Estranhei quando vi que uma das cadeiras do curso de Turismo da Universidade Lusófona se designava Património Cultural e Urbano. Perguntei-me: «Porquê realçar o ‘urbano’? Não abrange tudo isso a expressão Património Cultural?». Pouco a pouco fui compreendendo, porém, que, de facto, não seria de todo despiciendo salientar a importância do património em contexto urbano – e isso tenho salientado aos meus estudantes.
Recentemente, em informação veiculada pelo ICOM, anunciava-se que Lisboa ia ser, nestes dias, «Capital Mundial dos Museus», dado que «cerca de um milhar e meio de profissionais de museus de quase uma centena de países» vão participar na capital «em três encontros internacionais do Conselho Internacional dos Museus», «acontecimento inédito na história dos museus em Portugal».
E se um dos temas em análise é a conservação – e daí o testemunho de ontem, aqui na ‘museum’, de Pedro Manuel Cardoso, a evocar o trabalho pioneiro, nesse âmbito, do nosso sempre querido mestre Luís Casanovas – não poderá esquecer-se que, no quadro das Jornadas Europeias do Património, iniciativa anual do Conselho da Europa e da União Europeia, a realizar nos dias 23, 24 e 25, o IGESPAR, coordenador nacional da iniciativa, propôs o tema “Património e Paisagem Urbana”, pretendendo «sensibilizar os cidadãos para a necessidade de proteger e valorizar as características da paisagem, nas cidades, vilas e aglomerados urbanos, entendida no seu sentido mais amplo».
Congratulamo-nos, pois, e decerto não será inoportuno recordar que essa é uma das grandes preocupações da Museologia Portuguesa e das pessoas ligadas ao Património. Assim, apenas para dar um exemplo – que foi, na altura, pioneiro – a Dra. Matilde Sousa Franco, então Directora do Museu Nacional de Machado de Castro, deu corpo, em 1981-1983, ao programa «Coimbra antiga e a vivificação dos centros históricos», com as mais diversas iniciativas: exposições, conferências, debates (num deles, sobre precisamente a vivificação dos centros históricos, participaram Siza Vieira e Souto de Moura), seminários, visitas guiadas, projecção de filmes... Data dessa altura o pedido de inscrição do centro histórico da cidade na lista do património mundial da UNESCO.
Num momento em que se mudam chefias e só se fala em redução de custos e, como sempre, aponta-se - ingénua e ignorantemente - para o Património Cultural como um dos domínios em que «há que cortar!», o nosso voto não pode, por conseguinte, deixar de ser: que o bom senso impere e que esta Lisboa, «capital mundial dos museus», saiba mostrar a quem nos governa o que é que isso verdadeiramente significa, mesmo em termos económicos, esses termos do «deve e do haver» que constituem o quotidiano lugar-comum das intervenções políticas actuais.
Publicado na lista 'museum', 15-09-2011
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
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