Aqui estou sentado
na pedra lavada
de ventos cortada
de águas batida.
Hesita,
sereno, o Sol no além…
Há melros, pardais,
pio solto lançado,
em adeus de «até breve!» –
que amanhã, bem no sabem,
outro dia virá!
Aqui estou sentado
na pedra lavada
por águas batida
por ventos cortada!
Não quero ver horas,
não quero ter pressas,
não quero aviões!...
Valados
de pedra solta,
abrunhos
roxos silvestres,
amoras
jovens lembranças,
lagartixas
d’olhos doces…
E
os bois lavravam a terra,
alvéloas
seguiam atrás,
olor
a ventre fecundo,
qual
deus de regaço em flor…
Visão encantada d’outrora,
na tarde que ora se esconde.
Este
condão guardam as terras de xisto,
saudosas,
hoje, de bois e de arvelas,
de relhas de arado e de grão a
acolher
no
quente aconchego dum seio maternal.
Mas…
há nó na garganta,
a voz já não sai
pra gritar esp’rança,
gritar comunhão…
E há que gritar!
Cascais,
12-02-2013
José d’Encarnação
Publicado em O Sol é Secreto [poetas
celebram Eugénio de Andrade]. Edição
da Câmara Municipal do Fundão e da Casa de Poesia Eugénio de Andrade. Fundão, 2019.
[ISBN: 978-072-8959-4-0]. p. 84-85.