancia o que, afinal, se pretende com esta sucessão de imagens saídas da pena de ilustres artistas portugueses: «Viver é desenhar sem borracha».
Tem o artista uma visão da realidade; isola partes dela para nos encantar ou, simplesmente, para nos sacudir do torpor e nos obrigar a agarrar a vida, para que… a desenhemos sem necessidade de frequente recurso à borracha!...
Neste número, não há palavras, há quadros: o homem da flauta, que Mário Assis Ferreira pintou aos 7 anos; a energia contagiante e cheia de rostos, do saudoso Malangantana; os instantâneos da Natureza, a lápis, de João Lourenço; o traço minimalista de Júlio Pomar; o exuberante exotismo geométrico de Luís Alves; o grande painel de Ivone Ralha, a ocupar quatro páginas, em jeito de tapeçaria a convidar para um café; o sereno (ou nervoso?) dramatismo negro de Henrique Cayate; a perfeição dos lápis de Marco Mendes, quer na figuração humana quer no retratar arquitectónico; a cidade e as pessoas, de Eduardo Salavisa, a saírem, quais livros, do meio de páginas cinzentas; o torvelinho das cidades de Ricardo Cabral; a serenidade dos olhares de Luís Filipe Cunha; a história desenhada de três samurais, no Japão imperial de 1547, de Rodrigo Prazeres Saias; as aguarelas relaxantes de José Eduardo Agualusa; emaranhadas cabeleiras de Rute Reimão; intrincadas fantasias, num festival de cor, de Joana Vasconcelos; e três pensativos personagens de Ana Mesquita.
Um percurso, um folhear que apetece saborear amiúde!
Atenção à pequenada no Bairro da Pampilheira
Para além da creche, que finalmente entrou em funcionamento no quadro do protocolo assinado pela Junta de Freguesia com a Santa Casa da Misericórdia, saliente-se, com aplauso, a reabilitação do parque infantil junto ao Centro de Dia. Um pavimento de placas sintéticas e fofas substituiu, com inteiro agrado, a areia e os aparelhos foram também recuperados.
Parabéns!
Próxima tarefa da Junta: a Recuperação do parque no Bairro da Assunção!
Querem roubar-nos os pavões!
A biblioteca infanto-juvenil, a área de jogos tradicionais, o quiosque, a caminhada que se propõe, os dois locais de livre acesso à Internet, o Museu dos Condes de Castro Guimarães, as esculturas junto ao parque infantil (repôs-se recentemente a da mãe, que gente inconsciente lograra partir), esse parque e os seus múltiplos aparelhos, a frescura de árvores seculares (algumas delas identificadas, como em jardim botânico) – constituem os grandes atractivos do Parque Marechal Carmona, sobejamente apreciado por nacionais e estrangeiros.
Faltou um dado na enumeração: os animais! Há muito que acabou o minizoo (e eu ainda me lembro de dar amendoins aos macacos e de admirar a velha raposa…); contudo, dele ficaram os pavões, os patos do lago, as tartarugas, os pombos, dizem-me que uma coruja branca anda por lá e algumas aves tropicais já eu vi, as galinhas, galos e pintainhos… São todos eles a alegria da pequenada e aumenta, por isso, dia após dia, a raiva contra as gaivotas que ali, impunemente, matam patinhos, tartaruguinhas e (pasme-se!) devoram os pombos ali à vista de todos, no lago!
Mas, se todos nos encantam, são os pavões e os seus ‘gritos’ um dos ex-líbris do parque. E não é que os estão a levar para outros sítios e, daqui a pouco, nenhum anda por lá? Não ousam as gaivotas comer-lhes as crias, que pavão que se preza lhe dá bicadas fortes; o bicho-homem, porém, está a dar cabo deles! Saberão disso os senhores vereadores, o senhor presidente da Câmara?
Publicado em Jornal de Cascais, nº 282, 21-09-2011, p. 6.
Deixou-nos, no passado dia 6, aos 82 anos, D. Antónia Rama da Silva, mãe do nosso prezado colega nestas lides jornalísticas, Rui Rama da Silva, a quem endereçamos sentidos pêsames.
Depois de se ter aposentado da docência, em que sempre foi apreciada pelos colegas e estudantes, pela competência, dinamismo e dedicação ao ensino, D. Antónia continuou a ser exemplo dum espírito que sempre quer aprender mais. Amiúde conversávamos sobre os cursos breves que andava a frequentar, as conferências a que assistia (foi presença habitual durante largos anos nos Cursos Internacionais de Verão de Cascais), os livros que andava a ler…
De trato simples, muito contribuiu para cimentar o espírito de vizinhança no Bairro da Pampilheira, entre cujos moradores mais antigos se contava.
Que descanse em paz, Tia Necas, e que seu exemplo frutifique!
Egoísta
O nº 46 (Junho 2011) da revista Egoísta, editada pela Estoril Sol, tem o traço por tema e abre, em epígrafe, com uma frase de Millôr Fernandes que consubstancia o que, afinal, se pretende com esta sucessão de imagens saídas da pena de ilustres artistas portugueses: «Viver é desenhar sem borracha».
Tem o artista uma visão da realidade; isola partes dela para nos encantar ou, simplesmente, para nos sacudir do torpor e nos obrigar a agarrar a vida, para que… a desenhemos sem necessidade de frequente recurso à borracha!...
Neste número, não há palavras, há quadros: o homem da flauta, que Mário Assis Ferreira pintou aos 7 anos; a energia contagiante e cheia de rostos, do saudoso Malangantana; os instantâneos da Natureza, a lápis, de João Lourenço; o traço minimalista de Júlio Pomar; o exuberante exotismo geométrico de Luís Alves; o grande painel de Ivone Ralha, a ocupar quatro páginas, em jeito de tapeçaria a convidar para um café; o sereno (ou nervoso?) dramatismo negro de Henrique Cayate; a perfeição dos lápis de Marco Mendes, quer na figuração humana quer no retratar arquitectónico; a cidade e as pessoas, de Eduardo Salavisa, a saírem, quais livros, do meio de páginas cinzentas; o torvelinho das cidades de Ricardo Cabral; a serenidade dos olhares de Luís Filipe Cunha; a história desenhada de três samurais, no Japão imperial de 1547, de Rodrigo Prazeres Saias; as aguarelas relaxantes de José Eduardo Agualusa; emaranhadas cabeleiras de Rute Reimão; intrincadas fantasias, num festival de cor, de Joana Vasconcelos; e três pensativos personagens de Ana Mesquita.
Um percurso, um folhear que apetece saborear amiúde!
Atenção à pequenada no Bairro da Pampilheira
Para além da creche, que finalmente entrou em funcionamento no quadro do protocolo assinado pela Junta de Freguesia com a Santa Casa da Misericórdia, saliente-se, com aplauso, a reabilitação do parque infantil junto ao Centro de Dia. Um pavimento de placas sintéticas e fofas substituiu, com inteiro agrado, a areia e os aparelhos foram também recuperados.
Parabéns!
Próxima tarefa da Junta: a Recuperação do parque no Bairro da Assunção!
Querem roubar-nos os pavões!
A biblioteca infanto-juvenil, a área de jogos tradicionais, o quiosque, a caminhada que se propõe, os dois locais de livre acesso à Internet, o Museu dos Condes de Castro Guimarães, as esculturas junto ao parque infantil (repôs-se recentemente a da mãe, que gente inconsciente lograra partir), esse parque e os seus múltiplos aparelhos, a frescura de árvores seculares (algumas delas identificadas, como em jardim botânico) – constituem os grandes atractivos do Parque Marechal Carmona, sobejamente apreciado por nacionais e estrangeiros.
Faltou um dado na enumeração: os animais! Há muito que acabou o minizoo (e eu ainda me lembro de dar amendoins aos macacos e de admirar a velha raposa…); contudo, dele ficaram os pavões, os patos do lago, as tartarugas, os pombos, dizem-me que uma coruja branca anda por lá e algumas aves tropicais já eu vi, as galinhas, galos e pintainhos… São todos eles a alegria da pequenada e aumenta, por isso, dia após dia, a raiva contra as gaivotas que ali, impunemente, matam patinhos, tartaruguinhas e (pasme-se!) devoram os pombos ali à vista de todos, no lago!
