Creio poder
afirmar que, este ano, me deliciei na praia.
Escolhi
a Praia das Moitas, em frente daquelas arquitectónicas
caixas cinzentas soberbamente implantadas no bem bonito ajardinamento vegetal
que nos encanta.
Punha-se
a viatura no parque explorado pela Cascais Próxima, para evitar a gananciosa
argúcia dos vermelhos sempre à cata de prazos ultrapassados. Poderia ser um
tudo-nada mais barato, o parque, mas, enfim, é o que temos!
Percorria-se
com o olhar os sempre magníficos azulejos do Nadir Afonso que embelezam o túnel
e, mais umas passadas no paredão, lá se estava na prainha que a marina, por ter
alterado as correntes, mui gostosamente nos veio proporcionar.
Tem
muitas rochas, de facto; não se consegue nadar na vazante, mas vêem-se os
peixes; e nada-se na enchente e nos intervalos, que é um regalo!
O entretenimento
Lembrei-me de falar
da época estival, porque, ali, as águas estavam limpas. O pessoal entretinha-se
a apanhar conchinhas com as crianças; de quando em vez, lá aparecia uma estrela-do-mar;
alforrecas raras...
E,
de pequeninos camaroeiros em punho, tentava-se apanhar desprevenidos pequeninos
camarões ou algum dos muitos peixinhos que ali passeavam em cardume. Sim, os
grandes também os havia, mas não valia a pena tentar…
Chegámos
a ter no balde uma babosa pachorrenta, de olhos salientes e barbatanas como
leques, os dois buraquinhos das guelras a abrir e a fechar compassadamente… Devido
ao seu extraordinário mimetismo, mal se distinguia do fundo arenoso.
Claro,
no final, tudo voltava, ritualmente, ao habitat natural!
Os salvados
O
mais giro foram os salvados: três pares de óculos achou a Noémia; eu, uma
prótese dentária (!) e uma moeda de um cêntimo; houve uma roda de bicicleta e uma
bola de futebol, esta já em mau estado de conservação.
Nada
de plásticos, porém, e isso me consolou, ao lembrar uma notícia que em tempos
recortara e que rezava assim:
«A foto mostra uma
imensa baleia, que morreu após ingerir mais de 17 quilos de diferentes tipos de
plástico. A autópsia mostrou ainda que o material era proveniente de estufas do
Sul de Almeria e Granada, em Espanha. Agricultores que produzem tomates atiram
as embalagens ao mar.
Apesar das
suas 50 toneladas e dos seus 14
metros de comprimento, poucos quilos de plástico foram
suficientes para a matar».
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Baleia morta por asfixia, devido aos plásticos ingeridos... |
As tatuagens
Direi, todavia,
que – isto de ser jornalista tem o seu quê!... – um dos meus passatempos
favoritos, para além, claro, do nadar e do caminhar à beira-mar, foi observar
os banhistas, por causa da grande novidade: as tatuagens!
Não
foi moda deste ano, bem no sei; contudo, notabilizou-se este Verão de 2016 pela
enorme variedade de estilos, de motivos e de localizações (sim, porque se
estava de fato-de-banho e mínima porção
do corpo ficava tapada…). Vimos, por exemplo, uma família que falava francês
(aliás, também nos encantou o facto de a língua francesa ter recomeçado a ser
ouvida entre nós…), onde toda a minha gente estava profusamente tatuada em
todas as partes visíveis do corpo, desde o avô, a avó, o pai, a mãe, as filhas e
creio até que uma das netinhas já tinha um desenhinho qualquer.
Sempre
me intrigaram os grafitos que, de vez em quando, surgem nas nossas paredes.
Soam-me a mensagens esotéricas, passíveis apenas de serem compreendidas pelos «do
grupo». Agora, esoterismo, esoterismo foi o que eu mais depreendi das tatuagens
que me foi dado ver de relance na Praia das Moitas! De borboletas, lagartos,
flores, cobras, génios alados, personagens dos desenhos animados, vá que não
vá, a gente entende! Agora, ele havia grafismos de tal modo abstractos e
estranhos, que – tal como os arqueólogos dizem quando não entendem bem o
significado de um objecto… – aquilo deve ser religião estranha, mística do
outro mundo!...
Enfim,
momentos bem passados estes, num Verão que, felizmente para os cascalenses,
decorreu sem catástrofes e bem recheadinho de turistas!...
José d’Encarnação
Publicado em Costa do Sol Jornal, nº 155, 14-09-2016, p. 6.