Mas, se todos nos encantam, são os pavões e os seus ‘gritos’ um dos ex-líbris do parque. E não é que os estão a levar para outros sítios e, daqui a pouco, nenhum anda por lá? Não ousam as gaivotas comer-lhes as crias, que pavão que se preza lhe dá bicadas fortes; o bicho-homem, porém, está a dar cabo deles! Saberão disso os senhores vereadores, o senhor presidente da Câmara?
Publicado em Jornal de Cascais, nº 282, 21-09-2011, p. 6.
terça-feira, 20 de setembro de 2011
José Inês Louro (1905-1969)
Certamente a poucos este nome dirá alguma coisa: «Há figuras de indiscutível mérito que, vá lá saber-se porquê, são postergadas, proscritas, votadas ao ostracismo em vida e liminarmente esquecidas após a morte», escreve José Manuel Azevedo e Silva, nas ‘notas preambulares’ à biografia de José Inês Louro a que decidiu lançar mãos. Acrescenta, porém, que coube a Filipe Mendes a missão de «resgatar a memória desse grande gramático, dicionarista, cultor das línguas clássicas (grego e latim) e da língua portuguesa». Por isso, essa biografia, em boa hora editada pela Câmara Municipal de Gouveia, em 2010 [ISBN: 978-989-96785-0-7], detém como subtítulo «A vida, a obra e a memória do médico-filólogo».
138 páginas, a que sugestivamente se seguem três em branco para «Notas do leitor», distribuídas precisamente por esses três tópicos: a vida; a obra, como dicionarista, gramático, filólogo, «historiador da palavra e operário da língua portuguesa» (classificações bem sintomáticas e a despertarem, desde logo, enorme curiosidade) e polemista; e a memória após o falecimento, nas comemorações do 1º centenário do seu nascimento [2005] e depois, a que se acrescentam seis testemunhos de personalidades que com o biografado ou a sua obra tiveram mais chegado contacto. Por fim, a sua bibliografia: 5 livros, 72 artigos e 6 recensões.
Teve vida buliçosa o biografado, natural de Arcozelo da Serra, concelho de Gouveia. E esses altos e baixos historia com minúcia o Doutor Azevedo e Silva, baseando-se em testemunhos orais, em notícias colhidas na imprensa local e regional –uma narrativa que se lê com imenso agrado.
De notar, porém, um pormenor, que detém, nos nossos dias, uma importância capital e que urge salientar, para que outros casos idênticos não aconteçam. Pormenor que – diga-se – está na base de eu ter tido acesso agora a esta obra, na sequência do comentário do autor à nota que eu fizera a propósito da necessidade de se preservar a memória (vide http://notascomentarios.blogspot.com/2011/09/o-escravo-que-era-diligente.html):
«Durante o processo de elaboração do livro, a certa altura pretendi consultar o acervo da sua biblioteca particular e eventuais documentos e papéis pessoais. Fui informado que, no acto das obras de restauração da sua casa do Arcozelo para ser (como foi) transformada em unidade de turismo rural, a sua biblioteca foi junta com o entulho. Uma senhora da aldeia conseguiu salvar 8 livros e o seu precioso caderno de apontamentos de estudante do ensino liceal nocturno.»
E assim se logrou salvaguardar boa parte da vida de um filólogo que prestou relevantes serviços à Cultura Portuguesa, nomeadamente no domínio da língua (foi, por exemplo, um dos dedicados colaboradores do Dicionário da Academia).
Bem andou, por conseguinte, a Câmara Municipal de Gouveia em ter patrocinado a edição, em que, mais uma vez, se documenta como a história geral de um País não pode prescindir dos retalhos da história local e dos seus artífices.
138 páginas, a que sugestivamente se seguem três em branco para «Notas do leitor», distribuídas precisamente por esses três tópicos: a vida; a obra, como dicionarista, gramático, filólogo, «historiador da palavra e operário da língua portuguesa» (classificações bem sintomáticas e a despertarem, desde logo, enorme curiosidade) e polemista; e a memória após o falecimento, nas comemorações do 1º centenário do seu nascimento [2005] e depois, a que se acrescentam seis testemunhos de personalidades que com o biografado ou a sua obra tiveram mais chegado contacto. Por fim, a sua bibliografia: 5 livros, 72 artigos e 6 recensões.
Teve vida buliçosa o biografado, natural de Arcozelo da Serra, concelho de Gouveia. E esses altos e baixos historia com minúcia o Doutor Azevedo e Silva, baseando-se em testemunhos orais, em notícias colhidas na imprensa local e regional –uma narrativa que se lê com imenso agrado.
De notar, porém, um pormenor, que detém, nos nossos dias, uma importância capital e que urge salientar, para que outros casos idênticos não aconteçam. Pormenor que – diga-se – está na base de eu ter tido acesso agora a esta obra, na sequência do comentário do autor à nota que eu fizera a propósito da necessidade de se preservar a memória (vide http://notascomentarios.blogspot.com/2011/09/o-escravo-que-era-diligente.html):
«Durante o processo de elaboração do livro, a certa altura pretendi consultar o acervo da sua biblioteca particular e eventuais documentos e papéis pessoais. Fui informado que, no acto das obras de restauração da sua casa do Arcozelo para ser (como foi) transformada em unidade de turismo rural, a sua biblioteca foi junta com o entulho. Uma senhora da aldeia conseguiu salvar 8 livros e o seu precioso caderno de apontamentos de estudante do ensino liceal nocturno.»
E assim se logrou salvaguardar boa parte da vida de um filólogo que prestou relevantes serviços à Cultura Portuguesa, nomeadamente no domínio da língua (foi, por exemplo, um dos dedicados colaboradores do Dicionário da Academia).
Bem andou, por conseguinte, a Câmara Municipal de Gouveia em ter patrocinado a edição, em que, mais uma vez, se documenta como a história geral de um País não pode prescindir dos retalhos da história local e dos seus artífices.
Os putos
Gostei muito da pose gaiata e feliz do casalinho que foi capa da agenda cultural do Município, São Brás Acontece, do mês de Setembro, em que se dedicou especial atenção ao regresso às aulas.
De mochila às costas, ele de ténis e ela de alpercatas, de calçanitos ambos, olharam para a objectiva do fotógrafo com ar de quem pergunta: «Ficamos bem assim?».
Ela mais altinha, de cabelos loiros e lisos, ele de cabelinho curto e ar matreiro – apanhados na passadeira de tijoleira que os encaminhava para a escola. Cena de ternura, a que não pude deixar de ser sensível e, por isso, dei os parabéns aos responsáveis por tão oportuna escolha. E, confesso, senti um bem comovido nó na garganta, quando me foi respondido:
«Os putos são filhos de um casal de funcionários cá da casa. Ela funcionária da limpeza e ele um dos melhores funcionários dos serviços de ambiente… Filhos de um jovem casal muito humilde e trabalhador, daqueles que convive diariamente com o desafio de dividir o magro orçamento familiar…
Eis a razão deste humilde miminho em período de regresso às aulas!».
Assim se cria comunidade! Assim se dá valor às pessoas!
Aplaudo, pois, com ambas as mãos!
P. S.: Chamam-se os meninos Ariana Fernandes e Isaac Faustino.
De mochila às costas, ele de ténis e ela de alpercatas, de calçanitos ambos, olharam para a objectiva do fotógrafo com ar de quem pergunta: «Ficamos bem assim?».
Ela mais altinha, de cabelos loiros e lisos, ele de cabelinho curto e ar matreiro – apanhados na passadeira de tijoleira que os encaminhava para a escola. Cena de ternura, a que não pude deixar de ser sensível e, por isso, dei os parabéns aos responsáveis por tão oportuna escolha. E, confesso, senti um bem comovido nó na garganta, quando me foi respondido:
«Os putos são filhos de um casal de funcionários cá da casa. Ela funcionária da limpeza e ele um dos melhores funcionários dos serviços de ambiente… Filhos de um jovem casal muito humilde e trabalhador, daqueles que convive diariamente com o desafio de dividir o magro orçamento familiar…
Eis a razão deste humilde miminho em período de regresso às aulas!».
Assim se cria comunidade! Assim se dá valor às pessoas!
Aplaudo, pois, com ambas as mãos!
P. S.: Chamam-se os meninos Ariana Fernandes e Isaac Faustino.
S. Brás e o acordeão ‒ honra ao mérito!
Notícias de S. Braz deu a notícia com algum relevo, na sua edição de Agosto: ao fundo da pág. 8, com fotografia, lá vinha a informação de que Nelson Conceição vencera, na cidade italiana de Pineto (Itália), o prémio para a melhor composição moderna para acordeão; mas vale a pena insistir, dada a sua real importância!
O concurso, que é anual, visa premiar os melhores trabalhos – nas categorias worldmusic, clássico, jaze e composição moderna – produzidos para acordeão, a nível internacional. Nelson Conceição, que é natural de Bordeira (ali paredes-meias com o Corotelo e na raia do concelho de Faro) e reside em Loulé, apresentou a obra, para acordeão-solo, «A moça que gostava de Amália», inspirado no fado ‘Amália’. O júri incluía especialistas da Itália, Rússia, França, Macedónia, Áustria, Ucrânia e Lituânia – tudo países onde a tradição do acordeão é relevante.
Honra, pois, ao mérito, dado que o galardoado já fora premiado, em 2000, com um troféu mundial e mais de duas dezenas de alunos seus também se contam entre os distinguidos em concursos nacionais e internacionais.
Nélson Conceição constitui, pois, um dos expoentes duma área geográfica, em que mui orgulhosamente S. Brás se inclui, onde o acordeão se impõe como instrumento de grande virtuosismo. Uma tradição que felizmente se não tem deixado morrer!
Publicado em Notícias de S. Braz (S. Brás de Alportel), nº 178, Setembro de 2011, p. 15.
O concurso, que é anual, visa premiar os melhores trabalhos – nas categorias worldmusic, clássico, jaze e composição moderna – produzidos para acordeão, a nível internacional. Nelson Conceição, que é natural de Bordeira (ali paredes-meias com o Corotelo e na raia do concelho de Faro) e reside em Loulé, apresentou a obra, para acordeão-solo, «A moça que gostava de Amália», inspirado no fado ‘Amália’. O júri incluía especialistas da Itália, Rússia, França, Macedónia, Áustria, Ucrânia e Lituânia – tudo países onde a tradição do acordeão é relevante.
Honra, pois, ao mérito, dado que o galardoado já fora premiado, em 2000, com um troféu mundial e mais de duas dezenas de alunos seus também se contam entre os distinguidos em concursos nacionais e internacionais.
Nélson Conceição constitui, pois, um dos expoentes duma área geográfica, em que mui orgulhosamente S. Brás se inclui, onde o acordeão se impõe como instrumento de grande virtuosismo. Uma tradição que felizmente se não tem deixado morrer!
Publicado em Notícias de S. Braz (S. Brás de Alportel), nº 178, Setembro de 2011, p. 15.
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
«Da pupila dos meus olhos!»
Confesso que, no momento que decidi iniciar a breve série de apontamentos sobre as mensagens patentes em grafitos do tempo dos Romanos, a ideia teve como origem o facto de, com a Dra. Clara Portas, eu ter estudado um sugestivo grafito achado em Mangualde, na chamada «Citânia da Raposeira». Acabámos mesmo por publicar essa breve nota no nº 45 (1993) da revista Ficheiro Epigráfico (nº 204).
Fora gravado após a cozedura, em gesto corrido, no bojo de uma pequena tigela de loiça fina (a que os arqueólogos dão o nome de terra sigillata), cor alaranjada, 140 milímetros de diâmetro. Peça graciosa, portanto, e de uso doméstico.
Pareceu-nos que se poderia ler OCELLI, ainda que do C apenas restasse a terminação superior, uma vez que dois dos três fragmentos da tigela colavam precisamente aí.
Claro que, tendo em conta o que já aqui se disse acerca do modo como se identificavam os lotes de cerâmica no momento em que se colocavam no forno, o mais normal seria interpretar a palavra como o genitivo de um antropónimo e traduzir «de Océlio», uma vez que se regista, de facto, esse nome, embora muito raro. Contudo, aqui o grafito foi feito após a cozedura! Tinha, por conseguinte, uma intenção bem diferente, sobretudo se pensarmos que estamos perante… uma tigelinha, mesmo a jeito de ser usada como presente!...
Assim o interpretámos, pois. Em latim, a palavra ocellus é o diminutivo de oculus, «olho»; e nas vezes em que o seu uso está documentado envolve-o uma atmosfera de ternura: o Oxford Latin Dictionary aponta-o “in tender or emotional language”, «darling», «pupila dos meus olhos», aplicado «to things that are particularly precious or beautiful». E uma das passagens de Plauto mais citadas neste contexto é: Sine tuos ocellos deosculer, voluptas mea, «Deixa-me beijar ternamente os teus olhinhos, volúpia minha!»…
Daí até à nossa imaginação de um gesto foi pequeno o passo: o amante pegara na taça, nela gravara a palavra e… à amada a entregara: «É tua, pupila dos meus olhos!».
Publicado no quinzenário Renascimento [Mangualde], nº 577, 15-09-2011, p. 13.
...............
Post-scriptum
Permita-se-me que registe, agradecendo-o, novo comentário enviado pelo Doutor Azevedo e Silva:
«Achei engenhosa a interpretação dada ao referido grafito, inscrito numa taça por um anónimo enamorado para depois a oferecer com ternura à sua amada. Fecunda imaginação com sólido lastro do saber específico! Para dizer a verdade, fascinou-me a interpretação. Parabéns.»
Fora gravado após a cozedura, em gesto corrido, no bojo de uma pequena tigela de loiça fina (a que os arqueólogos dão o nome de terra sigillata), cor alaranjada, 140 milímetros de diâmetro. Peça graciosa, portanto, e de uso doméstico.
Pareceu-nos que se poderia ler OCELLI, ainda que do C apenas restasse a terminação superior, uma vez que dois dos três fragmentos da tigela colavam precisamente aí.
Claro que, tendo em conta o que já aqui se disse acerca do modo como se identificavam os lotes de cerâmica no momento em que se colocavam no forno, o mais normal seria interpretar a palavra como o genitivo de um antropónimo e traduzir «de Océlio», uma vez que se regista, de facto, esse nome, embora muito raro. Contudo, aqui o grafito foi feito após a cozedura! Tinha, por conseguinte, uma intenção bem diferente, sobretudo se pensarmos que estamos perante… uma tigelinha, mesmo a jeito de ser usada como presente!...
Assim o interpretámos, pois. Em latim, a palavra ocellus é o diminutivo de oculus, «olho»; e nas vezes em que o seu uso está documentado envolve-o uma atmosfera de ternura: o Oxford Latin Dictionary aponta-o “in tender or emotional language”, «darling», «pupila dos meus olhos», aplicado «to things that are particularly precious or beautiful». E uma das passagens de Plauto mais citadas neste contexto é: Sine tuos ocellos deosculer, voluptas mea, «Deixa-me beijar ternamente os teus olhinhos, volúpia minha!»…
Daí até à nossa imaginação de um gesto foi pequeno o passo: o amante pegara na taça, nela gravara a palavra e… à amada a entregara: «É tua, pupila dos meus olhos!».
Publicado no quinzenário Renascimento [Mangualde], nº 577, 15-09-2011, p. 13.
...............
Post-scriptum
Permita-se-me que registe, agradecendo-o, novo comentário enviado pelo Doutor Azevedo e Silva:
«Achei engenhosa a interpretação dada ao referido grafito, inscrito numa taça por um anónimo enamorado para depois a oferecer com ternura à sua amada. Fecunda imaginação com sólido lastro do saber específico! Para dizer a verdade, fascinou-me a interpretação. Parabéns.»
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
O património urbano
Estranhei quando vi que uma das cadeiras do curso de Turismo da Universidade Lusófona se designava Património Cultural e Urbano. Perguntei-me: «Porquê realçar o ‘urbano’? Não abrange tudo isso a expressão Património Cultural?». Pouco a pouco fui compreendendo, porém, que, de facto, não seria de todo despiciendo salientar a importância do património em contexto urbano – e isso tenho salientado aos meus estudantes.
Recentemente, em informação veiculada pelo ICOM, anunciava-se que Lisboa ia ser, nestes dias, «Capital Mundial dos Museus», dado que «cerca de um milhar e meio de profissionais de museus de quase uma centena de países» vão participar na capital «em três encontros internacionais do Conselho Internacional dos Museus», «acontecimento inédito na história dos museus em Portugal».
E se um dos temas em análise é a conservação – e daí o testemunho de ontem, aqui na ‘museum’, de Pedro Manuel Cardoso, a evocar o trabalho pioneiro, nesse âmbito, do nosso sempre querido mestre Luís Casanovas – não poderá esquecer-se que, no quadro das Jornadas Europeias do Património, iniciativa anual do Conselho da Europa e da União Europeia, a realizar nos dias 23, 24 e 25, o IGESPAR, coordenador nacional da iniciativa, propôs o tema “Património e Paisagem Urbana”, pretendendo «sensibilizar os cidadãos para a necessidade de proteger e valorizar as características da paisagem, nas cidades, vilas e aglomerados urbanos, entendida no seu sentido mais amplo».
Congratulamo-nos, pois, e decerto não será inoportuno recordar que essa é uma das grandes preocupações da Museologia Portuguesa e das pessoas ligadas ao Património. Assim, apenas para dar um exemplo – que foi, na altura, pioneiro – a Dra. Matilde Sousa Franco, então Directora do Museu Nacional de Machado de Castro, deu corpo, em 1981-1983, ao programa «Coimbra antiga e a vivificação dos centros históricos», com as mais diversas iniciativas: exposições, conferências, debates (num deles, sobre precisamente a vivificação dos centros históricos, participaram Siza Vieira e Souto de Moura), seminários, visitas guiadas, projecção de filmes... Data dessa altura o pedido de inscrição do centro histórico da cidade na lista do património mundial da UNESCO.
Num momento em que se mudam chefias e só se fala em redução de custos e, como sempre, aponta-se - ingénua e ignorantemente - para o Património Cultural como um dos domínios em que «há que cortar!», o nosso voto não pode, por conseguinte, deixar de ser: que o bom senso impere e que esta Lisboa, «capital mundial dos museus», saiba mostrar a quem nos governa o que é que isso verdadeiramente significa, mesmo em termos económicos, esses termos do «deve e do haver» que constituem o quotidiano lugar-comum das intervenções políticas actuais.
Publicado na lista 'museum', 15-09-2011
Recentemente, em informação veiculada pelo ICOM, anunciava-se que Lisboa ia ser, nestes dias, «Capital Mundial dos Museus», dado que «cerca de um milhar e meio de profissionais de museus de quase uma centena de países» vão participar na capital «em três encontros internacionais do Conselho Internacional dos Museus», «acontecimento inédito na história dos museus em Portugal».
E se um dos temas em análise é a conservação – e daí o testemunho de ontem, aqui na ‘museum’, de Pedro Manuel Cardoso, a evocar o trabalho pioneiro, nesse âmbito, do nosso sempre querido mestre Luís Casanovas – não poderá esquecer-se que, no quadro das Jornadas Europeias do Património, iniciativa anual do Conselho da Europa e da União Europeia, a realizar nos dias 23, 24 e 25, o IGESPAR, coordenador nacional da iniciativa, propôs o tema “Património e Paisagem Urbana”, pretendendo «sensibilizar os cidadãos para a necessidade de proteger e valorizar as características da paisagem, nas cidades, vilas e aglomerados urbanos, entendida no seu sentido mais amplo».
Congratulamo-nos, pois, e decerto não será inoportuno recordar que essa é uma das grandes preocupações da Museologia Portuguesa e das pessoas ligadas ao Património. Assim, apenas para dar um exemplo – que foi, na altura, pioneiro – a Dra. Matilde Sousa Franco, então Directora do Museu Nacional de Machado de Castro, deu corpo, em 1981-1983, ao programa «Coimbra antiga e a vivificação dos centros históricos», com as mais diversas iniciativas: exposições, conferências, debates (num deles, sobre precisamente a vivificação dos centros históricos, participaram Siza Vieira e Souto de Moura), seminários, visitas guiadas, projecção de filmes... Data dessa altura o pedido de inscrição do centro histórico da cidade na lista do património mundial da UNESCO.
Num momento em que se mudam chefias e só se fala em redução de custos e, como sempre, aponta-se - ingénua e ignorantemente - para o Património Cultural como um dos domínios em que «há que cortar!», o nosso voto não pode, por conseguinte, deixar de ser: que o bom senso impere e que esta Lisboa, «capital mundial dos museus», saiba mostrar a quem nos governa o que é que isso verdadeiramente significa, mesmo em termos económicos, esses termos do «deve e do haver» que constituem o quotidiano lugar-comum das intervenções políticas actuais.
Publicado na lista 'museum', 15-09-2011
Comunicação de proximidade
A circunstância de Jornal de Cascais comemorar, com este número, o seu 6º ano de publicação, regozija-me, enquanto seu colaborador desde os primeiros tempos; acho que estamos a cumprir uma das funções mais importantes da comunicação social local: criar comunidade. Precisaríamos de potenciar a distribuição em papel, para que chegue a toda a gente; mas essa é uma questão a merecer outros apoios. Para já, Jornal de Cascais implantou-se, é lido, comentado e procurado – e isso particularmente nos interessa.
Aniversário é também ensejo para reflexão acerca precisamente dessa função do jornal local – e aqui a minha ‘costela’ de jornalista prende-se com a de ‘historiador’!
A palavra ‘independente’ surge, amiúde, como epígrafe na imprensa local e regional. Postula-se que, para melhor servir a comunidade, o órgão de comunicação esteja isento de ligações políticas, religiosas, económicas, para poder ser o mais possível isento, criticar quando aos seus jornalistas parecer necessária a crítica, louvar quando o louvor se apresente oportuno.
Entra, neste domínio, a publicidade, que é, na maioria dos casos, a principal fonte da sua subsistência. Uma publicidade que nunca deveria envolver condições ou favores. Uma publicidade que, por outro lado, as entidades autárquicas e empresariais deveriam privilegiar, designadamente porque é através da Comunicação Social que se registam actividades e o eco que elas tiveram. E assim se fica a saber, anos mais tarde, o que aconteceu e como – cá está a História a fazer-se!...
Em suma, se os responsáveis pelos órgãos de comunicação não devem ater-se apenas aos comunicados que lhes servem as entidades e limitar-se a transcrevê-los, também se preconiza que os responsáveis autárquicos e empresariais vejam na imprensa local e regional – escrita e falada – o veículo mais adequado para darem a conhecer o que fazem e que gostariam que ficasse perpetuado para o futuro.
Uma última consideração: é ainda muito reduzido, por parte da população, o acesso à Internet e, como as dificuldades económicas vão substancialmente agravar-se (inclusive, e sobretudo, para a classe média), esse acesso será cada vez menor. Ou seja: dado que estamos todos em maré de jornais gratuitos, versões em papel, distribuídas porta a porta ou colocadas em pontos-chave de cada bairro é medida a que urge recorrer.
Publicado em Jornal de Cascais, nº 281, 14-09-2011, p. 6.
Aniversário é também ensejo para reflexão acerca precisamente dessa função do jornal local – e aqui a minha ‘costela’ de jornalista prende-se com a de ‘historiador’!
A palavra ‘independente’ surge, amiúde, como epígrafe na imprensa local e regional. Postula-se que, para melhor servir a comunidade, o órgão de comunicação esteja isento de ligações políticas, religiosas, económicas, para poder ser o mais possível isento, criticar quando aos seus jornalistas parecer necessária a crítica, louvar quando o louvor se apresente oportuno.
Entra, neste domínio, a publicidade, que é, na maioria dos casos, a principal fonte da sua subsistência. Uma publicidade que nunca deveria envolver condições ou favores. Uma publicidade que, por outro lado, as entidades autárquicas e empresariais deveriam privilegiar, designadamente porque é através da Comunicação Social que se registam actividades e o eco que elas tiveram. E assim se fica a saber, anos mais tarde, o que aconteceu e como – cá está a História a fazer-se!...
Em suma, se os responsáveis pelos órgãos de comunicação não devem ater-se apenas aos comunicados que lhes servem as entidades e limitar-se a transcrevê-los, também se preconiza que os responsáveis autárquicos e empresariais vejam na imprensa local e regional – escrita e falada – o veículo mais adequado para darem a conhecer o que fazem e que gostariam que ficasse perpetuado para o futuro.
Uma última consideração: é ainda muito reduzido, por parte da população, o acesso à Internet e, como as dificuldades económicas vão substancialmente agravar-se (inclusive, e sobretudo, para a classe média), esse acesso será cada vez menor. Ou seja: dado que estamos todos em maré de jornais gratuitos, versões em papel, distribuídas porta a porta ou colocadas em pontos-chave de cada bairro é medida a que urge recorrer.
Publicado em Jornal de Cascais, nº 281, 14-09-2011, p. 6.
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
A forja
Claro que trabalho de canteiro requeria forja por perto – e disso nos íamos esquecendo!
É que, na verdade, o trabalho do ferreiro tem muito que se lhe diga, desde a manutenção do fogo ao aparentemente simples aguçar dum ponteiro. Toda uma ciência que não vem nos livros (nem poderia vir!), porque haurida em anos e anos de experiência ciosamente transmitida de pais para filhos ou de amigo para colaborador de confiança.
Parte-se o bico do ponteiro ou fica rombo o corte do escopro? Há que arranjá-lo!
A forja era, habitualmente, uma barraca em pedreira mais ou menos central, para servir as que houvesse derredor
Elemento fundamental a forja propriamente dita, fornalha onde ardia vivo o carvão de pedra, atiçado por um ‘fole’ de manivela. Era nas brasas que se punham as ferramentas, até ficarem em brasa.
Com o martelo, o ferreiro batia-lhes então, a jeito, para obter o que se pretendia. Operação que se repetia duas ou três vezes, porque só quando a ferramenta estivesse em brasa é que tinha a maleabilidade bastante. Não se pode… malhar em ferro frio!...
Ia depois a temperar, numa pia com água. E no tempo desse tempero residia a ciência, para que o aço ficasse a preceito e não partisse à primeira pancada.
Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel], nº 151-152 (Agosto/Setembro 2011), p. 10.
É que, na verdade, o trabalho do ferreiro tem muito que se lhe diga, desde a manutenção do fogo ao aparentemente simples aguçar dum ponteiro. Toda uma ciência que não vem nos livros (nem poderia vir!), porque haurida em anos e anos de experiência ciosamente transmitida de pais para filhos ou de amigo para colaborador de confiança.
Parte-se o bico do ponteiro ou fica rombo o corte do escopro? Há que arranjá-lo!
A forja era, habitualmente, uma barraca em pedreira mais ou menos central, para servir as que houvesse derredor
Elemento fundamental a forja propriamente dita, fornalha onde ardia vivo o carvão de pedra, atiçado por um ‘fole’ de manivela. Era nas brasas que se punham as ferramentas, até ficarem em brasa.
Com o martelo, o ferreiro batia-lhes então, a jeito, para obter o que se pretendia. Operação que se repetia duas ou três vezes, porque só quando a ferramenta estivesse em brasa é que tinha a maleabilidade bastante. Não se pode… malhar em ferro frio!...
Ia depois a temperar, numa pia com água. E no tempo desse tempero residia a ciência, para que o aço ficasse a preceito e não partisse à primeira pancada.
Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel], nº 151-152 (Agosto/Setembro 2011), p. 10.
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
Andarilhanças 14
Forno crematório
Lê-se na página da Câmara Municipal de Cascais a seguinte informação, datada de 3 de Outubro de 2007:
«Cascais deverá ter, em finais de 2008, um novo Complexo Funerário, dotado de forno crematório. A construir junto ao Cemitério de Alcabideche, o equipamento será alvo de concurso público para a concepção, construção e concessão da exploração aprovado esta semana em reunião de Câmara.
O futuro complexo integrará um forno crematório, complexo funerário (com salas de espera, salas para velório e serviços de apoio), capela, parque de estacionamento e zonas de lazer e virá minimizar as crescentes dificuldades registadas em velórios e funerais, bem como oferecer resposta aos pedidos de cremação.»
Lê-se na página da Câmara Municipal de Oeiras:
«No próximo sábado, dia 30 de Abril [de 2011], tem lugar o lançamento da primeira pedra do Forno Crematório e do Centro Funerário de Barcarena, às 11H00, no terreno adjacente ao cemitério local, localizado na Rua Elias Garcia, em Barcarena.
[…]
Trata-se do primeiro forno crematório existente em Oeiras, o qual serve toda a população de dentro e de fora do concelho.
Esta obra, orçada em 990.360,00€, tem a duração de dez meses e é realizada e financiada pela empresa Tomás de Oliveira, na sequência de concurso público lançado pela Junta de Freguesia de Barcarena. Para tal foi celebrado, entre as duas entidades, um contrato de Concessão de concepção, construção, financiamento, Manutenção e exploração do Forno Crematório e do Centro Funerário de Barcarena.»
Conclusão: perdeu Cascais mais uma oportunidade.
Brasão de Alcabideche
«O brasão foi partido por uma condutora de 32 anos às 06:45 horas no passado dia 09/07/2011, que tinha só 1,6 % de álcool no sangue» – esta a informação que me foi dada, quando indaguei do destino do bonito brasão que, na estrada Estoril-Alcoitão, dava as boas-vindas a quem por ali entrava na freguesia de Alcabideche.
A guerra do Ultramar
Em comentário ao que escrevi sobre a necessidade sentida por muitos dos combatentes na «guerra do Ultramar» de passarem a escrito, nomeadamente em livro, o que por lá, em longos meses, viveram, para que conste, para que não se repita, para que o testemunho permaneça… fui contactado pelo Sr. Eng.º António de Almeida Marques, residente em Parede, autor de À Espera de um Domingo em Terras de Angola. Ainda não tive oportunidade de ler o livro; contudo, quis Almeida Marques ter a gentileza de me explicar que fora edição de autor, que por ela pagara uma «importância significativa», que, no entanto, considera «desprezível em comparação com a minha dívida de gratidão para com os meus ex-camaradas a quem modestamente procurei homenagear, pela sua solidariedade e abnegação sem limites, sempre que solicitei o empenhamento total, com risco de vida, nas mais difíceis missões que me foram impostas superiormente e cumpridas todas as vezes, mas com o sentido claro da sua inutilidade pensava eu».
E acrescentou, na missiva que me endereçou (bem haja!), que aí procura retratar, de modo especial, «o dia-a-dia no isolamento total, as angústias, medos e receios da morte, as dores físicas e as outras que não se vêem, as interiores, as da alma, que marcaram uma juventude sacrificada à intolerância de um Ditador».
Praia das Moitas
Tal como se previra, a marina veio introduzir grandes alterações no movimento das águas na baía de Cascais. Bem se avisou dos inconvenientes, mas… havia estudos, simulações e… tudo iria dar certo, sem problemas!...
Queixam-se agora os pescadores desportivos, porque estão «areadas» as rochas até ao Cabo Raso e não há quem consiga apanhar polvos ali. E as praias de Cascais e dos Estoris ora têm areia ora não.
Praia agradável na última semana de Agosto, em que o Verão quis dar um arzinho da sua graça, foi, com bandeira azul, a das Moitas, entre a piscina Alberto Romano e o quebra-mar do Monte Estoril. Simpático ponto de encontro, registou mar de gente e, num dos dias, até muitos cardumes ali vieram, à babugem, fazer saudação aos banhistas. Servida pelo parque de estacionamento à entrada do Parque Palmela e o belíssimo túnel, com azulejos do mestre Nadir Afonso, até nos faz esquecer as Três Parcas que, ameaçadoras, se erguem lá em cima!...
Publicado em Jornal de Cascais, nº 280, 07-09-2011, p. 4.
Lê-se na página da Câmara Municipal de Cascais a seguinte informação, datada de 3 de Outubro de 2007:
«Cascais deverá ter, em finais de 2008, um novo Complexo Funerário, dotado de forno crematório. A construir junto ao Cemitério de Alcabideche, o equipamento será alvo de concurso público para a concepção, construção e concessão da exploração aprovado esta semana em reunião de Câmara.
O futuro complexo integrará um forno crematório, complexo funerário (com salas de espera, salas para velório e serviços de apoio), capela, parque de estacionamento e zonas de lazer e virá minimizar as crescentes dificuldades registadas em velórios e funerais, bem como oferecer resposta aos pedidos de cremação.»
Lê-se na página da Câmara Municipal de Oeiras:
«No próximo sábado, dia 30 de Abril [de 2011], tem lugar o lançamento da primeira pedra do Forno Crematório e do Centro Funerário de Barcarena, às 11H00, no terreno adjacente ao cemitério local, localizado na Rua Elias Garcia, em Barcarena.
[…]
Trata-se do primeiro forno crematório existente em Oeiras, o qual serve toda a população de dentro e de fora do concelho.
Esta obra, orçada em 990.360,00€, tem a duração de dez meses e é realizada e financiada pela empresa Tomás de Oliveira, na sequência de concurso público lançado pela Junta de Freguesia de Barcarena. Para tal foi celebrado, entre as duas entidades, um contrato de Concessão de concepção, construção, financiamento, Manutenção e exploração do Forno Crematório e do Centro Funerário de Barcarena.»
Conclusão: perdeu Cascais mais uma oportunidade.
Brasão de Alcabideche
«O brasão foi partido por uma condutora de 32 anos às 06:45 horas no passado dia 09/07/2011, que tinha só 1,6 % de álcool no sangue» – esta a informação que me foi dada, quando indaguei do destino do bonito brasão que, na estrada Estoril-Alcoitão, dava as boas-vindas a quem por ali entrava na freguesia de Alcabideche.
A guerra do Ultramar
Em comentário ao que escrevi sobre a necessidade sentida por muitos dos combatentes na «guerra do Ultramar» de passarem a escrito, nomeadamente em livro, o que por lá, em longos meses, viveram, para que conste, para que não se repita, para que o testemunho permaneça… fui contactado pelo Sr. Eng.º António de Almeida Marques, residente em Parede, autor de À Espera de um Domingo em Terras de Angola. Ainda não tive oportunidade de ler o livro; contudo, quis Almeida Marques ter a gentileza de me explicar que fora edição de autor, que por ela pagara uma «importância significativa», que, no entanto, considera «desprezível em comparação com a minha dívida de gratidão para com os meus ex-camaradas a quem modestamente procurei homenagear, pela sua solidariedade e abnegação sem limites, sempre que solicitei o empenhamento total, com risco de vida, nas mais difíceis missões que me foram impostas superiormente e cumpridas todas as vezes, mas com o sentido claro da sua inutilidade pensava eu».
E acrescentou, na missiva que me endereçou (bem haja!), que aí procura retratar, de modo especial, «o dia-a-dia no isolamento total, as angústias, medos e receios da morte, as dores físicas e as outras que não se vêem, as interiores, as da alma, que marcaram uma juventude sacrificada à intolerância de um Ditador».
Praia das Moitas
Tal como se previra, a marina veio introduzir grandes alterações no movimento das águas na baía de Cascais. Bem se avisou dos inconvenientes, mas… havia estudos, simulações e… tudo iria dar certo, sem problemas!...
Queixam-se agora os pescadores desportivos, porque estão «areadas» as rochas até ao Cabo Raso e não há quem consiga apanhar polvos ali. E as praias de Cascais e dos Estoris ora têm areia ora não.
Praia agradável na última semana de Agosto, em que o Verão quis dar um arzinho da sua graça, foi, com bandeira azul, a das Moitas, entre a piscina Alberto Romano e o quebra-mar do Monte Estoril. Simpático ponto de encontro, registou mar de gente e, num dos dias, até muitos cardumes ali vieram, à babugem, fazer saudação aos banhistas. Servida pelo parque de estacionamento à entrada do Parque Palmela e o belíssimo túnel, com azulejos do mestre Nadir Afonso, até nos faz esquecer as Três Parcas que, ameaçadoras, se erguem lá em cima!...
Publicado em Jornal de Cascais, nº 280, 07-09-2011, p. 4.
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
O escravo que era diligente
Sabe-se, de vez em quando, que numa lixeira ou num recanto qualquer se encontram livros, papéis abandonados, que mente curiosa adregou olhar para eles e verificar serem, alfim, documentos de interesse para a história duma terra, duma empresa, duma família…
Hoje, que o espaço falta e a documentação digital ganha preponderância, esse problema do cada vez maior abandono da memória consignada em documentos de papel pode assumir gravidade – porque um Povo, um concelho, uma família sem memória perdem as suas raízes e acabam por ter dificuldade em planear futuro.
Aquando do 25 de Abril, a memória ardeu em fogueiras! Remodelações administrativas, falecimentos e subsequentes querelas sucessórias… alimentam as lixeiras de agora, inexoravelmente trituradas para reciclagem depois. E morre a História!
Por isso rejubilam os arqueólogos quando deparam com uma lixeira antiga, manancial de mui preciosa informação. E, como temos visto, até os cacos lhes interessam! Diligentemente tentam colá-los, para reconstituírem as formas originais e, sobretudo, para completarem eventuais grafitos nelas existentes.
Assim aconteceu numa escavação em Alter do Chão, no Verão de 2009. A telha estava partida em pedaços; vislumbravam-se rabiscos; procuraram-se cuidadosamente todos os pedacinhos na terra dali retirada e… o milagre aconteceu: a inscrição reconstituiu-se! E assim ficámos a saber que o escravo, operário da olaria romana decidira ser diligente, há dois mil anos atrás, e, não contente com ir anotando a quantidade de telhas que ia fazendo, escreveu que se chamava Vernaculus e que trabalhava na olaria de Castor, situada em Abeltirium (o nome romano de Alter do Chão)!
Abençoado!
Publicado no quinzenário Renascimento [Mangualde], nº 576, 01-09-2011, p. 13.
................
Post-scriptum
Teve o Doutor José Manuel Azevedo e Silva, meu prezado colega na Faculdade de Letras de Coimbra, a gentileza de me enviar, por correio electrónico, no passado dia 6, o seguinte comentário:
«Grato pelas "Notas e Comentários" sobre o artigo "O escravo que era diligente", publicado no Renascimento, de Mangualde, meu concelho natal [...].
O artigo é exemplar em vários aspectos, nomeadamente no estilo e no conteúdo. A história da telha romana de Alter do Chão é fabulosa. Sugere-nos a epifania de um milagre. De igual modo pertinente é a chamada de atenção para a destruição de documentos que calam para sempre a voz da História.
A propósito, refiro uma experiência pessoal idêntica. Fui convidado pela Câmara Municipal de Gouveia para escrever um livro sobre uma figura ilustre, mas quase desconhecida, natural de Arcozelo da Serra, falecida há cerca de 50 anos. O livro foi publicado no ano passado e tem por título José Inês Louro. A Vida, a Obra e a Memória do Médico-Filólogo.
Apaixonei-me, de certo modo, pela referida figura, porque a sua vida e formação científica têm muitos pontos de contacto com a minha: foi sempre trabalhador-estudante ou, dito de outro modo, trabalhou para poder estudar e formar-se em Medicina, no Porto, em 1934. Investigador por natureza, com publicações já no tempo de estudante, trocou a Medicina pela Filologia, vivendo, até ao fim da vida, da magra mesada de Bolseiro do Instituto de Alta Cultura. E, no entanto, foi um dicionarista, um gramático, um ensaísta, em suma, um investigador de elevado nível, especialista reconhecido do Grego e do Latim.
Durante o processo de elaboração do livro, a certa altura pretendi consultar o acervo da sua biblioteca particular e eventuais documentos e papéis pessoais. Fui informado que, no acto das obras de restauração da sua casa do Arcozelo para ser (como foi) transformada em unidade de turismo rural, a sua biblioteca foi junta com o entulho. Uma senhora da aldeia conseguiu salvar 8 livros e o seu precioso caderno de apontamentos de estudante do ensino liceal nocturno.»
Hoje, que o espaço falta e a documentação digital ganha preponderância, esse problema do cada vez maior abandono da memória consignada em documentos de papel pode assumir gravidade – porque um Povo, um concelho, uma família sem memória perdem as suas raízes e acabam por ter dificuldade em planear futuro.
Aquando do 25 de Abril, a memória ardeu em fogueiras! Remodelações administrativas, falecimentos e subsequentes querelas sucessórias… alimentam as lixeiras de agora, inexoravelmente trituradas para reciclagem depois. E morre a História!
Por isso rejubilam os arqueólogos quando deparam com uma lixeira antiga, manancial de mui preciosa informação. E, como temos visto, até os cacos lhes interessam! Diligentemente tentam colá-los, para reconstituírem as formas originais e, sobretudo, para completarem eventuais grafitos nelas existentes.
Assim aconteceu numa escavação em Alter do Chão, no Verão de 2009. A telha estava partida em pedaços; vislumbravam-se rabiscos; procuraram-se cuidadosamente todos os pedacinhos na terra dali retirada e… o milagre aconteceu: a inscrição reconstituiu-se! E assim ficámos a saber que o escravo, operário da olaria romana decidira ser diligente, há dois mil anos atrás, e, não contente com ir anotando a quantidade de telhas que ia fazendo, escreveu que se chamava Vernaculus e que trabalhava na olaria de Castor, situada em Abeltirium (o nome romano de Alter do Chão)!
Abençoado!
Publicado no quinzenário Renascimento [Mangualde], nº 576, 01-09-2011, p. 13.
................
Post-scriptum
Teve o Doutor José Manuel Azevedo e Silva, meu prezado colega na Faculdade de Letras de Coimbra, a gentileza de me enviar, por correio electrónico, no passado dia 6, o seguinte comentário:
«Grato pelas "Notas e Comentários" sobre o artigo "O escravo que era diligente", publicado no Renascimento, de Mangualde, meu concelho natal [...].
O artigo é exemplar em vários aspectos, nomeadamente no estilo e no conteúdo. A história da telha romana de Alter do Chão é fabulosa. Sugere-nos a epifania de um milagre. De igual modo pertinente é a chamada de atenção para a destruição de documentos que calam para sempre a voz da História.
A propósito, refiro uma experiência pessoal idêntica. Fui convidado pela Câmara Municipal de Gouveia para escrever um livro sobre uma figura ilustre, mas quase desconhecida, natural de Arcozelo da Serra, falecida há cerca de 50 anos. O livro foi publicado no ano passado e tem por título José Inês Louro. A Vida, a Obra e a Memória do Médico-Filólogo.
Apaixonei-me, de certo modo, pela referida figura, porque a sua vida e formação científica têm muitos pontos de contacto com a minha: foi sempre trabalhador-estudante ou, dito de outro modo, trabalhou para poder estudar e formar-se em Medicina, no Porto, em 1934. Investigador por natureza, com publicações já no tempo de estudante, trocou a Medicina pela Filologia, vivendo, até ao fim da vida, da magra mesada de Bolseiro do Instituto de Alta Cultura. E, no entanto, foi um dicionarista, um gramático, um ensaísta, em suma, um investigador de elevado nível, especialista reconhecido do Grego e do Latim.
Durante o processo de elaboração do livro, a certa altura pretendi consultar o acervo da sua biblioteca particular e eventuais documentos e papéis pessoais. Fui informado que, no acto das obras de restauração da sua casa do Arcozelo para ser (como foi) transformada em unidade de turismo rural, a sua biblioteca foi junta com o entulho. Uma senhora da aldeia conseguiu salvar 8 livros e o seu precioso caderno de apontamentos de estudante do ensino liceal nocturno.»
domingo, 4 de setembro de 2011
Escoural - Uma Gruta Pré-Histórica no Alentejo
Foi apresentada, no passado dia 30 de Julho, a monografia Uma Gruta Pré-Histórica no Alentejo – Escoural, da autoria de António Carlos Silva, acto que assinalou também o fim de diversas obras de melhoramento na gruta e sua envolvente promovidas pela Direcção Regional de Cultura do Alentejo (DRCALEN).
De mui excelente concepção gráfica, é edição daquela Direcção Regional e o autor teve também a colaboração de António Martinho Baptista. Fotografias (a cores e a preto e branco), magníficas; os desenhos, mui elucidativos! 143 páginas densas de informação, mas que se devoram num ápice!
Após um primeiro capítulo em que se dá conta do que foram os difíceis e titubeantes passos desde a descoberta da gruta até ao seu reconhecimento internacional, historia-se miudamente o que foram cinco décadas de investigação, nas suas três fases: as escavações do Museu Etnológico (1963-1968); o reconhecimento do santuário rupestre exterior e as escavações no povoado calcolítico (1977-1984), a cooperação luso-belga e o projecto de valorização (1989-1993).
O capítulo seguinte constitui o fulcro do volume, pois que aí se assinala o que, do ponto de vista científico, o achamento desta gruta e os trabalhos nela desenvolvidos permitiram conhecer acerca dos caçadores neandertais, da sua arte parietal, e o caminho para a primeira utilização da agricultura como forma de subsistência, e o que nos conta o espaço exterior…
Finalmente, a colaboração de A. Martinho Baptista para oportunas considerações de comparação entre esta arte rupestre e o que se encontrou no Vale do Côa, concluindo:
«Não sendo uma gruta com uma grande decoração pictórica, mas com muitas gravuras incisas e até algumas picotagens, o Escoural integra-se bem no grande ciclo da arte paleolítica ocidental, trazendo outra luz ao melhor conhecimento da nossa arte paleolítica de ar livre».
Ficamos, assim, mais ricos. E estão de parabéns o Autor e a DRCALEN!
A Gruta do Escoural situa-se na freguesia de Santiago do Escoural, concelho de Montemor-o-Novo.
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Andarilhanças 13
Caixa Geral de Depósitos, Cascais
Agência principal, no Edifício S. José, em pleno coração da vila. 1 de Agosto. Tirei a senha às 10.34 h para fazer um depósito que não podia ser feito na Caixautomática. Indicou-me que tinha 15 pessoas à minha frente. Sentei-me quando tive um lugar livre e ocupei o meu tempo a escrever, a planear e..a ouvir as queixas repetidas dos clientes diante dos 10 guichés de que apenas 5 tinham funcionários e, destes, só 4 atendiam o público. Só uma caixa, porém, para depósitos. Fui atendido às 11.20 h.
Uma inteligência normal saberia aplicar a máxima dos senhores ingleses: «Tempo é dinheiro». Mas… de inteligências normais andamos mui necessitados!
Festas do Mar
Grande êxito de afluência, a demonstrar, pelo menos, duas razões: programação do agrado da população; presença de muita gente em Cascais, os residentes que optaram por não demandar outras paragens e muitos turistas também. Num momento em que, por todo o País, se festejou – este ano mais do que nunca e sabe-se bem porquê… – um «Agosto a gosto», Cascais não deixou, assim, os seus créditos por mãos alheias. E o parque de estacionamento do Marechal Carmona (agora já pago) foi, mui louvavelmente, aberto à população.
Houve também a Feira do Artesanato. Dessa, porém, não posso falar, porque não conseguiram os responsáveis aliciar-me a isso e provarem-me, por exemplo, que seria diferente dos anos anteriores. Aliás – e que se me perdoe se estou errado – não vi por aí publicidade nem o dia da inauguração teve aquela pompa d’outrora, que bom pretexto era sempre para reencontro dos que velam e zelam pelo turismo local.
Novo logótipo da Câmara Municipal de Cascais
Sem alardes, sofreu leve modificação o logótipo da Câmara Municipal de Cascais: o C (que tanto pode ser de Cascais como de Carreiras como já o pudera ser de Capucho) tem novo desenho e acrescentou-se o dístico «Elevado às Pessoas».
Parece-me bem, num momento em que os poderes instituídos e os senhores que mandam (porque podem) de um modo geral não ligam importância às pessoas, que tratam como números. Queixava-se alguém que soubera pela Comunicação Social que não seria reconduzido nas funções que desempenhava. É prática corrente, essa, em todos os quadrantes políticos e a todos os níveis, desde o mais elevado. Uma simples chamada telefónica ou um sms ou um e-mail: «Amanhã, deixa de estar em funções. Arrume as suas coisinhas e vá-se embora».
Que Cascais volte, pois, a ser exemplo – e se eleve às pessoas!
Aliás, gosto particularmente do verbo e do seu significado último: ao tratar os munícipes como pessoas, o Executivo eleva-se, não se rebaixa! As pessoas estão no alto!
Não posso deixar de vivamente me congratular!
Um ginásio na Guia
Também sem alarde (que eu tenha visto) se implantaram aparelhos para a prática de exercícios físicos no miradouro da Guia. Aparelhos simples, sólidos (na esperança de que a gandulagem os não estrague), para uns 30 minutos de pausa e de manutenção. Abençoada ideia!
Creio que os aparelhos do paredão irão sofrer também alguma remodelação, entretanto, uma vez que boa parte deles carece de manutenção.
Congratulo-me por este inteligente apelo à população para que usufrua do espaço público – que muito há por aí para espairecer. Em todos os bairros e lugares!
AAS – o boletim
Chama-se Os Antigos Alunos, vai na sua 13ª série, e – como publicação periódica dos Antigos Alunos Salesianos do Estoril – dá conta das suas actividades. Realce, neste número de Julho passado, a reportagem sobre o 59º Dia Nacional do Antigo Aluno de D. Bosco, que se realizou no Estoril a 18 de Junho. Cento e vinte participantes vindos de vários centros do País, desde o Funchal a Poiares da Régua!...
D. Diogo de Meneses
Saudei com todo o gosto o senhor D. Diogo de Meneses, imortalizado em estátua de bronze, da autoria de Augusto Cid, no jardim fronteiro à Cidadela de Cascais. Ali está, discreto, desde 18 de Maio do ano passado, mas merece, de facto, uma saudação especial, ainda que já ali esteja há tantos meses. Heróico defensor da fortaleza de Cascais, quando, em 1580, os espanhóis, desembarcados na Laje do Ramil (ali ao pé do actual Laboratório Marítimo da Guia), nele encontraram o primeiro foco de resistência, que lhe valeu a morte.
Digna homenagem que faltava a um dos nossos heróis!
Campeonato de Portugal da Juventude
De 5 a 7 de Agosto, com a habitual solenidade e brilhantismo, decorreu no Hipódromo Manuel Possolo, em Cascais. Uma das poucas iniciativas deixadas à Sociedade Propaganda de Cascais, que, desde os tempos da fundação, ao hipismo tem dado o melhor do seu entusiasmo.
Jorge Marcel (1931-2011)
A inexistência de uma rádio de proximidade e de órgãos de informação com uma rede de correspondentes ligados à comunidade faz com que só mui tardiamente algumas notícias se saibam, mormente aquelas que dizem respeito às pessoas naturais do concelho e que nele tiveram alguma acção relevante. Vai faltando memória!... Louve-se, por isso, a introdução na rubrica «Breves» do nº 51 (Julho/Agosto) da Agenda Cultural do município, de uma nota, na pág. 6, evocativa do passamento, a 14 de Março (!), do pintor cascalense Jorge Marcel.
Se, regressado a Cascais já na década de 80, o passámos a ver amiúde nas manifestações culturais do concelho, sempre com alguma irreverência, a imagem que mais dele guardo é a dos anos 60, altura em que Cascais fervilhou no domínio das Artes, inclusive com o incondicional apoio de Joaquim Miguel de Serra e Moura, presidente da Junta de Turismo da Costa do Sol. Nessa altura, a Junta sabia já o que era o turismo cultural e a sua galeria nas Arcadas, a fazer pirraça (passe a expressão) à galeria do Casino, tinha apertado programa de exposições e era ponto de encontro dos mais conceituados artistas plásticos da nossa praça. Jorge Marcel estava nesse grupo, que frequentemente tinha as suas tertúlias no café Boca do Inferno.
Que descanse em paz!
Publicado em Jornal de Cascais, nº 279, 31-08-2011, p. 4.
Agência principal, no Edifício S. José, em pleno coração da vila. 1 de Agosto. Tirei a senha às 10.34 h para fazer um depósito que não podia ser feito na Caixautomática. Indicou-me que tinha 15 pessoas à minha frente. Sentei-me quando tive um lugar livre e ocupei o meu tempo a escrever, a planear e..a ouvir as queixas repetidas dos clientes diante dos 10 guichés de que apenas 5 tinham funcionários e, destes, só 4 atendiam o público. Só uma caixa, porém, para depósitos. Fui atendido às 11.20 h.
Uma inteligência normal saberia aplicar a máxima dos senhores ingleses: «Tempo é dinheiro». Mas… de inteligências normais andamos mui necessitados!
Festas do Mar
Grande êxito de afluência, a demonstrar, pelo menos, duas razões: programação do agrado da população; presença de muita gente em Cascais, os residentes que optaram por não demandar outras paragens e muitos turistas também. Num momento em que, por todo o País, se festejou – este ano mais do que nunca e sabe-se bem porquê… – um «Agosto a gosto», Cascais não deixou, assim, os seus créditos por mãos alheias. E o parque de estacionamento do Marechal Carmona (agora já pago) foi, mui louvavelmente, aberto à população.
Houve também a Feira do Artesanato. Dessa, porém, não posso falar, porque não conseguiram os responsáveis aliciar-me a isso e provarem-me, por exemplo, que seria diferente dos anos anteriores. Aliás – e que se me perdoe se estou errado – não vi por aí publicidade nem o dia da inauguração teve aquela pompa d’outrora, que bom pretexto era sempre para reencontro dos que velam e zelam pelo turismo local.
Novo logótipo da Câmara Municipal de Cascais
Sem alardes, sofreu leve modificação o logótipo da Câmara Municipal de Cascais: o C (que tanto pode ser de Cascais como de Carreiras como já o pudera ser de Capucho) tem novo desenho e acrescentou-se o dístico «Elevado às Pessoas».
Parece-me bem, num momento em que os poderes instituídos e os senhores que mandam (porque podem) de um modo geral não ligam importância às pessoas, que tratam como números. Queixava-se alguém que soubera pela Comunicação Social que não seria reconduzido nas funções que desempenhava. É prática corrente, essa, em todos os quadrantes políticos e a todos os níveis, desde o mais elevado. Uma simples chamada telefónica ou um sms ou um e-mail: «Amanhã, deixa de estar em funções. Arrume as suas coisinhas e vá-se embora».
Que Cascais volte, pois, a ser exemplo – e se eleve às pessoas!
Aliás, gosto particularmente do verbo e do seu significado último: ao tratar os munícipes como pessoas, o Executivo eleva-se, não se rebaixa! As pessoas estão no alto!
Não posso deixar de vivamente me congratular!
Um ginásio na Guia
Também sem alarde (que eu tenha visto) se implantaram aparelhos para a prática de exercícios físicos no miradouro da Guia. Aparelhos simples, sólidos (na esperança de que a gandulagem os não estrague), para uns 30 minutos de pausa e de manutenção. Abençoada ideia!
Creio que os aparelhos do paredão irão sofrer também alguma remodelação, entretanto, uma vez que boa parte deles carece de manutenção.
Congratulo-me por este inteligente apelo à população para que usufrua do espaço público – que muito há por aí para espairecer. Em todos os bairros e lugares!
AAS – o boletim
Chama-se Os Antigos Alunos, vai na sua 13ª série, e – como publicação periódica dos Antigos Alunos Salesianos do Estoril – dá conta das suas actividades. Realce, neste número de Julho passado, a reportagem sobre o 59º Dia Nacional do Antigo Aluno de D. Bosco, que se realizou no Estoril a 18 de Junho. Cento e vinte participantes vindos de vários centros do País, desde o Funchal a Poiares da Régua!...
D. Diogo de Meneses
Saudei com todo o gosto o senhor D. Diogo de Meneses, imortalizado em estátua de bronze, da autoria de Augusto Cid, no jardim fronteiro à Cidadela de Cascais. Ali está, discreto, desde 18 de Maio do ano passado, mas merece, de facto, uma saudação especial, ainda que já ali esteja há tantos meses. Heróico defensor da fortaleza de Cascais, quando, em 1580, os espanhóis, desembarcados na Laje do Ramil (ali ao pé do actual Laboratório Marítimo da Guia), nele encontraram o primeiro foco de resistência, que lhe valeu a morte.
Digna homenagem que faltava a um dos nossos heróis!
Campeonato de Portugal da Juventude
De 5 a 7 de Agosto, com a habitual solenidade e brilhantismo, decorreu no Hipódromo Manuel Possolo, em Cascais. Uma das poucas iniciativas deixadas à Sociedade Propaganda de Cascais, que, desde os tempos da fundação, ao hipismo tem dado o melhor do seu entusiasmo.
Jorge Marcel (1931-2011)
A inexistência de uma rádio de proximidade e de órgãos de informação com uma rede de correspondentes ligados à comunidade faz com que só mui tardiamente algumas notícias se saibam, mormente aquelas que dizem respeito às pessoas naturais do concelho e que nele tiveram alguma acção relevante. Vai faltando memória!... Louve-se, por isso, a introdução na rubrica «Breves» do nº 51 (Julho/Agosto) da Agenda Cultural do município, de uma nota, na pág. 6, evocativa do passamento, a 14 de Março (!), do pintor cascalense Jorge Marcel.
Se, regressado a Cascais já na década de 80, o passámos a ver amiúde nas manifestações culturais do concelho, sempre com alguma irreverência, a imagem que mais dele guardo é a dos anos 60, altura em que Cascais fervilhou no domínio das Artes, inclusive com o incondicional apoio de Joaquim Miguel de Serra e Moura, presidente da Junta de Turismo da Costa do Sol. Nessa altura, a Junta sabia já o que era o turismo cultural e a sua galeria nas Arcadas, a fazer pirraça (passe a expressão) à galeria do Casino, tinha apertado programa de exposições e era ponto de encontro dos mais conceituados artistas plásticos da nossa praça. Jorge Marcel estava nesse grupo, que frequentemente tinha as suas tertúlias no café Boca do Inferno.
Que descanse em paz!
Publicado em Jornal de Cascais, nº 279, 31-08-2011, p. 4.
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